Desarmado

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Acordar em casa nunca teve um significado tão doce até aquele momento. Alex estava ao meu lado, e era a primeira vez que ele ficava depois de uma noite juntos. Enquanto o sol da manhã filtrava-se pelas cortinas, eu o observei dormir, admirando cada detalhe de seu rosto iluminado por um pequeno raio de luz.

Era a primeira vez que via Alex desarmado, sem as máscaras do dia a dia. Ele era tão lindo; seu corpo, limpo e perfeitamente esculpido, me deixava sem palavras. Não havia tatuagens para distraírem o olhar, apenas a suavidade de sua pele. Um anel prateado com o símbolo de um lobo adornava seu dedo, e eu não resisti a passar meus dedos sobre o símbolo, tentando decifrar os mistérios que ele guardava.

Enquanto encarava seu rosto sereno, me perdi em pensamentos até que ele finalmente abriu os olhos. "Porque está me observando dormir?" Ele perguntou, sua voz ainda sonolenta.

Fechei os olhos rapidamente, tentando disfarçar. "Não estou te observando," respondi com um sorriso tímido.
"Hum," ele disse, se levantando da cama. "Preciso ir antes que seu pai acorde." Eu não conseguia desviar o olhar enquanto ele se vestia, admirando cada movimento.
"Vai para Nova York?" perguntei, tentando parecer desinteressada.
"Vou aproveitar que estou aqui e resolver algumas coisas da C4," ele respondeu casualmente.
"Aqui na Califórnia?" minha curiosidade aumentou.
"Sim, há alguns meses abrimos uma filial aqui. Aliás, é bom te manter longe de brigas de bares," ele brincou, piscando para mim.
"Não tem graça," ri levemente.
"Aliás, quero que volte comigo. Nos falamos mais tarde," Alex disse enquanto saia do quarto, fechando a porta com cuidado.

Fiquei ali por um momento, com o coração acelerado e uma mistura de emoções. Era uma manhã comum que prometia ser extraordinária.

Passamos a tarde toda juntos e foi incrível ver esse lado de Alex. Ele se mostrou muito mais do que apenas o garoto bonito que conheci; era engraçado, prestativo e tinha uma energia contagiante. Enquanto ele ajudava meu pai com a cerca, eu aproveitei para preparar um lanche especial. O cheiro do pão fresco e da manteiga derretendo misturava-se com as risadas que ecoavam do jardim.

De repente, enquanto eu espalhava a manteiga nos pães, senti uma mão na minha cintura, me fazendo dar um salto de susto. "Alex!" eu exclamei, virando-me rapidamente para encará-lo.

Ele estava ali, com um sorriso travesso no rosto, segurando um dos pães que eu acabara de preparar. "Ei! Isso é falta de educação," eu disse, dando um tapa na mão dele de forma brincalhona.

"Vai negar um pão para a visita?" Alex retrucou, fazendo uma expressão de falsa indignação que me fez rir.

Nesse momento, meu pai entrou na cozinha, tossindo levemente para que nós dois notássemos sua presença. Ele estava com uma expressão divertida no rosto, como se estivesse gostando da interação entre nós.

Alex rapidamente se afastou, como se estivesse sendo pego em flagrante. "Vou deixar vocês dois a sós," ele disse com um sorriso maroto antes de sair da cozinha. Meu pai tocou seu ombro amigavelmente e trocou algumas palavras rápidas com ele.

Fiquei sozinha por um instante, rindo da situação. A atmosfera leve e descontraída me fazia sentir bem. Enquanto terminava de preparar o lanche, não pude deixar de pensar em como a tarde estava se desenrolando de forma tão perfeita. Alex havia trazido uma nova energia para aquele dia comum e agora tudo parecia mais vibrante.

Quando meu pai voltou à cozinha, ele olhou para mim com um sorrisinho no rosto. "Quando ia me contar de você e Alex?" meu pai pergunta, com um sorriso travesso no rosto, como se já soubesse a resposta.
"Ham?!" eu exclamo, surpresa. "É claro! Você sempre sabe de tudo," eu digo, tentando esconder a timidez que crescia em mim. O olhar dele, cheio de curiosidade e carinho, fazia meu coração acelerar.
"Filha, eu ainda sei de algumas coisas," meu pai responde rindo. "Fico feliz que tenha encontrado alguém. Ele parece um garoto bom."
"Ele é..." eu digo, lembrando do jeito como Alex havia me olhado naquela tarde ensolarada. Havia algo especial nele, uma conexão que era difícil de explicar.
"O que houve?" meu pai pergunta, percebendo minha hesitação. "Ele não te faz feliz?" Sua voz carinhosa trazia à tona uma preocupação genuína.
"É complicado," eu falo, olhando para o chão por um instante. "Mas depois da mamãe, as coisas parecem se encaixar agora." A saudade dela sempre estava ali, mas algo em Alex me fazia sentir que havia esperança.
Meu pai suspira, como se estivesse refletindo sobre suas próprias experiências. "Às vezes, o que precisamos é de um pouco de aventura em nossa vida," ele diz com uma sabedoria que só vem com o tempo.
"Só tenha cuidado," ele diz então, voltando seu olhar para mim. "O coração é uma coisa delicada." Há uma leveza em sua voz que me faz sentir segura.

