Prólogo

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A vida era injusta, como a vida de uma mulher tão jovem poderia ser tirada assim sem muitas explicações? Ela era jovem, bonita e rica. Ela tinha um bom marido, um bom emprego e três filhas incríveis. Ela ainda não havia chegado aos 35 anos. Toulouse, não era nenhum mar de rosas para se viver, todos sabiam que era a cidade mais violenta da França. Emma queria se mudar há anos dali, todavia os negócios de Mathis ficavam na cidade e ele não pretendia se ausentar naquele início tão difícil para uma indústria têxtil.
Agora Emma estava muito bem vestida e dentro de um caixão, ele chorava ao lado do corpo pedindo perdão por não tê-la ouvido dois anos antes. Ele chorava por ver suas três filhas órfãs, sua filha caçula tinha apenas seis anos, a mais velha ainda não havia completado nove, o que ele iria fazer? Sua família ainda estava em Paris, a família de Emma ainda mais longe Roubaix, próximo à fronteira com a Bélgica. Ele se sentia um fracassado em sua vida pessoal, de que adiantava ter construído parte de um império, se seu maior tesouro descia sete palmos de terra agora. Mathis, tinha os olhos vermelhos, ele segurava Fernanda em seus braços com o rosto enfiado em seu ombro, Anna e Paula estavam agarradas em suas pernas, as mais velha não chorava, estava segurando a mão da irmã do meio para que ela pudesse parar de chorar, Paula sabia que agora ela era responsável pelas irmãs e ela teria que ajudar o pai em tudo.
Emma, antes do assalto, estava escolhendo um novo lar para eles em Monte Carlo. Um apartamento grande e espaçoso para que comportasse a grande família que eles eram. Mathis sabia que de sua varanda ele poderia ver os carros de Fórmula 1 passando logo abaixo, ele amava o esporte, como amava suas filhas e a esposa, e felizmente ele estava conseguindo passar isso para as garotas, era uma pequena disputa entre ele e Emma, pois a mulher era uma excelente bailarina e gostaria que as filhas seguissem esse caminho, Fernanda foi a única das três que ainda permanecia praticando a dança, mas sempre deixava seus ensaios com a mãe para se juntar a ele para ver seus carrinhos correndo, Anna praticava ginástica rítmica agora e Paula estava fazendo aulas de tênis há quase três anos. Mathis agora lamentava o fato dessa competição idiota, pois no balé as filhas sempre se lembrariam da mãe.
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Mathis, deixou que cada uma de suas filhas escolhesse seu novo quarto, no luxuoso apartamento que tinha comprado em Monte Carlo, era o mesmo que Emma tinha escolhido alguns meses atrás. Ele gostaria de fazer as coisas de uma forma diferente agora, as meninas estavam realmente muito tristes com toda a situação, Anna Clara, não ia mais para suas aulas de ginástica rítmica, Fernanda nunca mais entrou no pequeno estúdio de balé que elas tinham em casa, Paula quase não ia às suas aulas de tênis, ele notou que as notas estavam decaindo muito rapidamente e nada do que ele fazia parecia melhorar o humor das filhas.
Toulouse inteira cheirava a memórias com Emma, era ruim até mesmo para ele, então deveria ser ainda pior para as três garotas que iam e voltavam da escola todos os dias com a mãe, que semanalmente paravam no café da esquina e comiam croissant e capuccino enquanto descreviam a semana que ela já tinha ouvido diariamente, a igreja que eles iam juntos aos domingos, os parques e ciclovias que elas usavam aos domingos.
As garotas entraram na nova casa sem grandes empolgações, isso ainda partia o coração dele, elas eram tão felizes antes, barulhentas o que o impedia de manter-se concentrado no trabalho quando estavam em casa. Juntas as garotas inspecionavam cada um dos três quartos indicados e decidiam entre si quem ficaria onde. Fernanda escolheu o quarto ao lado dele, dizendo que se ficasse com medo estaria logo com ele, Anna por sua vez escolheu o mais longe, Mathis notou que desde que Emma se foi, ela se afastava cada vez mais dele, como se fosse o grande culpado de tudo aquilo, Paula não disse uma palavra apenas aceitou o quarto do meio, ela estaria bem se as irmãs estivessem bem.
Era agosto, cinco meses depois de todo o acontecimento com Emma. O sol brilhava em Monte Carlo naquele dia, havia apenas uma semana que os três estavam na cidade. Mathis escolheu que as filhas terminassem o ano letivo na mesma escola, seriam muitas mudanças em muito pouco tempo. As coisas pareciam melhores agora, a primeira vez que estiveram ali, houveram muitas reclamações sobre deixar a escola e as memórias de Emma para trás, Mathis estava melhor, ele não chorava mais todas as noites e conseguia fazer as coisas para consolar alguma das filhas quando elas estavam tristes.
"Vamos dar uma volta, sim?" Mathis sorriu para elas. "Quero mostrar uma coisa para vocês."
"Vamos de carro, certo?" Ele negou. "Saco, isso aqui é a pré-história?" Anna reclama com o pai, ela odiava fazer qualquer coisa que precisasse do mínimo de esforço.
"Podemos ver o circuito?" Paula perguntou animada, era seu Grande Prêmio favorito.
