— Com licença, Camila? - Uma voz feminina vindo da porta do quarto do hospital me tirou a atenção do que eu estava escrevendo.
— Sim? - Respondi confusa e curiosa pra saber quem era, mas no fim, era só uma enfermeira.
— Perdão pela demora, o hospital está cheio - ela falou enquanto chegava mais perto e olhava pra Leo, que estava sentado nas cadeiras ao lado da cama - e como está o seu braço? - Falou colocando os olhos em mim.
— Dói muito, até mesmo quando faço o mínimo de esforço. - Falei com uma cara desconfortável, que é como eu estou, mas não só por causa do braço.
Ela passou um tempo examinando até que fez uma cara preocupada e falou:
— Parece que a fratura é simples, mas precisamos ter cuidado. Vou agendar um raio-X para termos certeza de que o osso está alinhado corretamente.
— Vai ser necessário engessar? - Leo se levantou preocupado.
— Provavelmente sim, mas isso é bom. - Ela respondeu - O gesso ajudará na recuperação e manterá o braço imóvel. Camila, preciso que descanse e evite qualquer esforço com o braço, ok? - Diante das palavras dela, eu só consegui concordar com a cabeça.
Quando ela saiu do quarto, o silêncio tomou conta por um momento. Leo suspirou e se recostou na cadeira.
— Vai ficar tudo bem, Leo - falei, tentando acalmá-lo.
Ele se sentou novamente, não consegui decifrar se ele estava nervoso ou com raiva.
— Eu sei, só não gosto de ver você assim.
— Como braço quebrado? - Falei tentando quebrar o clima pesado, que por si só, as paredes brancas do Hospital já causavam.
— Não só isso, você devia ter aceitado que ela ficasse Camila.
— Não, Não precisava.
— Mas ELA queria.
— Mas EU não. - Falei com a voz firme - Ela não tem mais nenhuma ligação comigo, se é que um dia teve, então não tem porque ficar no hospital comigo.
Leo bufou, mas não insistiu. Ele sempre respeitou meus limites, mesmo quando não concordava.
— Eu entendo, só quero que você fique bem.
— Eu sei, Leo. E eu vou ficar - sorri de leve para ele, tentando tranquilizá-lo.
Voltamos ao silêncio, interrompido apenas pelo som dos passos apressados e murmúrios dos corredores do hospital Jonas Salk. Peguei meu LPDFC de novo, mas as palavras não vinham. A dor no braço era uma distração constante, e a dor no peito também.
— Quer alguma coisa? Água? Um suco? - Ele perguntou, levantando-se de novo.
— Um suco seria bom, obrigada. - Respondi, apreciando seu cuidado.
Enquanto ele saía do quarto, meus pensamentos voltaram. Se eu tivesse sido mais cuidadosa, talvez nada disso teria acontecido. Eu balancei a cabeça, tentando afastar a culpa e voltando a escrever.
São Pedro 1h30m antes
Não. De novo não. A pior coisa que eu já tinha sentido na minha vida tinha voltado naquele exato momento como uma tempestade em um copo d'água de plástico, frágil e quebrável. Um nó se formou na minha garganta, fazendo a voz tremer quando eu tentava fazê-la sair, fazendo que tudo que eu conseguisse fazer fosse dar um empurrão sobre o peito dele e sair correndo como uma desnorteada pelas pessoas do show. Meu coração palpitava tão rápido que eu não conseguia ouvir meus próprios pensamentos.A náusea subia pela minha garganta, ameaçando transbordar em um vômito incontrolável. Eu apertei o estômago com força, tentando conter a onda de repulsa que me consumia.Cada passo era um esforço árduo, cada respiração uma batalha contra a asfixia. A sensação de estar presa em uma caixa de vidro me sufocava, me impedia de raciocinar, de pensar com clareza.Eu não sabia para onde estava indo, nem o que queria fazer. Só queria escapar dali, daquela situação, me livrar daquele lembrança tão ruim que eu faria de tudo pra não ter vivido. As lágrimas caiam dos meus olhos molhando a minha cara inteira enquanto eu corria dentre as pessoas com o único objetivo de ficar longe daquele garoto, não sabia onde estava indo, nem onde estavam os meus amigos. Não sabia de nada.
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Entre Papos, Gatos & Café Gelado.
RomanceCamila é uma Jovem de 16 anos que ainda tem muito que aprender sobre a vida mas já sabe de muita coisa, entre uma vida agitada pelas ruas de São Pedro, acompanhe esse romance diário se desenrolar entre as entre linhas.