Onde tudo começou

2 0 0
                                    

Paris sempre foi um sonho para mim. Não só pelas paisagens encantadoras ou pela culinária requintada, mas pela sensação de liberdade e reinvenção que a cidade parecia oferecer. Como designer de interiores, cada detalhe arquitetônico, cada cor e textura das ruas de Paris me inspiravam profundamente. Quando meu chefe anunciou que eu representaria a empresa em uma conferência internacional de design na França, mal podia conter a minha ansiedade.
Nunca fui boa em esconder minhas emoções, então não foi surpresa que meus colegas imediatamente souberam da novidade. Passei a semana anterior à viagem planejando cada detalhe, desde os lugares que queria visitar até as roupas que levaria. Sempre fui detalhista, talvez até um pouco obsessiva, mas Paris merecia isso.
***
Depois de um voo exaustivo, finalmente cheguei ao Hotel Le Meurice. O saguão era opulento, com lustres de cristal pendendo do teto e móveis de veludo marrom espalhados com elegância. O ambiente exalava um luxo discreto, um reflexo perfeito da sofisticação parisiense. Mal tive tempo de deixar as malas no quarto antes de descer para o saguão, onde um coquetel de boas-vindas estava sendo realizado para os participantes da conferência.
Descendo a escadaria de mármore, um misto de nervosismo e animação tomava conta de mim. A cada passo meu coração parecia que ia sair pela minha boca. Usando um elegante vestido seda preta e meus saltos favoritos, me senti confiante. Aproximando-me do bar para pegar uma taça de champanhe, notei um homem alto, de cabelos castanhos escuros bem cortados e olhos verdes penetrantes, que também parecia estar sozinho também.
— Bonjour! Bebendo champanhe essa hora? —com um sorriso caloroso. — Meu nome é Marc e você, mademoiselle?
— Clara — respondi, sentindo um arrepio inesperado ao ouvir a voz dele. — É tão ruim assim? Acho que estou animada demais com a viagem. Sou do Brasil e você?
— Sou francês, mas de Lyon, cidade pequena. E o que traz uma brasileira tão linda a Paris? — Marc perguntou, claramente interessado.
— A conferência de design de interiores. Estou aqui representando a empresa em que trabalho — expliquei, tentando esconder o quanto estava impressionada com a beleza dele.
— Interessante. Sou arquiteto e também estarei na conferência. Talvez possamos trocar algumas ideias sobre nossos projetos — ele sugeriu, seu sorriso se ampliando.
— Claro! Podemos sim. É a minha primeira vez vindo em um evento desse tamanho, então estou bem ansiosa. Me fala sobre o seu trabalho.
Conversamos durante toda a noite, rindo e compartilhando histórias sobre nossas vidas e carreiras. Marc, um arquiteto francês com um talento incrível para transformar espaços em algo moderno e vibrante sem tirar a beleza histórica do lugar, me encantou completamente. Discutimos projetos, trocamos ideias e nos perdemos um do outro enquanto a noite avançava.
A conferência foi ainda mais inspiradora do que eu esperava. As palestras, os workshops, tudo parecia abrir novas possibilidades na minha mente, mas mesmo com tanta informação interessante, minha mente frequentemente voltava para Marc. Ele aparecia em minha mente nos momentos mais inesperados, como uma distração agradável, mas constante. Seria só mais uma aventura? Ou algo a mais poderia sair dali?
No segundo dia da conferência, durante o intervalo para o almoço, Marc me encontrou no saguão do hotel.
— Bonjour, Clara. Já almoçou? — perguntou ele, sorrindo de um jeito que fez meu coração derreter.
— Ainda não. Alguma sugestão? — respondi, tentando parecer casual, me sentando no sofá ao lado dele.
— Tenho um lugar perfeito em mente. Vem comigo? — disse ele, estendendo a mão.
Aceitei sem hesitar. Nada melhor do que conhecer a real Paris na companhia de um francês. Marc me levou a um pequeno bistrô escondido em uma rua tranquila. O local era acolhedor, com mesas de madeira rústica e plantas penduradas no teto. O aroma de comida fresca enchia o ar, e o ambiente era exatamente o que eu imaginava quando pensava em um almoço parisiense perfeito.
— Este é um dos meus lugares favoritos — disse Marc enquanto nos sentávamos. — Gosto de vir aqui para pensar e relaxar.
— É lindo e a comida parece incrível — respondi, folheando o cardápio.
— Você vai adorar. Eu garanto — ele disse, seus olhos brilhando de entusiasmo.
O almoço foi delicioso, mas a conversa foi ainda melhor. Marc e eu discutimos nossas paixões, nossos sonhos e o que nos motivava. Senti uma conexão intensa com ele, algo que nunca havia experimentado antes.
Enquanto os dias passavam, Marc e eu passávamos cada vez mais tempo juntos. Sempre que tínhamos um tempo livre da conferência, ele me levava a locais escondidos, longe das áreas turísticas, onde pude realmente sentir a alma de Paris. Visitamos pequenas galerias de arte, charmosos cafés, museus enormes e parques tranquilos. Cada lugar tinha sua própria magia, e cada momento com Marc parecia mais especial do que o anterior. Paris já era inesquecível para mim.
