Carta 1:Reflexos da Perda: Olhos Brancos e Corações Quebrados

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Sabe quando você decide amar alguém, mas essa pessoa simplesmente não dá a mínima? Estou vivendo isso intensamente. Estudo no 9 ano e estou em minha reta final rumo ao primeiro ano do ensino médio , tenho um colega que conheço desde o primário. Ele é heterossexual e, desde que me assumi, uma amiga decidiu gritar para a sala toda que eu o amava. Foi constrangedor! Ele ficou visivelmente estranho e se afastou por um tempo, mas depois voltou a conversar comigo, embora com um tom de deboche sutil.

Às vezes, me pergunto se, no fundo, ele pode ser um gay enrustido, mas não tenho como confirmar isso. Ele adora se mostrar como o "machão" na frente dos outros, pega várias garotas e vive se exibindo. Recentemente, ele marcou de sair com uma amiga minha, mas, para minha surpresa, disse que já tinha ficado com outra e que não queria mais. Isso me deixou profundamente irritado! É como se ele estivesse competindo para ser o maior pegador do universo, e eu não consigo entender por que ele precisa agir assim.

Por mais que eu sinta frustração e tristeza, às vezes sinto até pena dele por se comportar dessa maneira. Ele parece preso a uma imagem que não é a verdadeira dele. É uma situação complicada, e eu me pergunto se um dia ele poderá ser mais autêntico.

Infelizmente, não posso fazer nada a respeito. De alguma forma, ainda gosto dele, mas me sinto perdido e com medo. Acredito que não devo tentar novamente, considerando tudo que passei. Acho melhor deixar esse coração ferido cicatrizar com o tempo. Às vezes, sinto culpa por amar alguém assim e me pergunto por que tudo isso acontece. Para ser sincero, não sei. O amor é confuso e, ao mesmo tempo, doloroso.

 Como disse o psicólogo e especialista em relacionamentos, Dr. John Gottman: "O amor é uma força poderosa que pode nos curar, mas também nos machucar profundamente." Ele nos faz sentir alegria e empatia, mas, em alguns momentos, também nos traz dor.

Remeto o amor ao coração em um sentido metafórico, pois sabemos que ele vem do nosso subconsciente. Passei por tantas coisas na vida, mesmo sendo jovem. Fiz escolhas que não me levaram a um bom caminho; errei, me machuquei e me relacionei com pessoas mais velhas, buscando satisfação, mas correndo riscos e preocupações.

De alguma forma, isso não me machuca tanto. Eu não sinto muitas coisas, sabe? Coisas que parecem irrelevantes ou relevantes. Isso não quer dizer que eu não sinta sentimentos, dor ou qualquer coisa do tipo; simplesmente deixo para lá e não sou muito afetado por isso.

Não quero que vocês achem que eu sou louco ou psicopata, só sou assim desde que era criança. Bom, pois em determinado dia recebi a notícia de que minha avó tinha falecido. Minha mãe estava na ambulância com ela, saindo da minha cidade para poder ir para a mais próxima, pois eu moro em uma cidade do interior. Aqui não é uma roça total; tem academia, sorveterias, igrejas, lanchonetes, mas não tem muitas coisas de cidade moderna, como hotéis, shoppings e outras coisas. Tem até um hospital, mas infelizmente ele não serve para muita coisa, só para tomar soro na veia.

Enfim, voltando ao caso da minha avó, elas saíram do hospital em uma ambulância e estavam no meio da estrada para a cidade grande mais próxima, onde o atendimento era melhor. Elas já tinham ultrapassado o posto de gasolina que fica perto da estrada quando, de repente, minha mãe percebeu que os olhos da minha avó reviraram e ficaram brancos. Eles deram choques, mas nada adiantou. Infelizmente, ela não resistiu e morreu ali mesmo.

Minha mãe chegou em casa, e meu avô, esposo da minha avó, estava lá sentado no sofá, à espera de uma resposta, com os olhos cheios de lágrimas. Minha mãe lhe disse: "Painho, ela morreu." 

*Painho: Termo carinhoso usado em algumas regiões do Brasil para se referir ao pai ou a um avô. É uma forma afetiva de expressar a relação familiar.*

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