Capítulo I

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Lucerys forçou suas pernas a continuarem avançando, mesmo enquanto seu corpo gritava por uma pausa, implorando por descanso depois de passar a noite fugindo na floresta densa, tropeçando em raízes erguidas, enredando-se em vegetação rasteira baixa e espinhosa, escorregando em pedras lisas do rio enquanto tentava em vão despistar seu perseguidor através da água.

Ele sentiu o coração batendo forte no peito, como se quisesse subir pela garganta e escapar pela boca, mas não conseguiu ceder à vontade de parar, não quando havia a possibilidade de finalmente ter conseguido despistar o monstro que o seguia, já que fazia algum tempo que não ouvia nada atrás de si.

O silêncio era tão perturbador quanto o som dos cascos seguindo.

O zumbido cortou o silêncio com um som ensurdecedoramente baixo, mas ainda alto o suficiente para que Luke virasse a cabeça na direção do som, antes de ser jogado para trás pela força do impacto contra seu peito.

A dor surgiu logo em seguida, e ele rapidamente percebeu que não era causada pela queda, mas pela flecha que saía de seu peito, logo abaixo da clavícula esquerda.

Lucerys sabia que esse era o fim. Não havia escapatória, mesmo enquanto ele se encolhia contra o tronco largo da árvore ao lado de onde havia caído, pressionando a mão direita contra a boca para não gritar de dor enquanto lágrimas traiçoeiras o cegavam.

No silêncio que reinava novamente, os cascos do cavalo se aproximavam. Lucerys não conseguia ver o animal ou o cavaleiro de onde estava, e rezou aos deuses para que assim permanecesse, pois se ele podia vê-los, significava que eles também o veriam, e Lucerys preferiria morrer escondido na floresta, agonizando pela perda de sangue e pela dor, do que encarar o destino que o aguardava nas mãos dos monstros que o soltaram na floresta com a única orientação: "corra".

- Taoba?!

Lucerys apertou os olhos, controlando sua respiração difícil para não fazer o menor barulho. A voz do monstro que eles o ensinaram a chamar de tio arrastou a palavra que significa "menino" na língua de seus ancestrais, tornando-a zombeteira. Uma provocação. O monstro sabia que sua presa estava perto e que não havia para onde correr.

Os segundos passavam como horas e, encolhido contra a reentrância no tronco da árvore, Lucerys sentia o gosto de sangue na língua enquanto mordia o próprio pulso para não fazer barulho — uma dor insignificante comparada à da flecha que ele não sabia como não o havia matado, talvez uma pequena misericórdia dos deuses que gostavam de vê-lo sofrer.

Quando os sons de passos soaram por perto, Lucerys sabia que seu tio havia desmontado e estava vindo para verificar ao redor da árvore onde ele estava escondido. Ele não podia ficar ali, mas para onde ele iria?

Percebendo que os passos vinham da direita, ele se esgueirou para a esquerda, contornando o tronco largo e adiando o inevitável.

Isso o colocou na linha de visão do garanhão que seu tio usou para persegui-lo na floresta. O animal estava parado, alheio ao papel que desempenhava no pesadelo de Lucerys, e não protestou quando o garoto investiu contra ele, revelando sua posição ao se jogar pela cela enquanto gritava de dor ao mover seu braço esquerdo, o que fez a flecha cortar ainda mais carne.

No momento seguinte, ele estava correndo com o cavalo para longe, um milissegundo antes que a mão pálida que se estendia para ele pudesse alcançá-lo. O uivo que o monstro deu ao ficar para trás encheu o coração de Lucerys com um medo gelado, mais frio que o ar da floresta invernal, mas um vislumbre de esperança floresceu ao mesmo tempo, afinal, ele estava se afastando do homem que pretendia ser seu assassino. Ou era isso que ele esperava, porque sem poder usar as mãos corretamente, o cavalo foi para onde queria ir, e tudo o que Lucerys podia fazer era encorajar o ritmo com os pés.

Run (don't let me get you)Onde histórias criam vida. Descubra agora