Satoru GojoAlguns dias depois
O Sukuna tem um celular.
O pensamento tem me perseguido desde que quase transei com Suguru. E toda vez que me açoita, dou risada sozinho. Como
minha sorte pode ser tão cagada? A única pessoa que pode me ajudar a entrar em contato com meu pai é a mesma que quase me matou. Que inferno.Mesmo que minha reação inicial à declaração de Suguru tenha sido um suspiro de derrota, meus pensamentos intrusivos não me deixaram desistir facilmente. E se. E se eu conseguir colocar as mãos nesse celular? E se eu acabar desaparecendo como o Calvin, caso
não faça nada? Já passei por tantas situações complexas neste colégio, certamente não vou jogar a toalha nessa.
Então tenho seguido o tatuado desgraçado sempre que posso, logo depois de acordar, no intervalo entre as aulas, depois
das refeições, antes de dormir. Sei em detalhes o caminho que faz todas as manhãs do quarto ao refeitório, então às salas de aula, então ao banheiro – sempre no mesmo horário –, almoço, quarto, salas, banheiro, janta e quarto num looping infinito e diário. Ele não frequenta a biblioteca ou qualquer outro local do
colégio no qual sua presença não seja obrigatória. É quase como se tivesse medo de algo. Mas, quando constato isso, volto a me questionar como sabia que eu estava com Suguru exatamente no telhado da Torre Sul. Ele também não interage muito com outros alunos em seu tempo vago. Parece uma marionete. E isso também significa que não o vi entrando em brigas.Qual é a real desse cara?
É o terceiro dia que acompanho todos os passos dele de perto, ponderando e calculando como posso colocar as mãos no
aparelho que contrabandeou. O sol já se pôs e o jantar está prestes a ser encerrado.Os corredores estão escuros e frios; as
lâmpadas, zumbindo nas paredes, iluminando de modo bem porco um local que, mesmo com toda a luz do mundo, seria macabro de qualquer forma.Sukuna atravessa uma encruzilhada de quatro corredores e inicia o trajeto em direção aos dormitórios dos segundanistas – um andar abaixo daquele dos calouros –, sem parar ou olhar para trás uma única vez. Para alguém tão odiado, ele com certeza anda por aí com muita tranquilidade. Seria muito fácil aurpreendê-lo e pular sobre seu pescoço com uma faca bem agora, e então o maior valentão da Masters seria apenas uma
história passada por diferentes gerações de alunos. Será que os professores e o diretor tentariam preservar a imagem do colégio
e encobririam esse crime da mesma forma que estão encobrindo o desaparecimento do meu irmão? Se eu fosse um assassino,
tentaria minha sorte.Sendo justo, estou sendo bem cuidadoso ao segui-lo. Me escondo nas paredes e espero até que cruze o próximo corredor para então me expor, acompanhando os sons de seus passos para saber que direção está tomando. Tento me encolher nas regiões
mais escuras; escolhi usar meus Crocs nos últimos dias para garantir que meus passos não façam qualquer barulho nos corredores escorregadios.Neste momento, não estou mais considerando pedir o celular de Sukuna emprestado, e sim roubá-lo. Só preciso que saia do quarto em algum momento e vá para algum lugar distante.
Mas ele não sai.
Reteso a mandíbula e, por fim, o sigo no corredor em direção aos dormitórios.
Talvez hoje seja meu dia de sorte.
Os passos de Sukuna estão distantes, mas audíveis, até que param por completo. Me aproximo da parede e exponho meus
olhos, apenas o suficiente para checar se parou de andar no meio do corredor seguinte, mas não encontro nem sinal dele.
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-» Entre neblina e desejo / Satosugu
Romance- A Academia Masters é um dos internatos mais prestigiados dos Estados Unidos. Escondido em uma ilha na costa da Flórida e cercado por muros impenetráveis, o internato recebe novas turmas anualmente. Mas, além dos alunos, abriga segredos sinistros e...