· Exodus

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Satoru Gojo

— É hora — digo aos quatro garotos reunidos no meu quarto.

Sukuna está parado na porta, os braços cruzados e o corpo inclinado levemente para frente. Nanami e Haibara se sentam na minha cama, de frente para mim, enquanto Suguru está próximo à janela e a brisa gélida da noite balança seus fios negros.

— Hora de…? — Haibara arqueia as sobrancelhas, acentuando
o tom de dúvida.

— De acabar com tudo isso de uma vez por todas — completo, firme e decidido. Depois do meu encontro quase letal com o demônio da floresta, não há nada que me faça voltar atrás dessa decisão. — “S” esteve tentando me convencer a ir ao subsolo do castelo nos últimos dias.

— Subsolo? — repete Nanami, no mesmo tom desnorteado de Haibara, que está ao seu lado.

— Uma porção da biblioteca que conecta o prédio à floresta — me apresso a explicar.

Viro de costas, abro o guarda-roupa e
apanho minha mochila. Abro-a e retiro de seu interior o primeiro caderno que vejo e uma caneta. Me ajoelho no chão, no
centro do quarto, equidistante aos quatro garotos ao meu redor, e faço um rabisco na folha, tentando ilustrar enquanto falo: —
Eu e Suguru já a usamos pra conseguir escapar daqui e procurar pelo Calvin na praia. É como um túnel com vários corredores e, segundo o zelador, tá fora do alcance dos alunos. — Quando
finalizo o rascunho da parte que conheço do subsolo, arranco a página e a estendo a Nanami e Haibara.

Sukuna encara de longe, desconfiado, e então resmunga:

— Então vocês dois foram juntos pra floresta…

— Sukuna — repreendo-o.

Ele revira os olhos, descruza os braços e, sem cerimônia, rouba o rascunho das mãos de Nanami. Analisa-o, e então
questiona:

— E como você descobriu esse lugar? — Antes de Nanami roubar o rascunho de volta e os dois trocarem olhares cheios de
farpas.

Deus, por que garotos são tão estúpidos?

— Não importa. — Me levanto do chão. — O que importa é que “S” quer que eu volte lá. Estou trabalhando com duas hipóteses. A primeira: tudo o que ele me falou até agora é mentira, e está me atraindo pra uma armadilha. A segunda: tudo o que falou é verdade. Nesse caso, tenho quase certeza de que meu irmão estará lá. — Caminho pelo quarto, impaciente e inquieto, a cabeça em frenesi. — Desde a primeira vez que entrei naquele lugar, tive uma sensação estranha, meio fantasmagórica, meio… extraterreste.

— Extraterrestre? — caçoa Sukuna.

— Estranha, é o que quero dizer. Não é um lugar normal. — Arrasto um polegar sobre os lábios quando balbucio: — Deve ser
por lá que o demônio de sombras invade o castelo.

E levo alguns segundos até perceber que mencionei a criatura na frente de Haibara e Nanami pela primeira vez. Eles me
fuzilam com olhares tão questionadores e suspeitos que sinto minha nuca queimar com certo embaraço. Só consigo me
convencer a explicar essa loucura em voz alta porque sei que há outras pessoas no mesmo cômodo que também já a
presenciaram:

— Tem uma criatura na floresta — explico aos dois na cama. — O Suguru, o Sukuna e eu já a vimos. É parecido com o Slender Man, sabem? Membros alongados, rosto sem definição. Mas essa coisa parece ser feita de sombras, pelo menos em partes, ou de algum tipo de escuridão… física.

-» Entre neblina e desejo / SatosuguOnde histórias criam vida. Descubra agora