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Helena

── Ah, eu vou surtar. — Resmunguei enquanto amarrava meu cabelo na frente do espelho e notei o olhar de Medina sobre mim, confuso. ── Tá olhando por quê, capeta?

Percebi que fui grossa tarde demais, só estou estressada e acabei descontando nele sem querer. Gabriel ficou em silêncio e voltou a mexer no celular. Aproximei-me dele e sentei sobre suas pernas enquanto abraçava seu tronco e beijava sua bochecha, sentindo suas mãos rodearem minha cintura.

── Desculpa, não queria ter sido grossa. Só estou estressada, mas não é com você! — Falei, segurando o rosto dele, e ele riu levemente.

── Relaxa, já estou acostumado com a sua personalidade. O que aconteceu? — Perguntou de forma prestativa enquanto me prendia no colo.

── Minha mãe. — Resumi. ── Lembra que eu te contei que meu pai morreu quando eu era pré-adolescente? Pois é, aparentemente, como ela vai casar agora, vai perder direito nos bens dele. Só que ninguém sabia que ele tinha esses bens; ele simplesmente não contou para ninguém, mas está no testamento, testamento esse que nem eu nem a Helô nunca soubemos. Mas eu tenho certeza que a nossa mãe sabia. Enfim, eu não quero nada, de verdade, mas vou lá assinar para abrir mão da minha parte mais tarde, vou deixar para a Helô, seja lá o que ela possa ter no nome dele.

── O que seu pai fazia além de ser surfista? Ou isso era o emprego dele?

── Era hobby, na verdade. Ele sempre contava que o sonho dele era ser profissional nessa área, mas não conseguiu vingar porque precisou trabalhar cedo para ajudar a família dele, e em seguida minha mãe engravidou também. Então ele teve que fazer o papel dele, e como o surf não dava dinheiro... — Contei enquanto encarava a paisagem pela janela. ── Meu pai era pintor, já foi pedreiro também, não tinha uma profissão fixa. Tudo que aparecia e que dava dinheiro ele pegava. — Contei sorrindo, com saudade e orgulho na voz.

Gabriel arqueou as sobrancelhas e sorriu; parecia interessado no assunto.

── Me conta mais. — Pediu. ── Sei pouco sobre seu passado, sua família. Eu quero saber!

Eu ri levemente, me ajeitando no colo dele e encarando seus olhos.

── Minha infância foi tranquila, eu tinha uma condição melhor por causa da minha mãe; ela vem de família rica e meus avós sempre nos ajudaram. Mas se fosse só meus pais, teria sido difícil. Os dois eram adolescentes quando a Helô nasceu, e eu vim três anos depois. — Resumi. ── Mas eu acho que, sei lá, ter crescido nesse ambiente não foi a melhor coisa do mundo, mas me fez enxergar que as coisas não giravam em torno de dinheiro, sabe? Isso abriu muito meus olhos, principalmente depois da morte do meu pai.

── Por quê?

── Porque eu preferiria mil vezes não ter tido acesso a mais da metade das coisas que eu tive e ter vivido apenas com o meu pai. A minha mãe... Ela é difícil, Gabriel, a gente sempre brigava. Quando eu era criança, ela me batia para caramba também e depois tentava me compensar com presentes. Com meu pai nunca foi assim, era ao contrário... — Falei, parando de falar após sentir as lágrimas ameaçarem escorrer. Foi então que ele me puxou para deitar consigo enquanto me abraçava firme, fazendo cafuné no meu cabelo.

── Sinto muito. — Falou e beijou o topo da minha cabeça. ── Parece que a dor nunca vai embora, né?

── É, mas tá tudo bem. — Falei, engolindo o choro. ── Bom, e você?

lentes no horizonte, gabriel medina. Onde histórias criam vida. Descubra agora