Entre Grades e Sentimentos: Caminhos Traçados

Capítulo 37

A fazenda, com suas palmeiras esparsas e celeiro rústico, parecia um oásis perdido na imensidão árida. A lua estava no alto do céu desértico, lançando uma luz sutil sobre a vasta extensão de areia batida que se estendia por quilômetros naquele terreno marroquino, trazendo um certo brilho a poça escarlate que se tornava cada vez maior ao se espalhar pelo chão. O evento até então confuso se tornou ainda pior para os presentes que aos poucos saíam um a um da casa, parecendo um tanto atônitos pelo que havia acontecido. Os olhos de Hanbal, normalmente brilhantes e repletos de felicidade se encontravam assustadoramente opacos, trazendo uma vermelhidão as suas escleras, parte essa comumente brancas e com tanta luz própria.

- Porra, olha a merda que você fez! - Uma voz oculta vociferou, fazendo com que todos os presentes dirigissem sua atenção ao homem ao longe trajado com um colete balístico com as letras formando as palavras "Departamento de Forças Especiais da Espanha" bordadas ao lado direito do seu peito, um pouco abaixo da bandeira do país. A balaclava ocultava sua identidade, deixando a abertura dos olhos cobertas por óculos e para completar um longo rifle de precisão em mãos.

Não precisava ser um gênio para ligar os pontos do que havia acabado de acontecer ali.

Logo a voz grossa ouvida mostrou ter um dono, outro homem trajado da mesma forma que não se importou com o barulho que fazia ao lhe abordar gritando em uma aparente fúria.

- Desculpe, mas ele claramente ia atacar a nossa infiltrada. - O homem disse tentando se defender ainda com a arma em punho em uma mira perfeita em direção onde a pouco estava em pé o egípcio preocupado. - O-o senhor viu, não é?

Nada foi respondido, apenas desferindo um tapa no rosto do atirador, forte o bastante para fazer seus óculos especiais voarem de encontro ao chão.

Karim não esperou para entender melhor o que estava acontecendo, correu o mais rápido que pôde para um dos carros que havia sido usado para chegarem até ali, logo sendo acompanhado por alguns jovens da resistência, abrindo a porta destrancada do veículo e o ligando com a chave que permanecia na ignição.

- Rápido, não o deixem fugir! - Uma voz grossa e muito conhecida de Zulema soou, mas seus olhos sequer conseguiam se desviar do corpo ainda imóvel. Estava presa em uma dolorosa bolha pessoal. O grito raivoso do senhor que aos poucos se aproximava com dificuldade por ter que usar aquela maldita bengala em um terreno tão irregular, fez com que outros policiais surgissem em suas viaturas e começassem a seguir o sírio.

Os agentes se apressaram para conseguir alcançar o carro em meio a correria que se iniciou, os fazendo ter que decidir rapidamente se deveriam ou não tentar conter os demais que também tentavam escapar. Karim não esperava que aquela noite terminasse daquela maneira infeliz, sendo agora obrigado a acelerar em meio aos corpos jogados e a poeira levantada enquanto tentava aos poucos se afastar de todo aquele caos. Em um instante tudo estava bem e de repente a polícia estava em sua cola com seu sobrinho morto em um lugar desprezível para uma alma tão pura, não tendo chance de sequer se despedir.

O motor do carro esportivo rugia em alta velocidade, levantando uma nuvem de poeira que parecia aos poucos querer engolir tudo ao redor.

Karim, com o suor escorrendo pela testa, dirigia com uma determinação feroz. Com seus olhos fixos na estrada sinuosa e irregular, ele sentia a adrenalina pulsar em suas veias no ritmo acelerado das batidas do seu coração. As sirenes barulhentas cortavam o ar quente com um som agudo e insistente, enquanto os giroflexes iluminavam ao redor com suas alternando com as luzes azul e vermelho.

Cada curva abrupta e cada desvio inesperado eram enfrentados com maestria por Karim, que parecia ser guiado por uma combinação de instinto e experiência. O terreno da fazenda, com suas colinas ondulantes e vales discretos, oferecia uma vantagem ao sírio, algo que parecia não ter sido levado em conta pelas autoridades presentes. O carro de Karim, era uma máquina que havia sido customizada com zelo, o projeto criado pelo próprio sírio exalava velocidade e agilidade, se movendo com precisão entre os obstáculos naturais.