Pode ver que ela é uma linda garota
De repente percebo, isso que quero ser
Por que diabos é tão importanteSuddenly I See por KT Tunstall
Um
De gente otária eu tô farta
★
2006, Imperatriz.
A primeira coisa que Jaqueline sentiu de diferente foi a maciez do colchão. Se a memória não lhe falhava, não tinha bebido tanto no dia anterior — tinha certeza de que fugira do champagne a festa toda —, mas só podia estar de ressaca para achar aquela cama barata a coisa mais confortável do mundo.
A segunda foi o cheiro, um tão característico que a fez se sentar abruptamente, chutando as cobertas como se a estivessem queimando. Então, aquele papel de parede cafona vermelho e branco enfeitou a visão, pôsteres de bandas grudados com a cola de artesanato do irmão e uma guitarra vinho — provavelmente a coisa mais cara do cômodo.
Ela franziu o cenho. Que porra tá acontecendo?
— Filha, vai se atrasar pra aula!
Se houvesse como estreitar mais as sobrancelhas, a garota as afundaria sobre os olhos, porque aquilo não podia ser seu pai. Ele tinha ido embora de casa logo depois do divórcio, meses depois dela voltar do reformatório.
Levantando-se, calçou as pantufas e correu ao espelho do armário.
— Que porra?!
— Filha?
Ela se engasgou com a saliva, apressando-se para reformular a frase.
— Eu disse corra! Foi mais pra mim, sabe? Tipo: corra, Jaqueline.
Seu pai pareceu aceitar a desculpa, pois um silêncio reconfortante se fez presente na casa. Então, tornou o olhar à sua forma, analisando atentamente cada detalhe.
O pijama curto e rasgado nas mangas, o quadril sem a tatuagem nada original de um dragão que ia até metade das costas e as malditas mechas vermelhas; aquilo era como uma ida direta pro inferno.
— Não pode ser — sussurrou.
Jaqueline colocou as mãos nas bochechas, apertando-as enquanto girava o pescoço. As unhas pintadas de azul escuro, com uma estrela desenhada nos anelares, tomou sua atenção, o que a fez rir. Lembrava-se de amar qualquer coisa que gritasse vaidade, mas nos últimos meses tudo parecera tão corrido que apenas não se preocupara a respeito daquilo.
Como podia um sonho ser tão real? Até as roupas jogadas no pufe bordô estavam do jeito que costumava deixar, ansiedade na boca do estômago que a fazia esquecer de colocá-las nas gavetas, dobradas e organizadas. Sua mãe a chamava de porquinha, e seu pai a zombava da breguice do quarto, mas todos se esqueciam que a porta da frente bloqueava a passagem do verdadeiro caos.
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𝗖𝗘𝗗𝗢 𝗢𝗨 𝗧𝗔𝗥𝗗𝗘
Hayran Kurgu❝Ela sabia que ele estava passando por momentos difíceis. Embora preferisse morrer do que aceitar, era fato de que o término com Luiza havia afetado partes dele que nem mesmo sabia que existiam. Ninguém parecia se importar, afinal; ninguém, menos Ja...