Não importava quantas festas escondidas, quantos jogos de futebol americano ou quantas músicas fossem tocadas no pequeno rádio do dormitório, Max tinha certeza de que tudo aquilo era um saco. No seu último ano do ensino médio na Hawkins High School, a única coisa que importava era sair dali o mais rápido possível, nem que fosse preciso ir até outro estado apenas de skate.
Estava sentada à sua escrivaninha e tentava escrever uma redação obrigatória para uma das universidades parceiras do seu colégio, mas não conseguia fazer nada com a sua colega de quarto ouvindo um heavy metal que doía seus ouvidos naquele momento. Eugene costumava ser agradável, já que respeitava o espaço de Max e só a incomodava para passar algum recado da inspetora que aparecia ali duas vezes a cada seis meses. Sem incômodos. Mas naquele dia, parecia que uma nuvem acinzentada pairava sobre a cabeça da skatista, e decidindo que não ligava para o fato de ser odiada, levantou e desligou o rádio da colega de quarto. Eugene ficou sem reação, já que aquilo nunca havia acontecido em quase um ano inteiro.
— O que você fez? — A dona do rádio perguntou, irritada.
Max a olhou dos pés até a cabeça com o máximo de desprezo que queria descontar em alguém. Não precisava fazer tanto esforço, porque apesar de achar as mechas vermelhas legais, odiava a exagerada quantidade de maquiagem preta e batom vermelho. Se perguntava como aquela garota realmente queria ir para uma das melhores universidades do país ao invés de entrar em uma banda de Rock. Mas, para falar a verdade, apesar da aparência um tanto brutal, a garota tinha um grande interesse por jardinagem e confeitaria, trazendo estranheza para os que não a conheciam. A ruiva em sua frente era uma dessas pessoas.
— Eu não ligo se o volume dessa sua droga de rádio possa chegar na China, mas agora eu estou tentando escrever aqui, porra!
— O quarto não é só seu, Mayfield. — Rebateu. Depois de estourar o chiclete, levantou as sobrancelhas pintadas de laranja e levou as mãos até o rádio, que ligou mais uma vez.
Apesar de cerrar os punhos, Max tentou manter a calma e assentiu. Ela pegou sua folha já amassada e segurou firme junto com a caneta azul que escrevia. Fazia tudo isso olhando para Eugene, que tinha os braços cruzados e batia um dos pés no chão.
— Filha da mãe. — Max a xingou num sussurro enquanto caminhava para a saída.
— O que você disse?
A ruiva mostrou seu dedo do meio e bateu a porta com força.
Ela parou no corredor a fim de decidir que rumo tomaria, já que precisava de um lugar calmo e aquela era a última coisa que teria numa república estudantil. Respirando fundo, se recostou na porta e fechou os olhos. A música de Eugene havia terminado e um silêncio tomou o local, mas não durou muito quando ela escutou os gemidos de uma garota no quarto ao lado.
São dez da manhã. Pensou Max, franzindo o cenho.
Decidindo que sairia dali, a ruiva fez um impulso na porta usando o pé esquerdo e abriu um pouco os olhos para sair dali. Quase cegada pela claridade, não viu o rosto da pessoa que acabou batendo nesse processo.
— Eita! — Ouviu a pessoa ainda sem rosto dizer. — Você está cega, Maxine?
A ruiva abriu os olhos de uma vez ao ouvir aquela voz e piscou algumas vezes para se acostumar com a claridade das frestas da janela em sua frente. Ela encarou a outra com o cenho franzido.
— Foi mal. — Disse, engolindo em seco.
A garota parada a sua frente, Jane Hopper, olhou para o papel das mãos da ruiva e fez um som de desdém.
— Está ficando louca com essa droga de redação também? — A recém-chegada perguntou em um tom de voz mais ameno.
— Tipo isso... — Max respondeu, desviando o olhar. Estava impossível encarar Jane Hopper só de toalha parada na sua frente.