Capítulo 13: A Máscara Racha

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O peso das palavras de Turner ressoava na minha cabeça como um martelo. Talvez seja você mesmo. Como eu poderia ser o assassino? Não fazia sentido, mas ao mesmo tempo, algo profundo e instintivo me dizia que havia mais em minha mente do que eu conhecia. Havia lacunas nas minhas lembranças, buracos escuros que pareciam crescer mais e mais à medida que eu me aprofundava na investigação.

— Isso é ridículo — murmurei, tentando me manter calmo. — Eu não sou... Não posso ser o assassino.

Turner não respondeu de imediato, apenas manteve aquele olhar analítico sobre mim, como se estivesse esperando que eu confessasse algo, mesmo sem saber o que. Ele estava testando minhas reações, tentando entender se havia algo além da superfície.

Clara então se aproximou, seus passos suaves no chão de madeira da delegacia. Ela colocou uma mão delicada no meu ombro, e seu toque me trouxe uma estranha sensação de conforto e desespero ao mesmo tempo. Ela parecia genuinamente preocupada, mas também havia algo a mais em seus olhos, algo que eu não conseguia decifrar.

— Jack, ninguém está dizendo que você fez isso conscientemente — disse ela com cuidado. — Mas precisamos considerar todas as possibilidades. Esses assassinatos... há muitas semelhanças com eventos de sua infância. Você não lembra de nada?

Eu balancei a cabeça, sem confiar na minha própria voz para responder. A verdade era que eu me lembrava, mas de forma fragmentada, como um filme antigo com partes cortadas. A casa onde cresci, os gritos sufocados da minha mãe, meu pai sempre furioso. E, no meio disso tudo, eu, uma criança tentando sobreviver ao caos. Havia algo naquela casa, algo que nunca consegui entender.

— Aconteceu algo comigo quando eu era pequeno — comecei a dizer, hesitante. — Mas não sei se tem ligação com isso... ou se minha mente está pregando peças.

Clara inclinou a cabeça, incentivando-me a continuar. Turner cruzou os braços, agora mais atento do que nunca.

— Meu pai... — engoli em seco, sentindo o peso das memórias retornando. — Ele era violento. Minha mãe, ela... ela desapareceu quando eu tinha nove anos. Nunca soubemos o que aconteceu com ela.

— E seu pai? — Clara perguntou, sua voz carregada de um interesse profundo.

— Morreu alguns anos depois. Mas antes disso, ele sempre me acusava de ser igual a ela. De esconder coisas. Ele dizia que eu tinha algo dentro de mim... um lado sombrio.

Um silêncio caiu sobre a sala. O ar ficou pesado, quase insuportável. Turner trocou um olhar rápido com Clara, mas não disse nada. Eu sabia o que eles estavam pensando — a ligação entre minha história e os assassinatos. O padrão estava se formando, mesmo que eu não quisesse admitir.

— E Anna? — Clara perguntou suavemente. — O que aconteceu entre vocês?

O nome de Anna trouxe uma onda de emoções conflitantes. Nós tínhamos nos amado uma vez, mas o relacionamento havia se deteriorado rapidamente. A lembrança de nossa última briga estava tão viva em minha mente quanto o presente momento.

— Eu a perdi — sussurrei. — Ela se foi e eu nunca mais a vi.

Mas havia algo mais. Algo enterrado no fundo da minha mente. Eu podia sentir. Havia uma verdade sombria que eu ainda não estava pronto para confrontar.

Clara ficou em silêncio por um momento, como se estivesse ponderando a melhor maneira de continuar.

— Jack, precisamos investigar mais profundamente o que aconteceu com sua mãe e Anna. Talvez isso nos leve a entender melhor o que está acontecendo agora.

Turner, que até então tinha permanecido quieto, pigarreou e se aproximou da mesa.

— Clara tem razão, Jack. Vamos investigar sua infância, sua família, e ver se há alguma conexão. Se há algo que você não se lembra... podemos descobrir juntos.

Eu não sabia se estava pronto para isso, mas uma parte de mim sabia que não tinha escolha. Os assassinatos estavam se aproximando de mim, e cada novo corpo encontrado parecia apontar para o meu passado. A carta assinada com o "A", os lugares onde os crimes ocorriam, as pistas... tudo estava convergindo.

De repente, o telefone na mesa de Turner tocou, quebrando o silêncio pesado da sala. Ele atendeu rapidamente, e pude ver pela sua expressão que a ligação trazia novidades.

— Outra vítima — disse ele, desligando o telefone e me encarando diretamente. — E desta vez, foi perto da sua antiga casa, Jack.

Meu corpo gelou. Não podia ser coincidência. Eu não queria acreditar que isso estava conectado a mim, mas agora era impossível ignorar.

— Temos que ir — Turner disse, já se levantando. — Preciso que você venha conosco, Jack. Você pode nos ajudar a entender o que está acontecendo.

Eu me levantei lentamente, sentindo o peso da decisão. Algo dentro de mim dizia que aquele era o ponto de não retorno. Que, ao voltar para minha antiga casa, eu estaria confrontando demônios que não sabia se poderia derrotar.

Clara me olhou com empatia, mas também com determinação.

— Vamos descobrir a verdade, Jack. Custe o que custar.

Eu apenas assenti, sem dizer uma palavra. Estava pronto para encarar o que viesse a seguir. Mesmo que isso significasse enfrentar o pior lado de mim mesmo.

JACK CARTEROnde histórias criam vida. Descubra agora