Novos Caminhos, Velhas Feridas

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Na manhã seguinte, o motorista de Stella parou o carro em frente a uma casa bastante humilde, um lugar totalmente diferente daquele onde a jovem havia passado toda a sua vida.

A residência de sua tia era pequena e simples, com uma fachada desgastada pelo tempo e um enorme quintal malcuidado. As paredes, pintadas em um tom de amarelo desbotado, exibiam sinais de infiltração. Havia uma cerca baixa e enferrujada que cercava o pequeno jardim, onde algumas poucas plantas lutavam para sobreviver.

Stella desceu do carro, seu corpo estava pesado, como se cada movimento exigisse um esforço imenso. Ela olhou para a casa e sentiu um aperto no peito, como se o mundo estivesse desmoronando à sua volta. A casa de sua tia era um reflexo cruel da nova realidade que ela teria que encarar. Aquilo era um lembrete constante de que sua vida de conforto e segurança havia terminado.

Ao atravessar o portão rangente e pisar no caminho de pedras irregulares que levava até a entrada, Stella sentiu o desconforto crescer dentro dela. A porta da casa se abriu e sua tia apareceu, uma mulher de aparência cansada, com rugas profundas ao redor dos olhos e cabelos grisalhos presos em um coque desajeitado. Ela forçou um sorriso ao ver Stella, mas seus olhos revelavam uma mistura de preocupação e incerteza.

— Bem-vinda Stella minha filha, quanto tempo hein — disse Beatriz sua tia, com uma voz hesitante. — Sei que não é fácil esse momento, mas a gente vai conseguir se ajeitar por aqui.

Stella apenas acenou com a cabeça, sem encontrar palavras.

— Sua prima foi no mercado comprar uma carne para a gente almoçar, daqui a pouco ela volta. Deixa eu te ajudar com suas malas. — Disse enquanto pegava duas das muitas malas que Stella havia trazido.

Neste momento, o carro que tinha conduzido Stella estava indo embora. Ela ficou ali, parada e acompanhando com os olhos enquanto o carro se afastava. Seus pensamentos estavam longe, pois ela sabia que a partir daquele momento, um novo caminho em sua vida estava sendo traçado.

Ao entrar na casa, foi imediatamente tomada por uma sensação de sufocamento. O interior da casa era ainda mais modesto do que a parte de fora demonstrava. A sala de estar era pequena, com móveis antigos e desgastados. Um sofá de tecido florido, já desbotado pelo tempo, ocupava o centro do cômodo. Uma televisão velha, com antenas tortas, descansava em um móvel de madeira escura. As cortinas, de um verde opaco, estavam entreabertas, deixando entrar uma luz fraca e filtrada.

Cada detalhe da casa era um contraste gritante com tudo o que Stella conhecia. Ela olhou em volta, sentindo-se deslocada e fora de lugar, como se estivesse em um cenário de pesadelo. A realidade parecia dura e implacável, esmagando qualquer vestígio de esperança que ela ainda pudesse ter.

Enquanto sua tia a guiava pelo pequeno corredor até o quarto que agora seria seu, Stella lutava para conter as lágrimas. O quarto era simples, com uma cama de solteiro coberta por uma colcha de retalhos coloridos. Um guarda-roupa antigo, de madeira escura, ocupava uma das paredes, ao lado de uma pequena mesa de estudos. Não havia espaço para as lembranças da vida que ela havia perdido, e isso apenas intensificava a sensação de que ela estava completamente sozinha nesse novo mundo.

Stella sentou na beira da cama e sentiu o peso da situação cair sobre seus ombros. Olhando para as paredes nuas do quarto, ela sentiu uma mistura de tristeza, raiva e desespero. Seu mundo, antes tão seguro e protegido, agora parecia desmoronar ao seu redor, deixando-a vulnerável e sem rumo.

A vida que ela conhecia havia terminado, e o futuro, rodeado de incertezas, se apresentava como um caminho sombrio e desconhecido.

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