Eu senti o sangue gelar ao ler a mensagem, mas não tive tempo para processar o que aquilo significava. Beto, alheio ao que eu acabara de ver, ligou o carro e começou a dirigir, o silêncio novamente preenchendo o espaço entre nós.
As palavras da mensagem ecoavam na minha mente. "Cuidado com quem você confia." O que isso significava? Quem poderia estar me ameaçando dessa forma? E por quê? Olhei para Beto, a angústia borbulhando dentro de mim, mas a coragem para falar se esvaindo a cada segundo. Ele estava concentrado na estrada, mas eu sabia que seu pensamento ainda estava no ultrassom, nos sentimentos mistos que esse momento havia despertado.
— Beto... — comecei, minha voz hesitante.
Ele olhou de soslaio, um olhar rápido, antes de voltar a atenção para a estrada. — O que foi? Você está bem?
Assenti rapidamente, tentando parecer mais confiante do que realmente estava. — Sim, eu estou... Só estou preocupada. Sobre o que vem a seguir, sabe?
Era uma meia-verdade, uma tentativa de desviar a conversa para algo que não envolvesse a mensagem perturbadora que eu ainda não conseguia entender.
Beto franziu o cenho, mas não questionou. — Nós vamos dar um passo de cada vez, Júlia. Eu sei que a gente tem enfrentado muita coisa, mas eu tô aqui com você. Sempre estarei.
Queria acreditar nisso, mas algo me dizia que a situação estava fugindo do nosso controle. E, naquele momento, não sabia como ou se deveria contar a ele sobre a mensagem.
Seguimos em silêncio, o som do motor do carro sendo o único barulho que preenchia o ambiente. Quando finalmente chegamos à casa de Beto, ele estacionou e ficou em silêncio por um momento antes de desligar o motor.
— Júlia, eu... — Ele começou, mas as palavras pareciam escapar dele. Era raro vê-lo hesitar. — Eu sei que a gente precisa conversar sobre tudo o que aconteceu hoje. Mas acho que antes de qualquer coisa, precisamos de uma pausa, um momento para respirar.
Eu não podia discordar. O dia havia sido emocionalmente exaustivo, e, apesar de todas as incertezas, tudo o que eu queria naquele instante era um pouco de paz. Mas sabia que aquela paz seria temporária. A mensagem ainda estava lá, uma sombra pairando sobre mim, uma ameaça velada que eu não sabia como enfrentar.
— Tudo bem, Beto. Vamos entrar.
Subimos as escadas até o apartamento, cada passo aumentando a tensão em meu peito. Assim que entramos, Beto me puxou para um abraço apertado, como se tentasse transmitir todas as emoções que não conseguia colocar em palavras.
— Eu te amo, Júlia. — Ele murmurou em meu ouvido, e eu sabia que ele estava tentando se redimir pelos erros do dia.
— Eu também te amo. — Respondi, minha voz trêmula. E era verdade. Mas ao mesmo tempo, sentia que algo grande e perigoso estava se aproximando, algo que nem o nosso amor poderia facilmente resolver.
Nos minutos seguintes, tentamos seguir uma rotina normal. Beto foi para o quarto enquanto eu me encaminhei para a sala, tentando colocar os pensamentos em ordem. Não conseguia tirar os olhos do celular, a mensagem ainda aberta na tela. Quem tinha tirado aquela foto? E por quê? Antes que pudesse me perder em mais especulações, ouvi um barulho vindo do quarto.
Beto estava lá, a porta entreaberta, e eu podia vê-lo sentado na cama, olhando para o vazio.
Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, precisaria falar sobre a mensagem. Não podia esconder isso dele. Mas como contar que, além de todos os nossos problemas, agora havia alguém lá fora que queria nos ameaçar?
Finalmente, tomei uma decisão. Caminhei até o quarto, o celular ainda na mão, e entrei. Beto me olhou, seus olhos imediatamente captando a preocupação no meu rosto.
— Júlia, o que foi?
Respirei fundo, lutando contra o medo que apertava meu coração. — Beto... eu recebi uma mensagem. E acho que você precisa ver isso.
Ele franziu a testa, claramente confuso, mas estendeu a mão para pegar o celular. Quando seus olhos caíram sobre a tela, vi a mudança em sua expressão. De confusão para preocupação, e finalmente para algo mais sombrio.
— Quem te mandou isso? — Sua voz era controlada, mas percebia-se o esforço que ele fazia para manter a calma.
— Eu não sei... Beto, o que isso significa? O que está acontecendo?
Ele olhou para mim, seus olhos agora cheios de uma determinação feroz que eu conhecia bem. — Significa que alguém está tentando nos intimidar. E isso não vai ficar assim.
— O que você vai fazer? — Perguntei, sentindo o medo crescendo novamente.
Beto se levantou, os olhos fixos nos meus. — Eu vou descobrir quem fez isso. E vou acabar com essa ameaça antes que ela possa chegar até você.
Eu queria acreditar que ele poderia fazer isso, que ele poderia nos proteger. Mas, ao mesmo tempo, uma sombra de dúvida começou a se enraizar profundamente em meu peito. Estávamos entrando em um território perigoso, onde as coisas poderiam facilmente sair do controle. E, pela primeira vez, o medo de perder Beto, de vê-lo se envolver em algo que não poderíamos enfrentar juntos, se tornou quase insuportável. Era como se, ao seu lado, eu estivesse me aproximando de um abismo escuro e profundo, onde um passo em falso poderia significar o fim de tudo que conhecíamos. E, naquele instante, a realidade de que talvez eu estivesse mais segura longe dele se tornou uma ideia aterradora, mas impossível de ignorar.
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Laços Invisíveis | capitão nascimento
FanfictionQuando o vi pela primeira vez, não sabia que aquele homem duro e imponente mudaria minha vida para sempre. Eu, Julia, uma jovem com tantos princípios, sempre sonhei em fazer justiça, mas nunca imaginei que minha luta me levaria a um amor tão intenso...