Capítulo 24 - Acordo... Definido?

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Ethan narrando:

-- Parabéns pelo nascimento do seu filho. -- Ela acrescenta em inglês, em uma falsa cordialidade.

Parte de mim acreditava que ela não teria a ousadia de entrar em contato, mas o fez, talvez por desconhecer que a maior parte das minhas ligações, especialmente as de números não identificados, são automaticamente monitoradas. Ou, talvez, por ter perdido completamente o juízo.

-- Na verdade, parabéns pelos dois. A primeira ficou escondida por um tempo. -- Dafne concluiu com sarcasmo, como se já previsse, conhecendo minha antiga natureza, o que havia acontecido.

Neste momento, a manta de Charles cai acidentalmente sobre o tapete. Suas pequenas mãos permanecem no ar, confusas, como se não entendessem o desaparecimento repentino da manta. Antes que ele comece a chorar, me levanto, sem tirar o celular do ouvido, e recolho a toalha para devolver ao seu lugar.

Alguns segundos se passam, e Dafne, impaciente, volta a falar.

-- Não vai dizer nada?

Suspiro profundamente, quebrando meu próprio silêncio.

-- Neste exato momento, estou de pé, observando meu filho. Algo que, no passado, eu jamais imaginaria fazer, mas que agora me traz uma percepção completamente diferente. Não me vejo mais sem eles, e posso imaginar a dor que você passou. Sinto muito, Dafne, pela situação que te coloquei.

O silêncio que se segue do outro lado da linha parece inesperado, como se ela não estivesse preparada para uma conversa calma.

-- Diga o que está pensando. Você buscou minha atenção, e agora estou ouvindo. -- Falo.

-- E se eu dissesse que não realizei o procedimento que você pagou, o que faria? -- Ela pergunta.

Uma sensação gélida se espalha pelo meu peito. Charles ergue seus olhos inocentes para mim, balançando as pernas e sorrindo, mas me sinto incapaz de me mover.

-- Eu... -- Penso. Será que ela realmente não fez? Isso explica o risco que decidiu correr me ameaçando.
-- Eu tentaria uma guarda compartilhada com você... Eu não sei ao certo. -- Respondo, hesitante.

Não pode ser... Como eu vou contar isso para Aurora?

O silêncio recai sobre a ligação novamente, e pela primeira vez, sou eu quem insiste em uma resposta.
-- Você não fez? -- Pergunto.

-- Fiz, no mesmo dia que combinamos. Depois, tive que ligar para uma amiga me buscar, já que não podia sair sozinha de lá. Você voltou para o seu país, e eu me vi obrigada a descartar as ultrassonografias como quem se desfaz de contratos encerrados. Mas eu queria ouvir de você o que faria. Ele teria dez anos. -- Responde com uma tristeza que soa genuína.
-- Também queria ouvir que sente muito. -- Conclui.

-- Me diga, você me enganou porque não queria ser pai, porque não me amava, ou porque assumir uma prostituta não fazia parte dos seus planos? -- Ela questiona após.

-- Um pouco de tudo. -- Respondo.

-- Ok. -- Dafne diz, após um momento de silêncio, como se engolisse em seco.

-- Era só isso? -- Pergunto desacreditado.

-- Não posso deixar você seguir sua vida como se eu não fosse nada, me relegando à sua longa lista de espera. -- Dafne rebate.
-- Eu quero oitenta milhões de euros. Anseio por uma nova vida em outro país, uma oportunidade de recomeçar, livre do peso do meu passado, onde finalmente possa viver sem ser julgada por quem fui. -- Conclui.

Agora sim, estamos chegando a algum lugar. Se a ligação terminasse aqui, tenho certeza absoluta de que suas tentativas de procurar Aurora continuariam.

Um Descaso II - A Marquesa.Onde histórias criam vida. Descubra agora