Mabel Morgans sempre sentiu que a vida na elite era um desafio. Irmã mais nova do tão respeitado Elijah Morgans, e filha de pais poderosos, entretanto, ela nunca se encaixou.
Apesar disso, a garota com seus recém dezenove anos completos é ciente qu...
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Mabel Morgans
— Errado — Riven corrige pela quinta vez, enquanto toco o piano. Sua voz é firme, carregada de um tom paciente que contradiz a frustração que sinto.
Suspiro e me forço a manter a compostura, enquanto as teclas parecem se transformar em uma série de obstáculos intransponíveis. A melodia que deveria fluir com facilidade parece escapar de minhas mãos, como se os pensamentos da viagem que eu faria em breve estivessem me distraindo demais para me concentrar na peça.
Riven me observa, o olhar fixo em minhas mãos enquanto tento, mais uma vez, corrigir o erro. Desde que começou a me ensinar aos dezesseis anos, ele sempre teve um jeito único de equilibrar rigor e compreensão. Hoje, no entanto, sua paciência parece ser testada pela minha incapacidade de acertar as notas.
— Ao que parece, sua mente está claramente fora do lugar hoje, Mabel. Algo te incomodando?
Ergo os olhos para ele, surpresa com a percepção aguda.
Desde que o conheci, quando tinha apenas vinte e três anos e era apenas mais um jovem qualquer recém formado em música, Riven Clarkson sempre foi uma figura única de charme enigmático. Seu cabelo loiro platinado, cortado de forma moderna e limpa, contrasta com seus olhos castanhos por trás dos óculos metálicos, que captam cada nuance do que está acontecendo ao seu redor. Ele veste uma camisa de linho branco e calças escuras, uma combinação que, paradoxalmente, exala uma elegância natural. E juro que tento desviar de sua atenção escancarada, mas a intensidade do seu olhar me prende.
— Não exatamente — forço minha voz a sair o mais natural possível ao responder. — Apenas não consigo acertar essas porcarias de notas.
Riven levanta uma sobrancelha, nada convencido da minha resposta. Ele se aproxima do piano, suas mãos ágeis movendo-se sobre as teclas para mostrar a correção que estou faltando e suas mãos encontram as minhas sobre as teclas do piano. Um toque sutil e firme, e sinto um frio na espinha ao sentir a proximidade de seu corpo.
Sempre que se inclinava para ajustar minha postura ou corrigir minha técnica, uma proximidade que vai além do profissional me atingia, como se nossa relação fosse muito mais que aluna e professor. E talvez a razão de tal pensamento se tratasse do fato de que, secretamente, ele foi alguém que gostei durante alguns anos. Alguém por quem inconscientemente criei certo vínculo. Uma paixãozinha idiota e bastante secreta. Mas sabia que era apenas coisa da minha cabeça, dada as circunstâncias ao nosso redor, e não queria transformar isso em algo muito maior do que realmente era.
— Você entendeu? Precisa repetir o que fiz — diz Riven.
Pisco e sinto a tensão em meus ombros pelo rápido devaneio que tive, enquanto me concentro para reproduzir a sequência que ele acabou de tocar. Seus dedos ainda repousam sobre as teclas, a proximidade de seu corpo provocando uma sensação de nervosismo misturado com excitação.