Em uma dessas noites, sentados em frente a Torre Eiffel iluminada, Marc tocou meu rosto, me olhou nos olhos como se pedisse permissão e aproximou seus lábios dos meus. Compartilhamos um beijo delicado que selou esse dia tão especial.
— Clara, tenho algo especial planejado para esta noite — disse Marc, segurando minha mão enquanto caminhávamos pelo Champs-Élysées.
— O que é? — perguntei, minha curiosidade despertada. Não curto muito surpresas, mas nesse caso estava aberta para o que ia acontecer.
— Você verá. É uma surpresa — ele respondeu misteriosamente, seu sorriso enigmático aumentando minha ansiedade.
Marc me levou ao hotel onde eu estava hospedada. Chegando lá nos direcionamos até o restaurante do hotel. Marc ainda segurando a minha mão, comentou algo com o gerente do espaço de uma forma que eu não consegui decifrar e saiu logo em seguida.
— O que você está aprontando? — perguntei, sorrindo como uma boba cheia de curiosidade.
— Você vai ver! — falou Marc, enquanto apertou minhas mãos de leve e beijou uma delas.
O gerente apareceu novamente e nos chamou para acompanhá-lo até uma porta. Ele saiu e nos deixou a sós, quando o Marc falou:
— Não sabemos se vamos nos ver de novo, então quero que tudo seja especial — declarou abrindo a porta aos poucos.
Quando percebi, fui imediatamente transportada para uma era de opulência e grandeza, como se tivesse entrado em um dos grandes palácios da Renascença. O ambiente era vasto e majestoso, com tetos altos adornados com detalhes que retratam cenas mitológicas e figuras nobres, todas emolduradas por intrincados estuques dourados.
Os lustres de cristal pendem do teto, as janelas, com suas pesadas cortinas de veludo carmesim, emolduradas por borlas douradas, o piso era um espetáculo à parte, coberto por tapetes persas ricos em detalhes e cores vibrantes, que contrastam elegantemente com o mármore polido de tons creme e ouro. No centro da sala, tinha apenas uma mesa de madeira escura, com superfícies de mármore e duas cadeiras, estofadas em damasco e seda, com padrões florais em tons de vermelho, verde e dourado.
Definitivamente, parecia que eu tinha entrado em outro espaço-tempo. O jantar já estava servido e tinha água e vinho na mesa para nos servirmos. Parecia realmente um sonho. O jantar foi uma sinfonia de sabores, o prato estava realmente delicioso e o vinho combinava perfeitamente. Estava completamente anestesiada. Como não se apaixonar por esse homem? Por essa cidade? Após tantas conversas, fomos ao meu quarto rindo como bobos, depois de algumas garrafas de vinho, sempre nos tocando e nos abraçando a cada momento. Não tenho dúvidas que todos que trabalhavam no hotel estavam notando o que estava acontecendo. Tentávamos de uma forma totalmente ineficaz disfarçar o que queríamos.
Ao chegar na porta do quarto, Marc me colocou no braço, de frente para ele com minhas pernas em volta da sua cintura, me beijou de uma forma voraz e enquanto abria a porta do quarto, falou:
— Você não faz ideia do quanto eu te desejei o dia inteiro. — De olhos fechados e ainda com seus lábios colados nos meus.
Dei um leve sorriso ao escutá-lo e senti claramente o quanto ele estava animado enquanto pressionava meu corpo no dele. Como bebemos muito vinho, eu não conseguia pensar direito e só desejava aquele homem ali comigo. Dentro de mim.
Eu estava vestida com uma saia curta preta e uma blusa social branca, quando ele me colocou por cima da mesa que tinha no quarto, enquanto deslizava sua língua na minha em um beijo vigoroso. Tudo que aconteceu depois, foi tão intenso que acho que esquecemos algo.
Infelizmente, eu acreditava que todas as coisas boas tinham um fim. Sabia que meu tempo em Paris estava se encerrando e o peso da realidade começou a se infiltrar. Prometemos manter contato, mas ambos sabíamos que as chances eram escassas.
Logo pela manhã, já no aeroporto, enquanto me preparava para embarcar no voo de volta ao Brasil, Marc segurou minha mão e olhou nos meus olhos.
— Não importa onde você esteja, Paris sempre será nosso lugar especial — ele afirmou, antes de me dar um último beijo.
Enquanto me afastava com o coração pesado, mas cheio de memórias inesquecíveis, mal sabia que essa viagem mudaria minha vida para sempre. No avião de volta para o Brasil, eu não conseguia parar de pensar em Marc e em como a vida poderia ter sido diferente se tivesse mais tempo em Paris. Poucos meses depois, eu receberia uma notícia que mudaria completamente o rumo da minha vida.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Sep 05 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Recomeços do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora