13. Especial, como os momentos dos quais nos arrependemos

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Os lábios se separaram lentamente, ambos os garotos com os olhos fechados e a mente nublada pelo recente acontecimento inesperado.

Ricky, mesmo com um mínimo toque nos lábios alheios, pôde notar o gosto doce da boca do outro, assim que passou a língua pelos seus. Era como em um verdadeiro clichê, onde a boca do outro tinha um gosto doce que ele gostaria de provar novamente, mesmo sem fazer ideia do que estava fazendo.

Ações impulsivas nunca foram o forte de Shen, e no momento não fazia sentido em sua cabeça sua atitude, apenas olhou fundo nos olhos do moreno e sentiu que aquilo deveria ser feito. Não esperava o embrulho em seus estômago, a sensação de ansiedade lhe corroendo por dentro e uma pequena gota de animação pulando dentro de seu coração que batia mais rápido agora, sem saber se era vergonha ou algo que ele ansiava a tempos.

Ricky passou a pensar muito sobre Gyuvin após a fatídica noite onde compartilharam seus medos mais profundos e aquilo o fez se sentir, estranhamente, confortável e aliviado. Sua mente dizia que aquilo era a maior loucura da sua vida, não poderia ser Gyuvin, um funcionário da padaria abaixo de sua casa, que sabia fazer os melhores bolinhos do fundo e estragou toda sua animação para ler Romeu eJulieta; era o garoto que incrivelmente fazia sorrisos se formarem em seus lábios involuntariamente e risadas a cada bobagem que ele lhe dizia, falando que suas analogias são a prova de que eles foram feitos um para o outro, mesmo sem ter nada em comum com o loiro, ele arrumava alguma forma de funcionar, e isso divertia Ricky, ver alguém tão disposto a provar que, realmente, havia alguém naquele mundo feito para si, mesmo que não fosse o que esperava.

O coração e cabeça de Ricky estavam em desacordo, e sua mãe sempre disse para seguir o que seu coração dizia, alegando que ele sempre escolheria o melhor caminho, nunca o mais fácil, nem o que o trará menos sofrimento, mas que sempre valeria a pena no final, pois não restaria arrependimentos para se martirizar, e o loiro sabia que sua mãe nunca errava, a mulher era dona de uma mente incrível, todo o seu amor pela literatura veio a partir dela, seu gosto por café e doces e toda a sua personalidade excêntrica.

"Se ela conhecesse Gyuvin, o que ela diria?" — Se perguntou a si mesmo, encarando as orbes arregaladas e ainda desacreditadas.

Ela certamente diria que ele é bonito, insistente, e que Ricky deveria seguir os batimentos do seu coração.

Após alguns segundos, Kim voltou a piscar, ainda descrente do que acabara de acontecer, esperava, no mínimo, um tapa em sua cara e sendo jogado escada abaixo, mas um beijo não estava entre as alternativas.

— Você não vai me expulsar daqui e mandar eu esquecer tudo o que aconteceu, não é? — Perguntou, com o medo da resposta lhe corroendo a cada piscada que o loiro dava.

Shen sorriu fraco, um sorriso aconchegante e que aquecia Kim por completo, porque ele nunca viu algo tão bonito em sua vida, e sim, isso só pode ser sintomas de um coração apaixonado que acha que não há nada mais bonito do que a pessoa amada. Neste caso, o amor não é cego.

— Não, eu não vou, Gyuvin. — Ambos sorriram, envergonhados e sem saber muito bem o que dizer, desviando os olhares a cada segundo,

O silêncio não era desconfortável, os dois apenas estavam envergonhados demais para dizerem algo, se soubesse, Gyuvin teria se preparado prontamente para o acontecimento. Iria para sua casa, trocar sua roupa, pentear seus cabelos, passar os perfumes horrorosos de Taerae, não encheria sua boca de bolinhos, mas, se fosse diferente, seria especial?

O silêncio se quebrou com a voz de Gunwook o gritando para toda vizinhança escutar, assustando os garotos que estavam distraídos demais em seus pensamentos embaralhados e procurando palavras para falarem.

O garoto apareceu no pé da escada, olhando desconfiado para o moreno, com os olhos semicerrados e uma carranca costumeira no rosto.

— Está tudo bem, Ricky? Ele está o incomodando?

Mesmo sem querer, os sentimentos de Gunwook não desapareceram tão rapidamente como gostaria, especialmente após seu pai dizer que o aceitaria com qualquer pessoa, desde que esta fosse bonita, e Shen Ricky era esplêndido. Tudo no loiro encantava Park, sua voz suave, sua forma gentil de dizer que jamais aconteceria algo entre os dois, cômico, mas sim, Park Gunwook era um completo idiota.

Sabia que eles se encontravam as vezes,sabia que toda a leveza e felicidade de Gyuvin enquanto atendia os clientes era por conta do outro garoto, mas não esperava que alguém como Ricky fosse capaz de gostar de Kim, então sentia pena do pobre garoto, teria seu coração tão estilhaçado quanto o dele.

Porém, Ricky nunca deu esperanças a Gunwook, mas Park continuava achando que foi iludido pelo estranho garoto de sorriso bonito.

— Oh, Gunwook! Não, está tudo bem. — Sorriu simpático, coçando sua nuca em sinal de vergonha em demasia.

Gyuvin abaixou sua cabeça, certamente esperando uma atitude grosseira de Gunwook, o que recebeu, pois a arrogância e prepotência que a fala seguinte foi proferida fez seu sangue borbulhar em seu corpo.

— Você não é pago para invadir casas alheias, Kim. Desça e vá assar seus estúpidos bolinhos antes que acabe no olho da rua.

Gyuvin realmente acreditava que Gunwook melhoraria após uma de suas últimas conversas, ledo engano seu, nada realmente nunca o atingiu, ao menos que falasse de seus doces, pois era a única da qual se orgulhava completamente em sua vida. Amava preparar cada um deles, especialmente os cupcakes, receita que aprendeu com seus pais pouco antes do desastre de sua vida acontecer, sempre que os fazia, sentia que havia trazido algo consigo e que ao menos algo certo conseguia fazer em sua vida.

Pode parecer pouca coisa, mas as pequenas coisas sempre atingiam Gyuvin, pois as mínimas coisas de sua vida, eram as melhores.

Shen pôde ver o olhar vacilante de Gyuvin após a frase proferida por Gunwook. Seu cenho se franziu, seus olhos brilharam e os lábios tremeram. Ali, Ricky conseguiu descobrir algo sobre Gyuvin.

Após ver que atingiu certeiramente em Kim, se virou e entrou novamente no estabelecimento.

Ricky começou a brincar com seus dedos, sem pensar muito bem nas palavras que falou em seguida.

— Seus bolinhos são ótimos, gostaria de saber cozinhar como você. Minha mãe adorava fazer bolinhos, sempre colocava bonequinhos em cima. — Riu nervosamente, percebendo um pequeno sorriso se fazendo na expressão chateada do moreno.

— Eu posso te ensinar algum dia. — Disse animado, se esquecendo rapidamente do acontecimento anterior.

— Eu adoraria, Kim Gyuvin, mas não garanto que minha casa saíra inteira. — Riram.

Ter a companhia de Gyuvin era confortável, quente e agradável, o fazia se sentir leve, e Shen descobriu isso da melhor forma.

1982 AnalogiasOnde histórias criam vida. Descubra agora