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Helena

── Par ou ímpar?

── Par! — Respondi, e então jogamos os dedos. Bufei ao ver que perdi.

── Otária. Vai buscar o lanche!

Levantei e saí do quarto de hotel onde estávamos. Desci até a recepção, peguei o lanche e agradeci ao motoboy. Enquanto o elevador subia de volta, fiquei encarando o teto espelhado, e minha cabeça começou a viajar por mil cenários diferentes. Eu tô feliz aqui com o Gabriel, mas sinto falta das minhas amigas, da minha irmã, e, inacreditavelmente, até do Pedro. Desde que descobrimos que somos irmãos, ele abriu mão da parte dele porque não quer nada vindo do nosso pai. E eu não o culpo. Também abri mão, deixando tudo pra Helô, que, no início, ia recusar, mas acabou cedendo. É uma boa quantia e vai pagar a faculdade dela. Minha relação com o nosso pai, o ignóbil, até melhorou um pouco. A gente ainda briga às vezes, mas é surreal pensar que somos irmãos. Ficamos bem mais próximos agora.

Quando o elevador abriu, senti um vento gélido. Caminhei até o quarto e, ao entrar, vi Gabriel com uma expressão nada boa, segurando meu celular.

── Que foi? — Perguntei, colocando os lanches sobre a mesa.

── Duas coisas: sua mãe tá te procurando. — Ele veio até mim, me entregando o celular com uma cara péssima. ── E o Richard também tá com saudades. Disse que não entende o feitiço que você fez, porque não consegue te tirar da cabeça e fode com outras pensando em você. — Falou com raiva, e eu suspirei. ── Caralho, você transou com ele naquela noite?

── Sim. — Respondi, sem rodeios. ── Por quê?

── Por quê? — Ele repetiu, bufando irritado.

── Você também transou com a Júlia, Gabriel. Eu fui atrás de você, e ela saiu do seu quarto vestindo a sua camiseta. — Rebati. ── Inclusive, lembro bem que camiseta era. Reparou que sumiu do seu armário?

── A vermelha? Sim, notei, achei que estivesse com você.

── Eu taquei fogo nela. — Admiti, e ele me olhou surpreso.

É verdade. Tomei um nojo daquela camiseta depois que ela vestiu. Ele a deixou na minha casa, e eu a queimei.

── O quê?

── Isso mesmo.

── Meu Deus... Tá, mas não muda de assunto. E o Richard? Você não vai fazer nada? — Perguntou, ainda com ciúmes.

Bufei e joguei o celular na cama para ele.

── Faz o que você quiser, bobão. Bloqueia, remove, sei lá. Só não quero briga por ciúmes. Eu detesto isso! — Falei, me atirando na cama.

Gabriel suspirou, esfregando o rosto com as mãos. O peso do ciúme parecia finalmente começar a se dissipar, dando lugar a um tom mais arrependido.

── Desculpa, sério. ── Ele disse, olhando pra mim com aquele olhar mais suave que eu já conhecia bem. ── Eu me deixei levar, falei besteira.

Eu o observei por um instante, vendo o quanto ele tentava se controlar. Não era fácil pra ele, eu sabia disso.

── Tudo bem, Gabriel. ── Respondi, com um leve sorriso. ── Mas precisa confiar em mim. A gente tá junto agora, o resto não importa mais.

lentes no horizonte, gabriel medina. Onde histórias criam vida. Descubra agora