Sempre tive uma certa obsessão por águas-vivas. Para ser mais exato, a oceanografia sempre me chamou a atenção, mas principalmente as águas-vivas.
Em todos os feriados de ano novo que me recordo, eu e meus pais íamos à capital visitar grande parte da família que vivia lá, e sempre visitávamos o observatório marinho da cidade; eu e mamãe costumávamos passar horas observando as águas-vivas. Papai dizia que herdei de mamãe essa obsessão por elas. Mamãe sempre comentava sobre o quanto elas eram lindas e que seus tentáculos remetiam a vestidos de princesas que víamos nos desenhos. Ela sempre dizia que todas as águas-vivas, na verdade, eram lindas princesas que viviam isoladas do mundo por mal julgamento da sociedade e, quando morreram, foram transformadas em águas-vivas para que pudesse viver livremente e sem preocupações. Era uma metáfora bonita e admito acreditei nela por anos.
Faziam alguns meses que eu havia concluído a graduação em biologia marinha e a pós graduação em oceanografia, e, com nenhum mérito, fui indicado por meu pai ao proprietário do único e primeiro grande aquário marinho da cidade, o sr. Lee, que era um grande amigo seu. Como um grande admirador, nem preciso dizer o tamanho de minha felicidade quando recebi a notícia de que havia conseguido o emprego no aquário marinho da família Lee. Fui informado de que eu seria um dos educadores ambientais, embora tivesse especificado em meu currículo, o qual tive a mínima vergonha na cara em enviar para a equipe do RH, que eu havia experiência como instrutor e cuidador de animais marinhos, mesmo sabendo fazer de tudo um pouco, já que tinha trabalhado em outros aquários de Seul no meu período de graduação e pesquisas na pós.
Admito que o nervosismo se fez presente somente pela ideia de precisar falar com diversas pessoas todos os dias e por longas horas, dado minha péssima habilidade social, que, embora tenha melhorado consideravelmente em meus anos de estudo, ainda estava longe de ser ótima. Porém, surpreendentemente, consegui me adaptar mais rápido que o esperado; as pessoas simpatizavam comigo, em especial as crianças.
Naquele dia, o aquário marinho estava com uma quantidade relevante de visitantes em decorrência do feriado nacional. E, enquanto terminava de falar algumas curiosidades bobas e desmentir mitificações sobre o tubarão-gato para uma criança que o havia achado fofo, eu a vi pela primeira vez.
No mar entre tantos cabelos castanhos alisados, vestimentas tão padronizadas de mesma paleta de cores, maquiagens tons acima do ideal para cada tom de pele, ela se destacava. O cabelo com curvatura em uma cor rosa bebê ou algo próximo a isso, o qual ela parecia ter o prazer de exibir, e a pele cor de mel tão bonita e brilhante com o tom certo de maquiagem chamava a atenção. Além disso, ela também tinha um sorriso gentil no rosto enquanto conversava com as, que julgo, serem suas amigas e tirava fotos de alguns peixes no aquário, os quais observei brevemente e pude vê que eram Corydoras Sterbai, os meus preferidos.
Vi o Senhor Lee — o qual raramente estava na área pública, visto que era o chefe — ir até ela e a envolver em um abraço caloroso, cumprimentando também suas amigas. Imaginei que ela fosse uma figura importante para ele, embora eu não soubesse quem, o que era peculiar visto que em cidade pequena todos sabem tudo sobre todo mundo.
— É a filha dele — Dongmin, meu colega de trabalho e melhor amigo, comentou de supetão, próximo a mim. Talvez tenha percebido minha óbvia curiosidade, por me conhecer como a palma de sua mão. — Ela mora em Seul e sempre que está de férias vem para cá. O nome dela é Riwoo.
Concordei com a cabeça, como um breve sinal de que havia entendido o que ele dizia, já que o local era ocupado pelo alto som de conversas. Direcionei novamente meu olhar para ela e vi que ela me encarava, antes de voltar a conversar com seu pai e amigas, saindo do estabelecimento. Tão delicado quanto cada mínimo trejeito, sua saia com estampas e acessórios coloridos, seus cabelo tão bonitos que se moviam tão gloriosa, sedutora e hipnotizante me fizeram perceber algo.
Água-viva. Ela parecia uma água-viva.
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JELLYFISH.
RomanceKim Donghyun carregava uma obsessão de anos por tudo relacionado ao ambiente aquático. Quando conseguiu o emprego como atendente no observatório marinho da família Lee, percebeu que sua mãe estava certa: águas-vivas eram lindas princesas, formosas e...