2 semanas depois
— Agora prestem atenção — Amber fala — Esse livro aqui é emprestado e tenho que devolver ele em três dias, então tomem notas do que irei falar agora.
Amber engatou em uma busca para descobrir mais sobre familiares de bruxas e explicar por que que tive um controle maior do meu dom quando Kiran tocou em mim durante o ataque da Read. Levou dias para ela achar um livro sobre o assunto, mas ele só estava disponível em uma cidade há duas províncias de distância, e depois de tanto azucrinar a bibliotecária do lugar, ela enfim conseguiu que o livro fosse emprestado.
Quando ela ligou hoje de tarde, pedi para que falasse quando Rique estivesse disponível para escutar também e é assim que estamos nesse momento. Recarreguei o comunicador e o coloquei sobre uma panela, em cima da mesa, peguei as duas folhas e canetas que trouxe da minha cabine e ofereci um de cada ao Rique.
— Eu ainda não consigo acreditar que estamos nos comunicando com alguém que está em Perterin — ele murmura — Isso é insano.
— Pense que isso é um cristal de comunicação melhorado — Amber o responde — E foi eu que o melhorei.
— Anotado — ele ri.
— Bom, vamos lá — Ela limpa em um gesto exagerado — Todos sabemos que um familiar é criado no momento que uma bruxa salva a vida de um ser vivo, direta ou indiretamente, e o nomeia. Ou seja, não há restrição para o que pode ser um familiar, só precisa ser um ser vivo, com uma alma e não possuir um nome. Agora, de acordo com esse livro aqui, quando essa conexão acontece, a bruxa transfere parte de seu dom para o familiar, que acaba o armazenando e não consegue usar.
— Então o Kiran tem dom do Frio? — falo.
— De certa forma, sim — Amber responde — Na verdade, muito provavelmente é o dom que o mantém vivo.
Eu e Rique nos viramos ao mesmo tempo para encarar o meu cão que parecia alheio a tudo isso enquanto brincava com um boneco de couro que Thomas costurou alguns dias atrás.
— No dia do ataque — encaro a Amber novamente — Quando Kiran encostou em mim, foi como se eu soubesse o que tinha que fazer. O mundo pareceu ficar mais lento e o gelo ficou tão fácil de controlar...
— Um instante — Ela folheia o livro até parar na página que estava procurando — "Se em algum momento o familiar achar que a bruxa está em risco de vida, ele poderá canalizar o dom armazenado para que a bruxa consiga se salvar. Ao combinar o dom da bruxa com o do familiar, sua força aumenta e fica dois quintos igual a magia do Primordial Regente.
— Primordial Regente? — Rique pergunta.
— É o Primordial do meu dom — respondo — Sabe, geralmente as bruxas e bruxos herdam o dom da mãe, porém a casos igual o meu onde o dom é diferente. Isso acontece porque em algum momento, no passado, a minha tatatataravó deve ter tido filhos com um bruxo do Frio e esse dom ficou adormecido até eu nascer. Porém mesmo sendo uma bruxa do Frio, eu ainda possuo Água entrelaçada na minha alma, a diferença é que nunca poderei acessá-la, pois o dom do Primordial Regente é sempre mais forte e bloqueia qualquer outro elemento. Por favor, não me olhe assim! Todas as bruxas possuem mais de um dom dentro de si, isso não é algo exclusivo meu.
— Desculpa — Rique pisca rapidamente — É que eu nunca havia pensado nisso, mas faz sentido, afinal faz séculos que bruxas de diferentes dons convivem entre si. Como que acontece essa escolha?
— Não sabemos — Amber responde dessa vez — Como a Lys falou, geralmente o dom da mãe prevalece, mas como ele é algo vivo, de certa forma, talvez o Frio estivesse cansado de ser esquecido e decidiu se manifestar, pela primeira vez, na Lys.
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Entre Mares e Feitiços
RomanceLyssandra é uma bruxa do Frio que está presa à cidade de Perterin por causa de sua dívida com Vane, o temido capitão do navio Kanramarur. Essa dívida aumenta toda vez que ele vem à cidade e Lysandra se vê sem saída. Porém tudo muda quando Vane ofere...