Após o café, Apuh, Lg e Clara saíram da casa e foram admirar a vila nevada e suas adoráveis estruturas de casinhas aconchegantes de Machara. Os três se sentaram nas escadas de madeira da varanda de Clara, e ficaram observando os flocos de neve caírem em direção às ruas de terra batida.
Os rapazes estavam com as mãos sobrepostas uma a outra, e vez ou outra se admiravam com sorrisos bobos, mesmo que Apuh ainda estivesse um pouco paranoico com a existência de alguns delatores que não hesitariam em contar do relacionamento deles para alguma pessoa que tocasse fogueiras ou forcas. Clara somente os observava sorrindo, e logo se apressara em continuar contando sua trajetória pela vida, mas desta vez com um rumo diferente, para não queimar o clima carinhoso que se formara ao lado dela, entretanto desistiu, pois lhe veio à cabeça uma pergunta.
- Licença... Eu queria fazer uma pergunta para vocês... - Ela começou e Lg logo se virou, com a intenção de ouvir. - Diga...
- Vocês são... Parceiros românticos?
- Sim... Somos. - Lg declarou baixinho, mas com uma força de vontade que mostrou ao mundo que ele já não era o garotinho submisso de anos antes, Apuh ficou orgulhoso pela independência do amante, tanto que logo continuou a complementar a afirmação de Lg. - Desde nossos 15 anos, e... Mesmo que nós fiquemos com medo das punições que a igreja católica vai nos aplicar caso descubra, a resiliência e o amor podem vencer, claro, unidos com prudência também.
- Que lindo... Acho que o romance de vocês supera metade dos casamentos arranjados que os pais sórdidos de pobres moças as colocam... Mas o de olho rosa tem mãe ou pai? - Clara fez a pergunta que nunca sequer havia passado pela cabeça de Apuh, talvez pelo fato dele ser órfão também e saber que fazer aquele tipo de pergunta poderia magoar, dito e feito, Lg ficou com um semblante de quem comeu e não gostou, e se recusou a responder à pergunta de Clara. Apuh observou Lg com um olhar preocupado. Ele sabia que a questão de Clara poderia ter sido feita sem malícia, mas o impacto era inegável. O silêncio pairou por um instante, quebrado apenas pelo suave tilintar da neve caindo.
- Desculpe, Clara, - Apuh se aventurou a falar, tentando aliviar a tensão. - O Lg... bem, ele não teve uma infância fácil, e isso ainda o afeta.
Clara, percebendo seu erro, imediatamente fez uma expressão de arrependimento.
- Eu não quis ser indelicada, de verdade. Sinto muito...
Lg balançou a cabeça, tentando esconder a mágoa.
- Está tudo bem, senhora. Não parece ter sido sua intenção...
A conversa ficou um pouco mais leve quando Apuh, em um esforço para mudar o foco, começou a falar sobre a beleza da vila coberta de neve.
- Olha como a luz reflete nos flocos! É quase mágico.
A mulher sorriu, aliviada por poder voltar a um tema mais neutro.
- Sim, parece que estamos em um conto de fadas.
Lg também se deixou levar pela cena, olhando para o horizonte enquanto os pensamentos sobre sua história familiar se dissipavam, mesmo que temporariamente.
- Às vezes, momentos como esse fazem a gente esquecer das coisas, não é? - ele disse, seu tom mais leve.
- Exatamente, - Apuh respondeu, sentindo-se grato por ter Lg ao seu lado. - Vamos aproveitar a beleza deste momento.
Clara assentiu, e os três se deixaram envolver pela atmosfera mágica da neve, sorrindo e compartilhando histórias, até que as preocupações se tornaram meros ecos distantes. Chegava-se naquele momento a hora do almoço, e os três perceberam aquilo quando o estômago de um deles roncara com a força de um cavalo relinchando, e assim que aconteceu o responsável ficou em um tom rubra e os outros dois riram enquanto se levantavam para entrar.
O riso ecoou na varanda, aquecendo o ar gelado ao redor. Apuh olhou para Lg, que estava com o rosto avermelhado.
- Acho que alguém está com fome! - brincou Apuh, dando um tapinha nas costas do parceiro.
- Você poderia tentar controlar esse estômago, moço! - Clara também se juntou à diversão, piscando para ele.
Lg riu nervosamente, um pouco envergonhado, mas a leveza do momento o fez esquecer a preocupação anterior.
- Vamos, então! O que tem para o almoço? - sugeriu Clara, enquanto abria a porta da casa.
Os três entraram juntos, ainda rindo. A cozinha estava aquecida e convidativa, com o cheiro de um ensopado caseiro tomando conta do ambiente. Na mesa já estava todo o restante do grupo acomodado. E também estava ali Nogal tocando o forno de lenha, onde uma panela borbulhava.
- Olha só! Que bom que vocês chegaram! Fiz um ensopado de legumes! É simples? Sim, mas é minha primeira comida em um forno assim, então espero que gostem. - Ela disse, começando a servir as porções.
Apuh, Lg e Clara se acomodaram à mesa juntando-se ao restante, suas risadas ainda ressoando enquanto se preparavam para a refeição. O clima leve e descontraído permitiu que se sentissem à vontade, compartilhando histórias e lembranças enquanto saboreavam o prato.
- Daí é inimaginável, é tão impressionante como utilizar roupas que somente chegam ao joelho no calor é reconfortante! - Sam comentou, olhando para Jazz com um sorriso. Já Jazz a fitou com o mesmo sorriso, o que foi uma confirmação para Apuh e Lg que ele já estava pronto para pedi-la em casamento, já que elogiara até os fios meio loiros que a moça apresentava em seu cabelo. Podia-se dizer que foi um almoço digno, apesar do sonho que não saía da cabeça de Apuh e do relato e das atitudes estranhas de Clara o intrigarem um pouco.
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𝘼 𝙫𝙚𝙧𝙙𝙖𝙙𝙚𝙞𝙧𝙖 𝙧𝙚𝙘𝙤𝙢𝙥𝙚𝙣𝙨𝙖-𝑳𝒂𝒑𝒖𝒉
Fanfic"-𝙊𝙝! 𝙈𝙚𝙪 𝙨𝙚𝙣𝙝𝙤𝙧, 𝙢𝙚 𝙙𝙚𝙨𝙘𝙪𝙡𝙥𝙖! 𝙉𝙖̃𝙤 𝙥𝙧𝙚𝙘𝙞𝙨𝙖 𝙨𝙚 𝙞𝙣𝙘𝙤𝙢𝙤𝙙𝙖𝙧! 𝙀𝙪 𝙡𝙞𝙢𝙥𝙤...- 𝘿𝙞𝙨𝙨𝙚 𝙘𝙤𝙢 𝙤 𝙨𝙚𝙢𝙗𝙡𝙖𝙣𝙩𝙚 𝙦𝙪𝙖𝙨𝙚 𝙚𝙢 𝙡𝙖́𝙜𝙧𝙞𝙢𝙖𝙨, 𝙚 𝙤 𝙤𝙪𝙩𝙧𝙤 𝙜𝙖𝙧𝙤𝙩𝙤 𝙡𝙝𝙚 𝙧𝙚𝙨𝙥𝙤𝙣𝙙𝙚�...