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Filha

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A incerteza da vida, que corrói todos nós, nunca largará de fato a perseguição que somos fadados a viver. A vida que sempre imaginamos enquanto crescemos e quando ainda temos a mentalidade de um ser que não possui noção alguma sobre o que se passa no mundo. Somente alguns alcançam e conquistam essa vida desejada. A incerteza sobre o presente e sobre o futuro maltrata a mente de mundos que não escolheram ao mesmo nascer. O passado que nunca irá retornar jamais em hipótese alguma..

Quando vejo minha mãe, que tanto batalhou na vida para me dar o que comer e teve que suportar uma mulher infeliz consigo própria, comandar toda sua vida, deitada sem forças na cama em que dormíamos juntas enquanto crescia, partiu a sanidade que minha mente já não possuía.

Os sonhos que não conseguiu realizar, os lugares que um dia planejava viajar, a força que sempre teve e ainda tem em suas veias, desde o momento em que decidiu não viver descontente ao lado de quem não a florescia.

Ela é a força que me deu a vida e me ensinou a caminhar e a, então, florescer. Sacrificaria minha vida aqui e agora se isso significasse que ela poderia viver a vida que tanto sonhou e que sua juventude não acabaria daquela forma. A juventude que não viveu, por escolha de outros que a condenaram.

Daria minha vida para minha mãe tantas vezes que fossem precisas para ela poder continuar ao meu lado... E eu nem precisaria pensar mais de um segundo sobre a decisão...

Ajoelhei ao pé da cama enquanto ela apoiava a mão em meu ombro e orei pela vida. Orei. Orei até chegar aos prantos e chorei por ela ter suportado tudo. Ela merece mais do que foi capaz de alcançar na vida.

Quando o dia acabou, a levei para nosso lar. A acomodei em seu quarto, decorado por ela mesma que eu não mexi em um átomo sequer a sua espera.

Quando a incerteza do futuro te aguarda, o que nos resta fazer é aproveitar cada minuto que acontece na vida que se segue. Todas as vezes em que acordo e olho para o espelho, me vejo olhando para os olhos de minha mãe, escuras pupilas amáveis. Grande parte do que sei, foram ensinados a mim por aqueles olhos. Aliviar a dor de seu coração é o meu propósito como filha, acompanhar ela nessa etapa da vida é o mínimo que devo fazer. Almejava poder tirar toda a tristeza de sua alma e transferi-la para a minha, para que assim respirasse.

Em agosto 28, parti com minha mãe para a viagem que ela sempre sonhou em fazer. Somente ela e eu pegando as estradas do Brasil em busca do deleite da vida. Tudo que lutei para alcançar até aqui foi em busca desse momento, do prazer de viver, da brisa confortável, das músicas nostálgicas, em busca da felicidade.

Era minha hora de retribuir ao cuidado que me proporcionou.

Era minha hora de retribuir ao cuidado que me proporcionou

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Paixão em vão e a buscaOnde histórias criam vida. Descubra agora