Claire Donovan

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O som da chuva batendo contra as janelas ecoava pela casa silenciosa, uma sinfonia inquietante que aumentava a sensação de solidão. Claire Donovan uma mulher loira de olhos azuis, estava sozinha em sua casa, um lugar que costumava ser seu refúgio, mas que naquela noite parecia se transformar em um labirinto de sombras e silêncios ameaçadores. O céu estava encoberto, e a escuridão lá fora parecia ter invadido o interior da casa, tornando cada passo uma jornada através do desconhecido.

De repente, as luzes piscaram e se apagaram, deixando Claire envolta em uma escuridão completa. Ela sentiu o coração acelerar, o som de sua própria respiração tornando-se mais audível. Com mãos trêmulas, ela pegou o celular e ligou a lanterna. O feixe de luz cortou a escuridão, mas não aplacou o medo que crescia dentro dela.

Claire estava em seu quarto quando tudo aconteceu, mas sabia que precisava checar o restante da casa. Ela começou a andar devagar pelo corredor, cada passo um desafio contra o terror que tentava dominar sua mente. As paredes, que ela conhecia tão bem, pareciam agora distorcidas, mais estreitas, como se o espaço estivesse se fechando ao seu redor. O som da chuva e do trovão do lado de fora era abafado, criando uma sensação de isolamento ainda maior.

A lanterna do celular iluminava o caminho, mas as sombras se moviam de forma estranha, como se algo mais estivesse se movendo junto com a luz. A escuridão parecia ganhar vida, seguindo-a a cada passo. Claire sentia a presença de alguém ali, mas quando ela virava a cabeça, não via nada além de escuridão densa e opressiva.

Quando chegou ao fim do corredor, ela parou de repente. Havia algo ali, uma sombra maior, mais densa, que parecia esperar por ela. Claire sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Seu instinto gritava para ela recuar, mas algo a impeliu a continuar, um impulso irracional de confrontar o que quer que estivesse espreitando no escuro.

Ela avançou, seus dedos apertando o celular com força. Quando a luz finalmente alcançou a figura, Claire prendeu a respiração. Havia alguém ali, uma silhueta humana indistinta, parada perto da porta da sala. O coração de Claire batia tão forte que ela achou que poderia ouvi-lo ecoar pelas paredes. Quem seria? Como haviam entrado?

Ela abriu a boca para falar, mas nenhum som saiu. A figura estava imóvel, sem rosto, apenas uma sombra densa contra a escuridão ao redor. Claire deu mais um passo, e foi então que a figura se moveu — mas ao invés de se aproximar, ela simplesmente desapareceu. A escuridão a engoliu em um instante, como se nunca tivesse estado ali.

Claire ficou parada, a luz da lanterna tremendo em sua mão. A figura havia sumido tão rapidamente quanto apareceu, deixando apenas o vazio no lugar onde estava. A sensação de que ela não estava sozinha ainda persistia, mas agora era pior — porque quem ou o que quer que estivesse ali, não queria ser visto. Ou, pior ainda, não queria ser encontrado.

Seu coração ainda disparado, Claire deu alguns passos para trás, mantendo a lanterna apontada para onde a figura desapareceu. Ela sabia que algo estava errado, que a ameaça que antes se limitava às cartas agora havia invadido sua casa.

Claire acordou com um sobressalto, o coração batendo descompassado, a respiração entrecortada. Suas mãos agarravam o lençol com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos. Ela piscou, tentando ajustar os olhos à escuridão do quarto, apenas para perceber que estava de volta à realidade. Era apenas um sonho — o mesmo sonho que a assombrava todas as noites desde que as ameaças começaram.

Ela passou a mão pelo rosto, sentindo o suor frio que se formava em sua testa. Ainda era madrugada, o relógio ao lado da cama marcava 4:17 da manhã. A escuridão lá fora ainda era total, mas o som da chuva tinha diminuído, substituído por um silêncio denso, quase opressor.

Claire deslizou para fora da cama, os pés tocando o chão frio de madeira. Sentiu um arrepio subir por sua espinha, mas ignorou, forçando-se a levantar. Colocou o robe de seda azul claro, que contrastava com sua pele pálida, e caminhou até a porta da sacada. A cortina ondulava suavemente com a brisa que entrava pelas frestas.

