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Helena

Percebi que fiz merda e que bebi demais quando acordei nos braços de Gabriel em uma casa que eu, definitivamente, não conhecia. Sentei-me na cama e olhei ao redor, vendo a decoração neutra do quarto enquanto sentia seus braços me puxarem novamente para o seu peito, me fazendo deitar. Meu coração estava acelerado e eu estava com raiva de mim mesma porque eu sabia exatamente o que nos levou a acordar juntos, porém não consigo lembrar de nada. Deitei-me um pouco por cima dele e me espichei para verificar, sentindo-me aliviada ao ver algumas camisinhas na lixeira.

── Bom dia. — Ouvi sua voz rouca e quase tive um orgasmo só com isso. O que ele tem de babaca, tem de lindo e gostoso também.

── Que horas são? Cadê meu celular? — Falei procurando com o rosto, e ele suspirou, parecia estar acordando ainda.

── Uma da tarde. — Falou segurando seu celular, e eu arregalei os olhos. Eu dormi tanto assim? Que horas nós fomos dormir?

── Que casa é essa?

── Dos meus pais, a festa da Sophia. Não lembra? — Pareceu um pouco confuso e preocupado enquanto se sentava ao meu lado, e eu neguei com a cabeça, encarando um ponto fixo. Quanto mais eu tentava lembrar, mais minha cabeça doía, porém consegui resgatar alguns flashes do aniversário da minha amiga, eu bebendo catuaba e uma mini discussão com o Gabriel.

── Ah, catuaba. Não posso beber catuaba, toda vez eu faço merda. — Falei passando a mão no rosto enquanto levantava.

── Fez merda só porque ficou comigo?

── Sim! Você agiu igual um otário comigo, eu não deveria ter caído no seu papinho. — Falei me vestindo e notei o olhar dele sobre mim.

── Mas que bom que caiu. — Falou se levantando e fazendo o mesmo. ── Papo reto, você não parecia estar tão bêbada noite passada. Tô me sentindo mal por ter transado com você nesse estado.

── Eu sei esconder meu estado de embriaguez, eu acho. — Falei parando na frente do espelho e notei que ele estava em silêncio. Virei-me e o vi encarando seu celular.

── Preta, a gente tá de boa? — Me encarou.

── Não. — Respondi rápido.

── Sabia que você é meio bruta? Você me dá medo às vezes. — Falou parando atrás de mim e me abraçando na frente do espelho, enquanto eu encarava nosso reflexo. Suas mãos rodearam minha cintura e eu tentei reprimir um sorriso ao sentir seus lábios beijarem minha bochecha. ── Meus pais estão em casa e eles não sabem da festa. Sophia disse que chamou só o Pedro, a namorada do Pedro, eu e a minha namorada. No caso, você! Você vai descer e vão pensar que você é minha namorada.

Fiquei encarando nosso reflexo e por um instante me perdi na gente, no quão bonitos ficamos juntos, o quanto combinamos. Ou talvez eu só ache isso porque estou apaixonada!

── Han? Acho surreal que a Sophia e você têm o mesmo ciclo de amizade. — Respondi, me afastando dele e pegando minha bolsa.

── Não temos, mas ela se dá bem com todos os meus amigos, eu que não gosto das amigas dela.

── Por que não? — O encarei, confusa.

── São tudo umas meninas chatas, amostradas e atiradas que se fazem de amigas dela. Papo reto, a Sophia é insuportável, mas é um dos meus maiores amores. Odeio que ela se submete a esse pessoal que se aproveita dela e da boa vontade dela! — Falou de cara fechada e eu sorri leve.

── Eu acho fofa a relação de vocês.

Alguns segundos em silêncio e eu já sabia que provavelmente ele iria soltar uma pérola quando se virou para mim, com aquele sorriso de canto e animado igual uma criança.

── Ô Helena?

── O que foi, Gabriel? — Respondi, colocando a mão na cintura.

── Me dá um filho? — Pediu e eu franzi as sobrancelhas, em seguida negando com a cabeça e saindo do cômodo enquanto ele vinha atrás. ── Qual é, Lê, um bebezinho.

── Não!

── Por que? Menina ruim, eu ia ser um bom pai, eu iria pagar pensão direitinho e visitar todo mês, postar foto no insta e tudo. — Falou, e eu me virei para ele, segurando meu cabelo de carregador e apontando para ele enquanto ele travava as pernas e arregalava os olhos.

── Vai pedir filho para o capeta, Gabriel.

── Já pedi e ele acabou de dizer que não! — Falou me puxando pela cintura e me prensando contra a parede. Soltei um suspiro e encarei seus lábios, em seguida desviando o olhar. ── Posso falar sério agora? — Pediu baixinho enquanto acariciava meu rosto com o polegar. Fechei os olhos e deitei a cabeça na palma da sua mão, enquanto apreciava seu toque sutil.

── Fala. — Minha voz saiu calma e baixa enquanto eu abria os olhos novamente.

── Me perdoa por aquele vacilo, não quero te perder por isso, você me traz uma versão minha que eu amo. Eu amo ficar perto de você! — Pediu, encarando meus olhos. ── Por favor?!

Então eu suspirei, encarando o teto e dividida entre a razão e a emoção. Como eu quero perdoar, mas ao mesmo tempo eu quero ver ele sofrendo por ter feito aquilo. Não, "sofrendo" é uma palavra muito forte, porque eu não gostaria de ver ele assim, mas queria ver ele sentir o que eu senti aquele dia.

── Você me magoou muito. — Admiti, encarando suas íris escuras enquanto ele abaixava o olhar, parecendo arrependido.

── Eu sei, foi tudo falta de conversa entre nós. Promete para mim que isso não vai acontecer de novo? Que sempre que algo te incomodar ou que você achar necessário contar, você vai falar?! — Pediu, e eu mordi meu lábio inferior, sentindo um nervosismo me invadir.

── Tá. — Afirmei com a cabeça. ── Se você prometer o mesmo!

Um breve sorriso se fez em seus lábios antes de ele beijar minha bochecha, me puxando para um abraço apertado que exalava ternura e carinho. Ali, eu me vi confortável, naquela tarde que para mim ainda era uma manhã, eu me senti imune a qualquer perigo que o mundo poderia me oferecer simplesmente por estar ao lado de Gabriel. Ele tem esse poder sobre mim. E ele sabe disso.

── Vem, vamos descer. Você tem que conhecer minha mãe!

lentes no horizonte, gabriel medina. Onde histórias criam vida. Descubra agora