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**Safira**

Já passa das 23 horas, e ainda estou ensaiando. A escola está praticamente vazia, o silêncio do prédio amplificando cada som dos meus movimentos. Além de mim, sei que há outros dois alunos que também preferem ensaiar à noite, e o segurança do prédio, que faz suas rondas de tempos em tempos. Mas, neste momento, é como se o espaço fosse todo meu.

Meu corpo está suado, cada músculo trabalhando ao máximo, e o cansaço começa a pesar, mas é um tipo de exaustão que eu conheço bem, aquele cansaço bom, que vem depois de horas de dedicação. A dança é meu refúgio, minha fuga do mundo lá fora, e aqui, no chão do estúdio, com a música preenchendo o espaço, eu posso deixar tudo de lado, pelo menos por um tempo.

Os espelhos refletem cada movimento, cada giro, cada salto, e eu me perco no ritmo, deixando que meu corpo conte a história que as palavras não conseguem expressar. A batida da música pulsa através de mim, e eu me concentro apenas no próximo passo, na próxima nota, no próximo gesto.

O suor escorre pelo meu rosto, meu corpo grita por descanso, mas eu não paro. Não ainda. Há algo na solidão deste momento que me dá força, como se cada gota de suor fosse um lembrete de que estou viva, que posso superar qualquer coisa. A escuridão lá fora, o silêncio ao meu redor, tudo desaparece enquanto me movimento, perdida na dança.

A dança é o que me mantém de pé, o que me permite continuar, mesmo quando tudo parece estar desmoronando. Aqui, neste estúdio vazio, posso ser quem sou, sem medos, sem preocupações. Posso ser livre.

E mesmo que o cansaço comece a pesar, sei que não vou parar até que o corpo finalmente ceda. Porque cada movimento, cada minuto passado aqui, é uma vitória, uma prova de que posso seguir em frente, não importa o que aconteça.

Faço uma pausa para beber água, o corpo pedindo um momento de alívio. Pego a garrafinha e me sento no chão, tentando recuperar o fôlego. A sensação do piso frio contra a minha pele é reconfortante depois do esforço intenso, e, sem perceber, escorrego e me deito, abrindo os braços e as pernas, deixando meu corpo relaxar por alguns minutos.

Por alguns minutos, fico assim, de olhos fechados, tentando acalmar minha respiração e deixar a mente esvaziar. É um momento de pura tranquilidade, onde todo o esforço e suor parecem valer a pena. Mas, de repente, sinto um arrepio gelado subir pela minha espinha, como se o ar ao meu redor tivesse mudado de temperatura.

Abro os olhos rapidamente, meu coração batendo mais rápido. Sento-me de uma vez, varrendo o ambiente com o olhar, mas não vejo ninguém. A sala está como sempre esteve, vazia e silenciosa, mas a sensação de que alguém estava me observando persiste.

Olho para a porta da sala e percebo que está aberta. Não me lembro de tê-la deixado assim. A sensação desconfortável de ser observada não desaparece, e começo a questionar se foi apenas minha imaginação ou se há realmente algo — ou alguém — ali.

Tento me convencer de que estou apenas cansada, que o silêncio e a solidão estão pregando peças na minha mente. Mas o frio na espinha não some, e eu não consigo ignorar o instinto que me diz para ficar alerta.

Respiro fundo, tentando acalmar meus nervos, mas a ideia de continuar a ensaiar sozinha nesta sala vazia de repente não parece tão atraente quanto antes. Eu me levanto lentamente, meus sentidos agora em alerta, tentando decidir o que fazer a seguir. O desconforto persiste, e a noite, que antes parecia tranquila, agora parece carregada de tensão.

Decido não cair na pilha do meu próprio nervosismo. Talvez seja só o cansaço falando mais alto, e não faz sentido deixar a mente pregar peças. Resolvo recolher minhas coisas e voltar para casa. Junto minhas coisas rapidamente, colocando tudo na mochila, e caminho em direção à recepção.

Set Me FreeOnde histórias criam vida. Descubra agora