Dança das Emoções

Entre Olhares e Suspiros

Aquela segunda-feira começou como qualquer outra na Universidade. O campus estava movimentado, com estudantes se apressando de um lado para o outro, entre risos e conversas sobre projetos e prazos. Luiza Campos caminhava ao lado de sua melhor amiga, Duda, rumo à aula de sociologia, uma disciplina opcional que cursavam juntas. Luiza estudava design gráfico e era uma aluna dedicada, apaixonada pelo curso e, até onde sabia, com sua vida amorosa perfeitamente organizada. Namorava Dany há dois anos — um relacionamento estável e cheio de carinho.

— E aí, o que a Dany te mandou agora? — perguntou Duda, espiando por cima do ombro de Luiza enquanto ela checava o celular.

— Ah, ela só tá me lembrando que vamos jantar com os amigos dela na sexta. Nada de mais — respondeu Luiza, com um sorriso tímido enquanto guardava o celular no bolso.

— Ugh, isso de jantar com casais tá começando a me dar nos nervos, sabia? — Duda comentou, rindo. — Vocês estão muito casalzinho padrão. Onde está a emoção, amiga?

— Eu gosto assim — Luiza riu, embora sua voz soasse um pouco hesitante. — A Dany é incrível, a gente se dá super bem. É confortável, sabe?

Duda levantou uma sobrancelha, provocativa.

— "Confortável" não me parece uma palavra muito... emocionante.

Antes que Luiza pudesse responder, a distração que ela tanto tentava evitar chegou com força total. Assim que as duas entraram na sala de sociologia, Luiza, ainda absorta na conversa e olhando para o celular, esbarrou em alguém. Seus livros e cadernos caíram no chão com um estrondo.

— Droga! Desculpa, eu sou um desastre hoje! — disse Valentina Alburquerque, a garota mais notória do campus, enquanto se abaixava para ajudar Luiza a recolher os livros. Sua fama de pegadora a precedia — histórias sobre suas aventuras corriam pelos corredores da universidade. Valentina tinha uma atitude descomplicada, um charme que parecia natural, e uma aura de liberdade que atraía olhares e curiosidade de todos.

— Tudo bem, eu também estava distraída — respondeu Luiza, tentando disfarçar o embaraço enquanto se abaixava para pegar os cadernos caídos.

Quando seus olhares finalmente se cruzaram, Luiza sentiu algo que não esperava. Era como se o tempo tivesse desacelerado por um instante. Valentina a encarava com um sorriso leve e um olhar curioso, enquanto lhe estendia o último caderno.

— Você é a Luiza, né? — Valentina perguntou, ainda sorrindo, com uma calma desconcertante.

— Sou sim — Luiza respondeu, mais rápido do que queria, sentindo o rosto esquentar de forma inexplicável. — E você... Valentina.

— Bingo — Valentina riu, um som suave e fácil. — Eu meio que sei quem você é. Acho que já te vi por aí com... qual é o nome dela? Dany, né?

— Isso — Luiza confirmou, tentando manter a voz firme. — A minha namorada.

— Legal — Valentina disse casualmente, enquanto se levantava e guardava seu próprio caderno. — Bom saber. Quem sabe a gente se esbarra mais por aí.

Valentina piscou de um jeito descontraído antes de se afastar, indo para o fundo da sala. Luiza, por outro lado, ficou ali, ainda agachada, tentando processar aquela interação inesperada.

Duda, que havia assistido tudo de perto, não perdeu tempo em comentar.

— Cara, o que foi isso? Essa Valentina é... sei lá, diferente, né?

Luiza riu, nervosa, ainda meio confusa.

— Sim, diferente. Mas sei lá, foi só um encontro casual.

Porém, mesmo tentando seguir o dia normalmente, algo naquele encontro havia mexido com Luiza. Algo que ela não conseguia explicar. Talvez fosse o jeito descomplicado de Valentina, ou o fato de que seus olhares haviam se cruzado por mais tempo do que o normal. Aquela sensação no estômago, uma mistura de nervosismo e curiosidade, a acompanhou pelo resto da manhã.

Durante a aula, Luiza se pegou espiando Valentina mais vezes do que gostaria de admitir, enquanto tentava afastar qualquer pensamento estranho que surgisse. Ela sabia que amava Dany e que sua vida com ela era estável e segura. Mas havia algo em Valentina — aquela energia livre e provocadora — que a deixava inquieta.

Valentina, por sua vez, mesmo agindo de forma despretensiosa, também notava Luiza de vez em quando. Algo na seriedade de Luiza a atraía, uma espécie de desafio silencioso que Valentina sempre gostou de enfrentar. Ela não sabia exatamente por que, mas aquela garota reservada e comprometida com uma vida "certinha" começava a despertar uma curiosidade que Valentina não conseguia ignorar.

E, sem perceberem, aquele encontro casual seria o início de algo muito maior. Algo que começaria a testar as certezas de Luiza sobre sua vida, seu relacionamento com Dany, e até quem ela realmente era. Porque, mesmo sem saber, o destino já havia lançado as duas em uma trajetória inesperada.