Abrindo a porta da sacada, Claire saiu para o ar frio da noite. O vento era cortante, mas ajudava a clarear sua mente ainda enevoada pelo pesadelo. Ela acendeu um cigarro, a chama do isqueiro tremulando brevemente antes de estabilizar. Tragou profundamente, sentindo a nicotina percorrer suas veias e acalmar seus nervos.

A fumaça subiu lentamente, se misturando com a névoa que cobria a cidade. Claire observava as luzes distantes da cidade, que pareciam tão tranquilas, tão normais, contrastando com o caos em sua mente. Ela sentia como se estivesse presa em um limbo, entre a realidade e o pesadelo, incapaz de encontrar paz em nenhum dos dois.

Terminando o cigarro, Claire jogou a bituca para longe e voltou para dentro. Fechou a porta da sacada, mas não conseguiu afastar o frio que sentia por dentro. Caminhou até sua penteadeira, onde seu reflexo a observava do espelho. Ela parecia exausta, as olheiras marcadas abaixo de seus olhos azuis e a expressão de cansaço profundo em seu rosto. O tempo parecia pesar sobre ela, não apenas pelos anos de trabalho árduo, mas também pela tensão constante das ameaças que a cercavam.

Sobre a penteadeira, alguns bilhetes estavam espalhados, cada um trazendo palavras que ecoavam em sua mente como um veneno lento. Claire pegou um dos bilhetes, o papel fino amassado pelos dedos nervosos. "Eu sei o que você fez. Não adianta fugir." As palavras eram diretas, cortantes, como uma lâmina. Ela se lembrava do primeiro bilhete, recebido há semanas, e de como, desde então, sua vida se transformara em um ciclo interminável de medo e ansiedade.

Desde que essas mensagens começaram a chegar, Claire não teve mais uma noite de sono tranquila. Os pesadelos tomavam conta de sua mente, reproduzindo suas piores inseguranças e medos. E, a cada noite, a sensação de que estava sendo observada crescia, como uma sombra que a seguia onde quer que fosse.

Respirando fundo, ela soltou o bilhete de volta na penteadeira e afastou os pensamentos sombrios. Havia algo quase hipnótico em ver as palavras escritas ali, algo que a atraía e repelia ao mesmo tempo. Ela sabia que precisava se livrar daquelas cartas, mas a curiosidade mórbida e o medo a mantinham presa a elas.

Sem querer se olhar mais no espelho, Claire se dirigiu ao banheiro. Precisava se preparar para mais um dia, enfrentar mais um plantão no hospital, onde teria que esconder o caos interno que a consumia.

O banheiro estava escuro, exceto pela luz fraca que entrava pela porta entreaberta. Claire acendeu a luz, o brilho branco e impiedoso iluminando as paredes de azulejos. Ela deixou o robe cair ao chão, revelando a pele pálida e marcada pelo cansaço. A água quente começou a cair na banheira, enchendo o ambiente com vapor. O som constante e rítmico da água batendo na porcelana era quase reconfortante, uma fuga momentânea do turbilhão de pensamentos.

Ela entrou na banheira, a água quente abraçando seu corpo e aliviando a tensão acumulada nos músculos. Deixou-se afundar, fechando os olhos, tentando apagar a sensação de estar sendo vigiada que persistia, mesmo ali, na privacidade de seu banheiro.

Mas a paz durou pouco. Mesmo de olhos fechados, as palavras dos bilhetes se formavam em sua mente, uma após a outra, como se estivessem gravadas em sua memória. "Eu sei o que você fez." "Você vai pagar." "Estou te observando."

Claire abriu os olhos, fitando o teto branco do banheiro. Ela sabia que precisava enfrentar mais um dia, mais um plantão no hospital, mas algo dentro dela dizia que a ameaça estava cada vez mais perto, se aproximando como uma sombra que ela não conseguia escapar.

Ecos do Silêncio: Amor e Mistério no St. MargaretOnde histórias criam vida. Descubra agora