Capítulo 12: Perigo à Espreita

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A delegacia estava mergulhada em um silêncio sufocante, algo incomum naquele lugar sempre cheio de vozes e barulho de telefones. Eu me sentia preso em uma teia de eventos que havia se entrelaçado muito antes de eu perceber. As paredes pareciam se fechar ao meu redor, e a insônia se transformava em um peso insuportável. Eu não sabia mais o que era real. Minha própria mente se tornara um inimigo. A sensação de estar à beira de uma revelação maior era inegável, mas eu ainda não conseguia juntar as peças.

Turner estava sentado à minha frente, a testa franzida, como se estivesse considerando cuidadosamente suas próximas palavras. Clara não estava por perto — ela saíra para analisar um dos relatórios da última cena de crime. Aquela carta assinada com o "A" ainda pairava sobre nós, uma ameaça silenciosa.

— Jack — Turner começou, a voz grave e controlada. — A verdade precisa vir à tona. Você está mais envolvido nisso do que imaginávamos.

O estômago afundou, mas eu não demonstrei nada. Uma sensação crescente de paranoia fazia o sangue pulsar nos meus ouvidos. Eles estavam desconfiando de mim, eu sabia. Mas havia uma verdade que eu também desconhecia e estava ansioso para descobrir.

— Envolvido? — consegui dizer, tentando soar calmo. — O que você está insinuando?

Turner colocou uma pilha de fotos e relatórios na mesa. Eram imagens de cenas de crime que já havíamos visitado juntos, todas com algo em comum: uma assinatura clara do assassino — a letra "A" marcada nas paredes.

— Essas fotos... mostram um padrão. Mas veja isso — ele apontou para uma das imagens mais antigas, algo que eu não havia notado antes. — Este local... tem uma ligação direta com você, Jack. A casa onde cresceu.

Fiquei sem palavras. A casa onde cresci? Não era possível. Aquilo estava longe, enterrado em um passado que eu preferia não revisitar. Lembranças nebulosas começaram a surgir, lembranças que eu havia suprimido. Meu pai, severo, autoritário. Minha mãe, frágil, submissa. E eu, sempre preso no meio de uma guerra silenciosa dentro de casa.

— Não pode ser — minha voz saiu rouca, sem força. — Isso... isso não faz sentido.

Turner olhou para mim, como se estivesse esperando que eu me traísse com uma confissão involuntária. Mas minha mente estava em outro lugar agora. As memórias da infância voltavam com uma força avassaladora. Aquelas noites intermináveis de gritos abafados, o som de portas batendo, e meu desejo crescente de fugir.

— Lembra daquela carta, Jack? — Turner continuou, como se soubesse o que estava se passando na minha cabeça. — 'Você me conhece. Estou aqui. Me deixe te mostrar.' Isso foi dirigido a você, Jack.

Meu coração batia descompassado. Aquela carta... o "A"... tudo começou a se conectar de forma assustadora. Mas havia uma peça faltando. Algo que eu não conseguia compreender.

Foi então que Clara entrou na sala, trazendo consigo uma nova pasta de relatórios. Ela parecia hesitante, como se soubesse que estava prestes a jogar uma bomba no meio da conversa.

— Turner, Jack... acho que descobri algo que muda o jogo — disse ela, colocando a pasta sobre a mesa. Seus olhos me analisavam, como se estivesse decidindo o quanto de informação deveria me dar naquele momento.

— O que é? — perguntei, ansioso, sentindo o peso crescente da paranoia.

Clara abriu a pasta e revelou um arquivo antigo, datado de muitos anos atrás, antes de eu ter saído de casa. Era um relatório policial, com o nome de Anna, minha ex-esposa. O coração congelou.

— Anna... — murmurei. — O que ela tem a ver com isso?

Clara respirou fundo antes de responder.

— Anna foi morta, Jack. Muitos anos atrás, antes de você deixar a cidade. E a maneira como ela foi assassinada... é idêntica ao padrão do serial killer que estamos caçando agora.

O choque me atingiu como um soco no estômago. Anna, morta? Como eu nunca soube disso? Ela havia simplesmente desaparecido da minha vida, mas eu nunca imaginei que estivesse... morta. As lembranças com ela vinham em flashes dolorosos — as brigas, o distanciamento. Algo sombrio sempre pairava entre nós, algo que nunca cheguei a compreender completamente.

— Isso não faz sentido — balbuciei, tentando processar a informação. — Eu não sabia que ela... Eu jamais...

— Eu sei que isso é difícil de engolir, Jack — disse Turner, com uma voz que era ao mesmo tempo suave e cortante. — Mas os fatos estão aqui. A conexão entre você, sua infância, e esses assassinatos é inegável.

Eu me afundei na cadeira, a mente girando. O peso da verdade me esmagava, mas ainda havia algo escondido nas sombras da minha memória, algo que estava prestes a emergir.

— O que está tentando dizer, Turner? — perguntei, sabendo que a resposta não seria boa.

— Que você conhece o assassino melhor do que qualquer um de nós, Jack — respondeu ele, sem rodeios. — Talvez... seja você mesmo.

Aquelas palavras pairaram no ar como uma sentença de morte. Eu me levantei abruptamente, incapaz de aceitar a acusação, mas uma parte de mim estava em dúvida. Turner estava apenas jogando um palpite ou havia mais nisso?

Clara observava tudo com uma expressão indecifrável. Ela não estava ali para me julgar, mas para entender o que estava acontecendo comigo.

— Jack, precisamos de respostas — disse Clara, sua voz suave, quase empática. — Eu acho que há algo mais profundo nisso tudo. Talvez você nem saiba o que está realmente acontecendo.

Eu olhei para ela, sem saber o que responder. Ela estava certa. Havia buracos na minha memória, lapsos inexplicáveis. Eu não conseguia mais diferenciar realidade de alucinação, verdade de mentira.

JACK CARTEROnde histórias criam vida. Descubra agora