· White rabbit

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Satoru Gojo

Depois que terminei com Suguru saí do vestiário às pressas e fugi pelos corredores até a biblioteca. Não quero correr o risco de encontrar meus amigos bem agora e ter que explicar a eles que transei com o mesmo cara que é filho do diretor, algo que quase acarretou minha morte. Então,
decido ocupar minha mente com o problema de “S”.

Mesmo desconfiado, sinto um desejo visceral de manter as comunicações com a figura misteriosa. Se ele quer me ajudar – à sua maneira deturpada –, não posso me dar ao luxo de ignorá-lo. E se estiver mesmo apenas brincando comigo… então tenho a
chance de capturar o desgraçado por trás de tudo isso com minhas próprias mãos. De uma maneira ou de outra, preciso convencê-lo a se encontrar comigo.

Passo pelo hall de entrada da biblioteca, onde dezenas de alunos se acomodam nas mesas redondas e estudam em silêncio
sob a luz amarela do lugar. O sr. Jones está em seu balcão, lendo algo com uma lupa próxima aos olhos. Vincos profundos
maculam sua testa, e o rosto está todo contraído enquanto se concentra.

Eu me encaminho em direção à estante de botânica. Durante o caminho, penso no bilhete que escreverei. Preciso parecer
vulnerável e desesperado a ponto de convencer “S” de que poderá fazer o que quiser comigo caso nos encontremos – seja me matar, me manipular ou me mostrar outro segredo sórdido deste lugar. Nunca fui um bom ator, mas sou um bom escritor, então não será muito difícil.

Devido à pressa, não acendo os abajures nas paredes.

Alcanço a seção de Naobito. Retiro o livro grande e pesado que estamos usando como caixa de correspondência e observo que,
ao seu lado, ainda há o vazio deixado pela retirada do livro histórico da Masters – o livro que contém a data da morte de Haibara.

Abro o exemplar de botânica por hábito, não espero encontrar nada em seu interior.

Afinal, nem sequer respondi ao último bilhete de “S”. No entanto, um papel dobrado e amarelado cai aos meus pés.

Ele me escreveu de volta tão cedo?

Me agacho e apanho o bilhete, esquecendo o livro no chão ao lado. Abro-o.

“Então, sr. Gojo, o que acha de ter o Gasparzinho como melhor amigo? Ele é mesmo um camarada, ou só mais um
espírito maligno coberto por um lençol branco? Isso certamente daria um bom roteiro de filme, se você conseguir escapar da Masters com vida para escrevê-lo. De que gênero seria? Fantasia? Realismo mágico? Não, sr. Gojo, isso não é uma fantasia, isso é a vida real. E você precisa mergulhar nas entranhas dela para achar seu irmão.

Já parou para pensar no motivo pelo qual esse colégio fica no centro de uma ilha no meio do nada? Quanto mais afastado
está o rebanho, mais fácil para a matilha estripá-lo. Assim como um iceberg, o que está acima da superfície deste lugar é apenas a ponta. Pode imaginar os horrores que existem na parte submersa?
No lugar onde a luz do sol não alcança e demônios correm livremente, como no próprio inferno?

Seus amigos podem tentar te persuadir, mas sei que você já está perdido na trilha por respostas, sr. Gojo. Agora que
sabe que o desaparecimento de seu irmão foi orquestrado, está na hora de retornar ao subsolo… e encontrá-lo.

— S”

É o recado mais longo até então, e talvez o mais claro. Está me dizendo que Calvin está no subsolo. Devo acreditar nele? Ou
está me atraindo para a armadilha que Haibara mencionou?

-» Entre neblina e desejo / SatosuguOnde histórias criam vida. Descubra agora