ei, minha salvadora.

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   ๋ ࣭ ⭑

meu quarto escuta
susurros que conto
durante o sono,
aclamações e pedidos desesperados
nunca contados ao nascer do sol

escrevo um diário invisível nas paredes
brancas e silenciosas
que me amortecem
do inalcançável

não sei se do amor,
porque eu ouvi na sua playlist
que o amor é uma palavra muito fora de moda.

então inovamos o vocabulário
com palavras nunca ditas,
mas agimos discretamente
na ponta dos pés
como bailarinas;

dançando esse amor que não é nosso.

eu assisto o teu sarcasmo
quando conto que voltei a fumar,
só de vez em quando.
eu não fumo
exceto quando sinto sua falta.

eu grito:
“ei,
ei, minha salvadora”
e percebo o nós
que deixamos para trás

do meu eu que tu moldou,
das partículas de meu corpo
que fizestes reservas,
e ele chama
pelo teu
todas as noites

em que sonho
e peço por um pesadelo,
e o universo me presenteia
com versos da sua voz
que ressona o meu adormecer
e me faz recitá-lo
para mais uma página
de histórias
proibidas e incertas

da morte prematura
de um beijo desajeitado,
o abraço necessitado
e das conversas
que nem em um milhão de livros
que eu pudesse escrever,
poderiam transparecer
como água
a tenuidade
de morar dentro de você.

se eu renascer como uma pedra
você vai me levar pra passear
no seu bolso?

vai lembrar de mim em outro corpo?
enxergar a minha alma de longe?

vai montar uma barraca com lençóis e travesseiros
só pra me receber e fazer do mundo
o nosso mundo?

eu chamo pelo teu nome como um mantra sagrado
e me recordo do teu cheiro quando vejo
as flores que me lembram você,
porque você está por toda parte,
espalhada em mim.

eu mostro o melhor de mim
escrevendo às 3:00 da manhã
querendo que você me encontre
no meio dos nossos desencontros.

implorando por um raiar suave do sol
e torcendo para que o vento leve embora
esse sentimento inacabado
que você deixou comigo,
e depois partiu, na neblina
dos significados
insignificantes,
do nós

que só existe em mim.

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