Rosamaria Montibeller.

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O som das risadas e conversas de seus familiares preenchia os seus ouvidos, juntamente com a música alta da caixa de som ao lado da churrasqueira onde seu pai assava algumas carnes. Esses momentos que você aproveitava com sua família eram os mais preciosos, mesmo com a caixa de som estourando e a falação de inúmeras pessoas preenchendo o quintal inteiro, você gostava de aproveitar finais de semana dessa forma. Todos tratavam você como filha, por ser uma das mais novas da família e ter apenas 19 anos; mas aquilo não significava que você não adorava, amava até demais ser tratada com tal.

No entanto, ultimamente você estava passando mais tempo com uma pessoa específica nesses encontros familiares do que aproveitando com o resto de sua família mesmo. Por mais que você tentasse se segurar, ou manter um certo afastamento por saber que não era a situação mais certa do mundo, ela sempre conseguia ter você perto dela novamente. Mas quem você queria enganar? Aquela mulher era uma tentação. Poderia ser o errado que fosse, mas você não conseguia fugir da presença dela por muito tempo.

E agora, aqui estava você, sentindo o olhar dela percorrer de cima a baixo por seu corpo enquanto sua mãe comentava sobre algo que você não estava prestando atenção.

— Meu amor, você pode pegar aquele pote pra mim? — O seu olhar rapidamente desviou do dela quando sua mãe chamou sua atenção, notando que ela estava apontando para um lugar alto do armário.

Você conseguiu pegar o pote com facilidade, por ser mais alta, e recebeu um agradecimento da mais velha, vendo ela voltar a cozinhar o que quer que fosse que estava naquela panela. Você sabia que seria algo muito bom, porque comida de mãe não existe igual.

— Acho que eu vou jogar lá fora um pouco, tá bom? Qualquer coisa pode me chamar. — A mulher concordou e você andou em direção a porta de vidro da cozinha, se esforçando para não olhar para a loira que você sabia muito bem que não havia tirado os olhos da sua figura desde que entrou naquela cozinha.

Você respirou fundo quando chegou na pequena quadra que havia no seu quintal; seus pais a construíram quando você começou a jogar de verdade em alguns campeonatos que aconteciam na sua cidade, desde que tinha 12 anos. Você costumava ir sozinha com sua bola de vôlei e treinar alguns toques e manchetes na parede. Aquela quadra guardava muitas memórias; os dias de estresse em que você sacava a bola com força na parede e ela voltava em sua direção, repetindo o movimento de novo, de novo e de novo. As vezes em que você levou alguns amigos para sua casa e eles insistiram em jogar. Os momentos em que você precisava ficar um pouco sozinha e sentava no chão perto da parede, brincando de fazer toque.

E mais uma memória se formou naquela quadra, que foi a primeira vez em que sua mãe apresentou Rosa para você. Nesse dia, ela contou a você sobre como a mais velha havia comentado que você jogava vôlei e queria treinar um pouco para ver suas habilidades. Desde então, Rosa continuou a fazer algumas visitas a pedido de sua mãe, que era uma grande amiga dela. Você sempre a admirou, principalmente quando começou a jogar no interclasse de sua escola e realmente se interessar pela modalidade. Rosa enxergava um potencial forte em você, sempre tentando te convencer a levar o esporte para o profissional, mas você sempre negava, dizendo que não era tudo isso.

Enquanto você atacava a bola em direção ao chão e ela batia na parede, voltando para você e repetindo o processo, o som de passos se fez presente, mas você não se virou, já sabia quem era.

— Está fugindo de mim? — A voz da mulher soou mais próxima do que você imaginava, fazendo um leve arrepio percorrer por suas costas.

— Não. — Você respondeu, não querendo dar brechas para ela fazer algo que ela sabia que você não aguentaria negar.

— Mas é o que parece. — A presença dela se fazia cada vez mais próxima, e seu coração começou a palpitar.

— Jura? — Sua resposta foi firme, com um tom de sarcasmo que tirou uma risada da loira.

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