09. Surpreendente, como um bolinho sem cobertura

45 6 4
                                    


— Isso foi horrível, Gyuvin! — Taerae diz, comendo seus salgadinhos enquanto dá risada de seu amigo emburrado no sofá da sala.

Gyuvin decidiu que era necessário conversar com alguém sobre seus sentimentos, porém quando começou a falar não imaginou que o garoto vestindo um terno horrível à sua frente fosse rir de sua cara. Ele falou da forma mais sincera e cômica tudo o que havia acontecido durante aquele mês.

Após o ver na varanda, com os últimos traços de sol batendo em seu rosto, deixando seus cabelos num tom dourado e o vento o fazia se balançar, assim como o coração de Kim balançou com uma cena tão cálida, e acabaria tudo muito bem, caso não tivesse tropeçado. Mas, logo depois disso ele sabia que era necessário conversar com alguém, tentar entender o que aquele sentimento tão repentino significava.

A fala de Taerae foi logo após terminar de contar todas as suas tentativas falhas de aproximação (loucura aos ouvidos alheios).

— Você sabe que ele, provavelmente, jogou o cupcake no lixo, não sabe? — O citado fez uma careta confusa, tentando entender o motivo. — Aceitar doce de um desconhecido?

— Ora, eu queria me desculpar, o que poderia fazer? Entregar pessoalmente? Ele me jogaria daquela escada!

— Você me disse que, possivelmente, ele não sai de casa e não se comunica muito com as pessoas, estou certo? — Balançou a cabeça de forma afirmativa, tentando entender onde seu amigo gostaria de chegar com isso — Se ele não estivesse intrigado, não o ajudaria, não olharia para você, bateria a porta em seu rosto muito antes de o cantar de uma forma chula. Só tente não invadir demais o espaço dele. E, principalmente, não sinta demais a ponto de se machucar.

Seu amigo o deixou sozinho no sofá e foi para a cozinha, deixando Gyuvin com vários pensamentos rondando em sua mente, pensando que, talvez, Taerae estivesse certo, foi estupidez deixar algo em sua porta e sair correndo igual um louco. Na próxima vez irá fazer tudo diferente.

No dia seguinte, Ricky preparou seu momento, um livro em mãos, a rádio em seu canal preferido, as janelas abertas para entrar o máximo de luz solar possível. O sol da manhã era confortável e deixava o clima ameno mesmo com o vento forte no lado de fora.

Ricky já se perguntará se comprar uma televisão resolveria o seu problema durante a noite, eram momentos solitários e o trazia alguns demônios adormecidos, seus próprios pensamentos o tornava uma bagunça, entre querer ser diferente e mudar após tantos anos escondido de tudo, se gostaria de conhecer a cidade novamente, não apenas a vista de sua janela, se gostaria de experimentar sensações novas. Pensava como encontraria sua tão almejada alma gêmea escondido em sua casa, pois sua pessoa, com certeza, o estava procurando também, era o único laço que ele gostaria de ter, um que dure para sempre, e mesmo que os fios se embaracem, jamais quebrará.

Shen esperava pacientemente o dia que sentirá algo além de tranquilidade e paz eterna, que se transformava em caos nas noites mais frias e solitárias, especialmente chuvosas e dolorosas. Mas a gota de esperança aquecia seu coração. Tinha alguém lá fora a procura de si, e sabia que algo o puxaria para ele.

Esperou seu café, sentado em seu sofá, com os olhos fechados, a respiração calma e sua barriga roncando. Novamente, o café estava demorando mais que o costumeiro, mesmo que Gunwook atrasasse uns minutos, nunca eram tantos, não o suficiente para ele implorar por comida.

Quando uma batida foi deixada em sua porta, levantou-se animado e pronto para dizer a Gunwook que da próxima vez morreria de fome. Mas, ao abrir a porta se deparou com o mesmo rapaz, que o fazia questionar muitas coisas ultimamente.

Desde que Kim apareceu em sua porta pela segunda vez, de forma nada convidativa ou conveniente — igual a todas as outras —, passou a questionar a si mesmo sobre o porquê o moreno parecia tão interessado em si, e porquê parecia que tudo levava Gyuvin até ele, ou o motivo para que ele sempre aparece em sua casa de formas inusitadas. Parecia um garoto adorável e determinado, arrancava algumas de suas risadas disfarçadas diárias, as únicas. Apesar da aparência desleixada e de quase sempre estar com as mesmas roupas, nada nele exala problema, na verdade, seu avental fazia transparecer o charme por trás dos cabelos ressecados e pele oleosa.

1982 AnalogiasOnde histórias criam vida. Descubra agora