paixões

21 2 0
                                    

Perguntei aos meus amigos se eles já se apaixonaram e a resposta foi "não".

Tipo, nenhuma vez na vida. Não que eles nunca tenham se relacionado casualmente com outras pessoas. Isso já aconteceu. O que torna mil vezes mais incompreensível pra mim o fato de nenhum deles ter vivido, sei lá, a sensação de dormir pensando em alguém ou ficar esperando a pessoa mandar mensagem como se sua vida dependesse disso.

Já me apaixonei tantas vezes na vida:

A garota loira no primário, o nerd mais velho na quinta série, minha melhor amiga nessa mesma época, meu melhor amigo algum tempo depois (esse aqui foi a paixão que durou mais tempo), duas garotas com personalidades completamente opostas na oitava série, o cobrador do ônibus (esse aqui merece um texto próprio), o maromba cabeludo (que minha amiga também queria), o skatista que mudou de cidade, o colega meio emo, o supervisor do trabalho, e o atual.

Pode ser que eu tenha esquecido de citar alguém. Peço até perdão. Mas são realmente inúmeras paixões ao longo de muitos anos. Acho até que não sei estar numa relação - e isso também vale pra amizade - sem estar apaixonado pela pessoa.

Mas estar apaixonado é unilateral. E, claro, melhor. Porque posso inventar a versão daquela pessoa na minha cabeça que mais me satisfaça. É diferente de flertar, que envolve realmente encarar a subjetividade do outro e consequentemente enfrentar o Transtorno do Sherlock Chapado.

Transtorno esse que o Ministério da Saúde adverte a possibilidade de espionagem nas redes sociais pra ativação de um neurotransmissor associado ao centro de prazer e recompensas do cérebro, o qual tem como consequência o sentimento de euforia que, por sua vez, distancia você de uma boa noite de sono.

Em outras palavras:

Você é possuído por um espírito de Sherlock Holmes e tenta encontrar cada informação de alguém. Simplesmente porque ver uma foto da pessoa pode diminuir a percepção de dor (psicológica e inconsciente) que é estar distante dela. Além de ativar as mesmas áreas do cérebro que a cocaína flertaria. Isso faz você sentir mais energia e não conseguir dormir. Ou dormir e falar sozinho - o que pode ser pior ainda se for sonho erótico.

Isso me faz lembrar da última pessoa que flertei.

Nas duas vezes que escrevi sobre ele (com um intervalo de tempo de meses), terminei dizendo que não gostava dele realmente. Talvez porque eu não sabia as informações acima e odiava as sensações que ele me causava.

A dicotomia - o contraponto dá sentido - é que preciso estar com muita vontade pra sentar e escrever sobre algo ou alguém. E que depois de reencontrá-lo passei um tempo torcendo que ele mandasse mensagem ou reagisse algum Story meu.

Agora mesmo estou com vontade de abrir o Instagram, me distrair vendo memes da Melted, entrar na DM quinze minutos depois, responder todos os Reels que meus amigos me mandaram, conferir o que os digitais influencers postaram na lista de transmissão que eles só criaram para pedir engajamento, e então lembrar de mandar mensagem para ele como se nada tivesse acontecido.

E o pior é que eu sei que ele responderia... mas qual o limite entre a persistência e a humilhação?

Bem, acho que isso é papo pr'outro dia.

have you ever fallen in love?Onde histórias criam vida. Descubra agora