𝟎𝟏𝟐 | Casca De Salgueiro

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Faz seis meses desde que Louis decidiu retomar as aulas, após o doloroso ataque de Crossville. Desde então, por sugestão do próprio Louis, Christian tem frequentado a "escola". Ali, ele venho aprendendo e reaprendendo conteúdos que o tempo havia apagado de sua memória e redescobrira o quanto não se dava conta de que fazia tanto tempo desde a última vez que escrevera. Sua caligrafia — agora trêmula e desajeitada — era prova disso. Mas, contra todas as probabilidades, Christian se destaca na sala de aula, emergindo como um dos melhores alunos, quase sempre superado por Amélia Dawson, cuja incrível dicção na leitura é tão clara e cativante quanto o canto dos pássaros ao amanhecer e a fértil imaginação que parece não ter fim a tornam uma aluna exemplar.

Agora, ele está sentado ao lado de sua dupla em um banco de madeira que range a cada movimento com uma carteira a frente. A sala de aula — se é que pode ser chamada assim — é na verdade uma garagem de uma casa vazia. As mesas, cadeiras, livros e até a lousa foram resgatados de uma escola numa cidade próxima. Vinte e seis adolescentes estão espalhados pelo lugar — com idade dos 12 a 17 anos — cada um com sua dupla, encarando Louis, que escreve uma série de divisões na lousa. O ar está pesado de silêncio. Muitos alunos têm o olhar vazio, fixo em pontos aleatórios, perdidos em pensamentos profundos, enquanto outros encaram Louis, mas sem qualquer ideia de como resolver os problemas.

Quando Louis começa a pergunta para os alunos como resolvem, Amélia Dawson — com um romance aberto sobre a mesa — mal levanta os olhos do livro para responder, sua voz fluindo com facilidade, quase automática. Christian não consegue evitar, de vez em quando, lançar um olhar furtivo em sua direção com uma admiração e uma pitada de competição formando um nó em seu estômago. Antes que ela possa responder a próxima questão, ele se adianta, sentindo o peito inflar de orgulho ao se antecipar à resposta. Seus olhos encontram os dela por um breve segundo, como se desafiasse sua superioridade silenciosa.

Quando a aula finalmente terminou, ao meio-dia, Christian se despediu de seus amigos e das garotas — muitas das quais guardam um interesse velado por ele — e começou a caminhar pelas calçadas de Crossville, ao lado de Louis.

— Você manda bem — diz Louis, com um sorriso contido e a voz rouca de quem já viveu e ensinou muito.

Christian mantém o olhar fixo à frente, seus passos ecoando na calçada, como se quisesse se distanciar de uma verdade incômoda.

— Obrigado. Mas, sinceramente, não entendo por que temos que aprender divisão. Isso já não é importante — sua voz carrega uma ponta de frustração, como alguém que tenta se libertar de algo que considera obsoleto.

Louis solta uma risada baixa, mas não há escárnio nela, apenas paciência.

— Claro que é. Pense nisso: se precisar dividir 36 munições entre seis pessoas, o que você vai fazer? — Ele lança um olhar penetrante para Christian, que sente o peso das palavras, como se uma lição muito maior estivesse escondida ali. — Eu vejo potencial em você. Se o mundo voltar ao que era antes, cada pedacinho de conhecimento vai contar. E muito.

Christian finalmente vira o rosto, encarando Louis com um misto de dúvida e resignação. Os olhos jovens encontram os do professor, como se buscassem respostas para perguntas que ele nem sabia que tinha.

— Tá certo — murmura, mas sua mente já está longe, calculando o que está por vir. — Você vai com Henry, né? — O tom é quase uma tentativa de mudar de assunto, de desviar das lições para algo mais prático, mais imediato.

— Vou — confirma Louis.

— Certo. Te vejo quando estiver saindo.

Com o caminho livre e sem as carroças para atrasá-los, Henry e Sam voltaram ao refúgio no começo da manhã. A tensão entre os dois homens foi palpável desde que ouviram a notícia sobre Lexie. A princípio, a ideia de que Lexie poderia estar entrando em trabalho de parto acelerou seus corações, mas conforme Lexie descreveu seus sintomas — dor de cabeça, uma pontada aguda no lado direito do abdômen, e a sensação sufocante de falta de ar —, a preocupação tomou outra forma. Não tem ultrassom para saber como o bebê está e nem sequer saber o gênero. Mas Henry e Sam sabem muito bem que se trata de uma "pré-eclâmpsia".

The Dead Come Back To Life: O Caminho Para CrossvilleOnde histórias criam vida. Descubra agora