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Helena

Em todos os meus vinte e três anos de vida, eu nunca imaginei que um dia iria sentir pena do Scooby, não como eu estava sentindo agora. Após sair o resultado positivo e comprovar que sim, ele é filho do meu pai, ele literalmente se isolou e ficou no canto dele. Tanto a Mari quanto o Medina tentaram conversar com ele, mas ele não quis tocar no assunto. Nem eu e nem ele sabíamos disso, aparentemente.

── Só não entendi por que ele ficou com raiva disso, tipo, tá bolado. — Gabriel falou e parecia confuso. Marina o encarou enquanto bufava.

── Não é óbvio? A relação do Pedro com o pai biológico dele é péssima porque ele nunca procurou ele, tiveram pouco contato e ele ainda foi dado para adoção porque até a mãe biológica dele o rejeitou. Deve doer nele saber que o pai dele assumiu a outra família e ele não! — Marina falou como se fosse óbvio, e eu cruzei os braços. Ela tem razão, não consigo nem imaginar como deve ser essa sensação.

── Vai falar com ele. — Gabriel me olhou.

── Eu não! Ele precisa de tempo e de espaço, ele não quis falar com você, que é o melhor amigo dele, e nem com a Mari, que é namorada dele. Esperem o tempo dele, uma hora ele vai se abrir! — Respondi firme, intercalando o olhar entre os dois.

── Gabriel, leva ele para surfar. — Marina falou convicta. ── Ele vai topar!

── São onze da noite!

── E daí? — O encarei. ── Vai animar o teu amigo, Medina, anda!

── Tá bom. — Ele bufou, se virando e indo até o mesmo.

Me sentei em frente ao quiosque junto de Marina enquanto observava eles conversando ao fundo. Scooby parecia mais aberto. Mais cedo, o Gabriel resolveu fazer uma brincadeira péssima no Twitter, e agora o nome do Pedro tá nos mais comentados como pai ausente. Eu fiz ele desmentir e ameacei colocá-lo para dormir com a cachorra depois que vi que o meu nome saiu até na Choquei de novo. Tudo ficou bem!

── Que loucura. — Marina comentou ao meu lado, passando a mão entre os cabelos. ── A Helô já sabe?

── Sabe, e ficou tão em choque quanto eu. — Falei, vendo os dois caminhando com suas pranchas até o mar. ── Que brisa pensar que eu e o Pedro somos irmãos por parte de pai, tipo, nós somos cunhadas!

── Lê, seu pai nunca comentou sobre isso? Como isso aconteceu? — Me encarou. ── Ele é mais velho do que você, uns onze ou doze anos mais velho. Seu pai não estava com a sua mãe?

── Não, minha mãe engravidou aos dezessete, minha mãe era criança quando meu pai teve o primeiro filho dele. — Falei sem encarar um ponto fixo. ── E a mãe dele? Você não sabe nada sobre?

── A mãe dele era adolescente também, se não me engano, a mesma idade que a sua teve a Helô. — Respondeu. ── Criou ele até os dois anos de idade e o deu para adoção antes de cair no mundo errado, se é que me entende. Ele guarda rancor deles até hoje!

── Perceptível, a reação dele. — Falei mexendo na areia com o dedo.

── É foda pensar que o errado nessa história é o meu pai.

── Você também tá para baixo, né?

── Pior que não, mas eu quero saber o porquê. Eu tenho certeza que minha mãe sabia dessa história. Impossível, Mari!

lentes no horizonte, gabriel medina. Onde histórias criam vida. Descubra agora