Afundei-me no sofá, com o balde de pipoca equilibrado nas pernas, e, com um toque no controle remoto, dei play em Olhos Famintos. A tensão da trama logo me envolveu por completo como todas as outras vezes que assisti, cada cena me fazendo esquecer do mundo ao redor. Estava justamente na parte em que Darry, com a ajuda da sua irmã, desce o cano onde viu o Creeper jogar os corpos cobertos por lençois e eu sentia o coração bater mais rápido como se fosse a primeira vez que assistisse, a adrenalina correndo nas veias, e o som crocante da pipoca entre os dentes era a única distração além do terror que me envolvia.
No mesmo instante que o Darry cai no cano, o som brusco da porta se abrindo quebrou minha concentração, me fazendo pular de susto, o balde de pipoca quase escapando das minhas mãos, e o coração disparou ao ouvir meu nome sendo chamado. Virei a cabeça rapidamente, ainda com o pavor do filme pulsando em mim, e vi Roberto entrando na sala, exibindo aquele sorriso irritantemente confiante.
— Calma, meu amor... É só o homem dos seus sonhos — ele brincou, a voz carregada de malícia.
Revirei os olhos, tentando manter a compostura, embora sentisse meu corpo reagindo à presença dele de maneiras que eu preferia ignorar.
— Não tô vendo o Cauã Reymond por aqui — respondi com sarcasmo, jogando uma rápida olhada em sua direção antes de voltar minha atenção para a televisão, tentando me desligar da tensão que ele trazia consigo.
Ele se sentou ao meu lado no sofá, como se fosse um velho hábito nosso. Pegou um punhado de pipoca do meu balde, tocando de leve a minha mão, e eu o observei de soslaio, tentando não me deixar levar pela onda de calor que subiu pelo meu corpo só com o simples toque dele. Meu maior erro sempre foi olhar para esse homem; cada vez que nossos olhos se encontravam, parecia que meu corpo inteiro se incendiava, e controlar esse fogo era uma tarefa impossível.
Desde o dia em que ele me agarrou no meu quarto, e a Rosane quase nos pegou, venho evitando ao máximo ficar perto dele. O medo de minha irmã descobrir o que estava quase acontecendo entre nós era aterrorizante, me sufocando cada vez que ele estava por perto. Eu não queria magoá-la, não podia suportar a ideia de ser a causa da dor dela, e muito menos ser rotulada como a “puta” da família, aquela que trai a própria irmã.
Mas Roberto não tornava isso fácil. Cada vez que eu estava na cozinha, esperando o café ficar pronto na cafeteira ou pegando algo da geladeira, ele surgia do nada, se aproximando sorrateiramente. Sentia o calor dele nas minhas costas antes mesmo de ele me tocar, seus braços enlaçando minha cintura, o cheiro do perfume que ele usava impregnando o ar ao redor enquanto ele encostava os lábios no meu pescoço. Era um esforço gigantesco resistir, afastá-lo antes que algo acontecesse. Mas eu estava tentando, precisava tentar.
Naquela noite, porém, algo em mim estava vacilando. Observei-o com mais atenção, percebendo que estava especialmente bem arrumado. A camisa impecável, o cabelo cuidadosamente penteado... Antes que eu pudesse me controlar, as palavras escaparam da minha boca.
— Tava em um encontro? — perguntei, a curiosidade e um toque de ciúmes pingando na minha voz, antes que eu pudesse me dar conta.
Ele virou a cabeça para me encarar, um sorriso de canto se formando em seus lábios.
— Sim... — respondeu, sem hesitar, como se não fosse nada demais.
O incômodo cresceu dentro de mim, e senti a necessidade de revidar com implicância, talvez para manter alguma distância emocional.
— Esqueceu de levar o viagra, coroa? Porque ainda é cedo pra terminar um encontro — soltei, minha voz carregada de uma ironia que escondia a irritação.
Ele riu baixinho, a risada fazendo meu estômago dar voltas, e se inclinou um pouco mais perto, o rosto dele agora perigosamente próximo do meu.
— Meu viagra natural tá do meu lado... — murmurou, a voz baixa, cheia de provocação, seus olhos cravados nos meus, desnudando qualquer fachada que eu tentava manter. — Só de te ver, meu pau já fica duro, sabia?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Conexão Obscena
Fiksi RemajaQuando Marina, a cunhada de Nascimento, vem passar um tempo na casa deles para se preparar para um concurso, ele a vê apenas como uma responsabilidade extra em sua já tumultuada vida. No entanto, a proximidade diária e as conversas inesperadas revel...