Satoru Gojo
— O que está fazendo aqui, sr. Gojo? — rosna o homem de meia-idade, entre dentes, e me aperta com mais força. — Outra vez em território proibido a alunos?Meu coração dispara. Afasto sua mão para longe e me esquivo da parede, deixando de ficar encurralado. Me volto para trás rapidamente, garantindo que Naobito e a enfermeira estão mesmo fora de vista.
Me viro para Tengen outra vez.
— Você fala como se eu tivesse deliberadamente ido até a piscina pra ser assassinado — rebato, numa voz sussurrada e rouca. Embora a ameaça na forma do sr. Zenin tenha passado, a
atmosfera macabra do túnel me mantém alerta.O homem cruza os braços e semicerra os olhos em minha direção, desconfiança maculando as rugas de sua testa.
— E agora, o que aconteceu? Um aluno te arrastou até aqui? — Seu tom é tão prepotente, tão acusatório, que me esqueço do medo por um segundo.
— Ninguém me arrastou até aqui, vim por conta própria.
— Como achou esta passagem?
— Ela não tá exatamente escondida. — Aponto na direção da biblioteca muito, muito ao longe. — Os dois ambientes estão
conectados. Se vocês não quisessem mesmo que eu chegasse até aqui, teriam colocado a droga de um aviso.— Quem é vocês?
Hesito.— Você, os professores, o diretor. Todos os funcionários da Masters.
Ele bufa.
— Acha que eu tenho o mesmo poder de decisão que os professores ou o diretor?
— E não tem? — Faço um péssimo trabalho em disfarçar minha confusão.
— Sou só um trabalhador descartável. Sigo ordens de cima. E uma delas é impedir que alunos cheguem ao subsolo.
Dou uma olhada ao redor.
— Subsolo? Estamos embaixo do castelo, então?
— Não é óbvio? — retruca o velho, irritadiço.
— E por que a biblioteca, entre todos os locais, dá acesso ao subsolo do castelo?
Ele revira os olhos.
— E quem vai saber o que se passava na cabeça das pessoas que construíram esse lugar?
— Bem, se o seu trabalho é manter alunos longe daqui, você é terrível nisso.
— Não pedi a sua opinião sobre o meu trabalho. Agora, o importante é que não deveria estar aqui, sr. Gojo.
— Por quê?
— Como assim, por quê?
— Por que eu não devia estar aqui? — Dou um passo em sua direção, fitando-o profundamente. — O que existe nestes
corredores escuros pra fazer com que o diretor, ou seja lá quem for, implemente uma regra como essa?O zelador descruza os braços e cerra os punhos.
— Nada — diz numa voz ríspida, quase gutural.
E isso faz o medo retornar. Ainda não estou fora de perigo, não posso me esquecer disso. Nenhum adulto aqui é confiável — com a exceção de Fushiguro.
Mordo o lábio, desvio o olhar para o chão e me finjo de complacente.
— Eu só tava tentando encontrar meu irmão. Meu irmão, sabe? Aquele que ainda está desaparecido na escola em que você
trabalha. O que acha que vai acontecer quando a polícia souber disso e souber que você foi negligente quanto ao desaparecimento dele? — Enquanto falo, caminho para o lado, trilhando um círculo em volta do zelador, até estar de costas para o caminho que leva à biblioteca e ele estar de costas para a encruzilhada. Há mais segurança nessa posição. Se Naobito
retornar, não poderá me surpreender.— E o que espera que eu faça? — pergunta o homem de cabelos grisalhos, um lado de seu rosto iluminado pela tocha mais próxima, o outro completamente envolto em escuridão, exatamente como o rosto do demônio da floresta.
— Espero que me ajude a descobrir o que aconteceu com ele.
— Vou ajudá-lo agora, te deixando sair dessa sem punição. Mas só dessa vez, e apenas se prometer não fazer isso de novo. — Ele aponta um indicador em minha direção, o semblante um tanto ofensivo. — Estou falando sério, sr. Gojo.
Expiro fundo. Argumentar com esse homem foi uma perda de tempo colossal.
— Obrigado por nada.
Dou meia-volta e caminho até a biblioteca, deixando o zelador para trás, nas entranhas do subsolo deste lugar amaldiçoado. Não olho para trás durante todo o caminho, mas não consigo me desfazer da sensação incômoda de ter seu olhar preso à minha nuca.
Antes de deixar a biblioteca, no entanto, paro e reflito.
Encontrar este túnel talvez tenha sido a melhor coisa que me aconteceu até agora.
Me dirijo até a seção de mapas cartográficos e apanho um mapa de bolso, detalhado, da ilha. Todas aquelas
competições de cartografia na escola finalmente servirão para algo.Aperto o mapa em minhas mãos. Agora sei o que fazer.
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-» Entre neblina e desejo / Satosugu
Romansa- A Academia Masters é um dos internatos mais prestigiados dos Estados Unidos. Escondido em uma ilha na costa da Flórida e cercado por muros impenetráveis, o internato recebe novas turmas anualmente. Mas, além dos alunos, abriga segredos sinistros e...