Mais tarde, naquele dia, o sol começava a se esconder no horizonte, tingindo o céu de laranja e rosa. Era hora de dizer adeus. Enquanto arrumava minhas malas, um nó se formou em minha garganta. Cada peça de roupa que eu colocava na mochila carregava consigo uma lembrança dos momentos passados naquela casa, onde cada canto guardava fragmentos da minha vida.

Olhei ao redor do meu quarto, que sempre fora meu refúgio. As paredes estavam adornadas com fotos e desenhos que contavam histórias da minha infância. Um sorriso involuntário surgiu ao lembrar das tardes em que eu e minha mãe nos sentávamos juntas para pintar ou fazer trabalhos manuais. Mas a saudade logo se misturou à tristeza.

Meus olhos foram atraídos para o quadro de minha mãe, que pendia na parede emoldurado com carinho. Ela sorria para mim, com aquele olhar caloroso e encorajador que sempre me fazia sentir protegida. Senti uma onda de emoção percorrer meu corpo; era como se ela estivesse ali, me dizendo para seguir em frente, para aproveitar essa nova jornada ao lado de Alex.

Com um suspiro profundo, me aproximei do quadro e toquei a moldura suavemente. "Eu vou fazer isso por nós," murmurei, sentindo as lágrimas ameaçarem escorregar pelo meu rosto. "Vou viver essa aventura e levar você comigo em cada passo."

A luz suave do entardecer filtrava-se pela janela, criando uma aura mágica no ambiente. Cada detalhe da casa parecia vibrar com a energia das memórias—o cheiro do jantar que minha mãe costumava preparar, o som das risadas que ecoavam nos corredores e a sensação acolhedora de estar em família.

Quando finalmente terminei de arrumar as malas, olhei mais uma vez para cada canto do meu quarto, gravando tudo na memória: a estante cheia de livros que me transportaram a lugares distantes, o tapete macio onde tantas vezes eu me sentara para sonhar acordada. Era um adeus temporário; eu sabia que voltaria.

Ao sair do quarto, fechei a porta lentamente atrás de mim, como se estivesse selando uma parte da minha história. Eu estava pronta para partir, levando comigo não apenas as lembranças da minha infância, mas também a força e o amor da minha mãe.

Desci as escadas, o coração acelerado, e encontrei Alex me esperando lá embaixo, ao lado do meu pai. Ele sempre teve um jeito complicado de se expressar, com um olhar que muitas vezes parecia distante, como se estivesse lutando para traduzir seus sentimentos em palavras. Seu semblante era marcado por uma feiura que, de alguma forma, trazia uma autenticidade rara—uma beleza que não se encontrava em rostos perfeitos, mas nas nuances de sua personalidade.

"Vou esperar lá fora," disse Alex, quebrando o silêncio com sua voz rouca e direta. Ele saiu da sala sem olhar para trás, como se a ideia de despedidas o deixasse desconfortável. Era assim que ele lidava com as emoções—com uma espécie de escudo que o protegia da vulnerabilidade.

Voltei meu olhar para o meu pai, que estava ali, forte e presente. "Pai, acho que isso é exatamente o que eu precisava," confessei, a voz embargada pela emoção. Ele sorriu para mim, um sorriso que carregava promessas silenciosas e amor incondicional.

"Vou estar sempre aqui para te lembrar de quem você é," meu pai respondeu com firmeza. As palavras dele ressoaram dentro de mim como um mantra reconfortante. Ele me envolveu em um abraço apertado, aquele abraço que sempre soube como dissipar minhas inseguranças e medos.

Antes de entrar no carro, parei por um momento e olhei para trás. O sorriso do meu pai iluminava seu rosto cansado, mas cheio de orgulho. Ele acenou levemente, como se dissesse: "Você está pronta." Aquela imagem ficou gravada na minha mente—um símbolo da força que eu carregaria comigo.

Entrei no carro com um misto de ansiedade e esperança. O motor roncou suavemente enquanto eu olhava pela janela, sentindo a brisa fresca do início da noite.

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⏰ Última atualização: Aug 27 ⏰

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