Capítulo 13

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A coisa que mais detesto sentir é medo.

Eu sei que não sou fraca nem frágil, sei até que não sou fácil de intimidar.

Mas quando sinto medo, sinto que sou o contrário disso. Sinto nojo de mim própria.

Por isso, caminho pelos corredores do Dois com uma cara que deve meter medo, porque com cada pessoa com que me cruzo, a expressão que refletem na minha é semelhante a pânico leve.

Abro a porta com brusquidão e sento-me na primeira cadeira que vejo, em frente à longa mesa presente na maioria destas salas.

- Estamos de mau humor hoje?

A voz do Raven deveria fazer-me tremer ainda mais, mas acho que sinto mais raiva de mim própria do que... Esperem... Então eu sinto raiva porque sinto medo, já que sinto medo e sinto raiva disso, e sinto medo do Raven agora, mas como sinto raiva por sentir medo, não sinto tanto medo como sinto raiva de sentir medo, pelo que sinto mais raiva que medo e não sinto medo mas sim raiva.

É. Ou coisa assim.

- Qual é o trabalho sujo que deseja que faça hoje por si, senhor?

O Raven semicerra os olhos na minha direção, mas ignora o sarcasmo na minha voz.

No centro da mesa já está projetada uma planta de um edifício, pelos vistos, gigante, assim como algumas fotos de pessoas que não reconheço.

- O que observas é a base do nosso aliado...

- Do seu aliado - corrijo-o.

Ele sorri, mas os olhos mantêm-se afiados como vidro e frios como gelo.

- O que observas é a base do nosso aliado. Chama-se NQ. O chefe é o que poderias chamar um "macaquinho de imitação". O seu pseudônimo é Owl. Tem uma obsessão pela organização da AMON e tenta organizar e gerir a NQ da mesma forma que eu faço com a AMON. Fazemos negócios diversas vezes, mas temos também diferenças. Eles são reconhecidos pelo governo ao contrário de nós, e tiveram a liberdade de construir uma sede em terra, à vista de todos. Acontece que esse lugar é, nada mais nada menos, que um quartel de Ismetris, e que por isso é uma fachada. Os verdadeiros assuntos tratados na NQ são cuidados em circunstâncias similares à nossa.

- Oh, não me diga...

- Cala-te.

- Calada.

- A NQ possui um sistema de túneis muito similar ao nosso, debaixo do edifício superior, com vários andares, várias entradas, e muita segurança. É lá que tratam dos verdadeiros assuntos, coisas que o governo tem e não tem conhecimento. Apesar de ser uma estrutura admirável e da segurança ser forte, não é infalível.

Suspiro.

- O que é que quer que vá roubar afinal? Vá direto ao ponto. E se são aliados, porque não pedir-lhe diretamente o que quer?

Ele lança-me outro olhar mortífero, um aviso. Da próxima não terei tanta sorte.

- A tua missão é... digamos que uma espécie de acordo.

- Oh? - interessante.

- Eu sei que queres sair daqui no teu aniversário, Garnet, aliás deixaste isso claro. Por isso, eu tenho um acordo para te propor: esta missão vai decidir se te vais libertar daqui ou não. Se fores bem sucedida, vou considerar este o teu último grande serviço e libertar-te mais cedo. Se falhares, vais ficar aqui mesmo depois do teu aniversário, até eu decidir soltar-te, e trabalharás até lá como a boa agente que tens sido.

Fixo-me nele, não tendo a certeza se ele está a falar a sério. Libertar-me? De verdade? Esta missão é tão difícil que ele me oferece liberdade se for bem-sucedida?

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