"Podemos ver os barcos?" A menor também se empolgou, ela adorava ver os iates, achava tão chique.
Anna revirou os olhos, sem dizer uma palavra. Ela estava achando aquilo um absurdo, suas irmãs se esqueceram tão rapidamente assim que tinham uma mãe? Ela achava tudo uma grande palhaçada do pai que insistia naquela coisa idiota de se mudar. Sua mãe estava morta há meses, que diferença fazia realizar o sonho dela agora. Infelizmente Anna não teve outra escolha a não ser seguir o pai e as irmãs para fora do apartamento luxuoso, isso não significava que ela estivesse bem com a ideia, para uma criança de sete anos, ela sabia quais batalhas escolher, se ela fizesse algo para ficar, teria que lidar com uma Paula reclamando pelos próximos quarenta minutos e o choro ardido de Fernanda quando ela era contrariada com alguma coisa e ela aceitou seu trágico destino de percorrer mais de quatro quilômetros e olhar barcos ancorados.
"Papai, podemos ter um?" Fernanda perguntou com os olhos brilhando em expectativa. Mathis riu com sinceridade depois de muito tempo.
"Quem sabe um dia, quando a gente for muito rico." Ele concordou.
"Mas nós somos ricos, pai." Paula disse. "Eles sempre dizem na televisão que apenas milionários e celebridades moram aqui." Ele costumava se esquecer de como as filhas eram boas em argumentos.
"Tem razão, mas precisamos ter muito mais dinheiro para manter uma coisa assim." Ele concluiu.
"Junta bastante dinheiro papai, quero me casar em um desses quando for adulta." Fernanda gostava de divagar sobre seus planos para o futuro.
**
O primeiro dia na escola era sempre muito mais assustador do que parecia, as crianças pareciam eufóricas revendo seus amigos do ano anterior, elas se abraçam e gritam no pátio, é sempre assim. Anna e Paula estavam de braços dados, procurando onde seria sua possível sala. Mathis não podia estar ali com elas, estava acompanhando Fernanda na pré escola, ela havia passado a noite em sua cama com medo. Paula encontrou as listas penduradas na parede, havia uma mulher parada em frente aos papéis observando os nomes ali.
"Excusez-moi." A mulher olha para as duas garotas paradas logo atrás. "A senhora poderia ver por favor as nossas salas?" Paula pediu, ela não conseguia enxergar o todos os papéis.
"Claro querida, como vocês se chamam?"
"Anna Clara Lefebvre."
"Deixe-me ver..." Correu os dedos pelos primeiros papéis encontrando o nome de Anna alguns instantes depois. "Sala 05." Indicou o lado que ela deveria ir para a esquerda. "E você, como se chama?" Paula indicou seu nome, seguido do mesmo sobrenome da irmã. "Oh, você está na sala do meu filho, vou apresentar vocês dois, de qualquer forma, sua sala é na 09, subindo a escada." Ela acenou para alguém e um garoto de cabelos castanhos veio correndo na direção delas. "Charles, essa é a Paula, ela está na sua sala."
"Oi." Ele esticou a mão para ela sorrindo. "Sou Charles, como você se chama?" Se virou para a segunda garota.
"Anna." Ela disse tímida.
"Maman, qual a sala dela?"
"Na sala cinco."
"Vou levar você lá." Sorriu animadamente. "Vamos, Paula." As duas garotas seguiram o garotinho para os locais indicados, ele parecia conhecer muito bem as estruturas do colégio.

Fernanda estava um pouco apreensiva com seu pai, ela não queria ir para uma escola nova, ela odiava ter que fazer outras amizades. Ela não gostava mais da escola, ela queria estar em seu quarto, na antiga casa dela. Na verdade, ela queria estar sentada na beira da piscina com a mãe, ela sentiu o coração doer e o olho queimar.
"Hérve!" Mathis cumprimentou um homem que estava com uma criança ao seu lado. "Ça va?"
"Mathis, quanto tempo! Que surpresa, boa." Ele tinha um sorriso radiante. "Esse aqui é o Arthur, meu caçula, Pascale está com Lorenzo e Charles na outra escola."
"Fernanda é a minha caçula também. Eu só deixei Paula e Anna no outro colégio."
"Sozinhas?" Ele pareceu chocado e Mathis sorriu triste. "Sinto muito. Vou ligar para Pascale, quem sabe ela consiga encontrar suas filhas." Ele pegou o celular e discou para a mulher.
"Ah, claro." Ele sorriu afetuosamente para o companheiro de golf. Infelizmente Pascale não atendeu o telefone nas duas vezes que ele tentou, mas Hérve o acalmou. "Mesmo assim, muito obrigado." Fernanda estava encarando Arthur no colo do outro homem, ele parecia legal, talvez ele pudesse ser seu único amigo naquele lugar que nem parecia nenhum pouco legal, o pai dele o colocou no chão.
"Oi, quer ser meu amigo?" Ela perguntou para ele.
"Sim." Os dois pais riram.
"Acho que teremos uma união de família em breve." Hérve deu risada.
"Faria muito gosto." Mathis riu. "Vamos deixar eles irem para sala e saímos para tomar um café."
"Ótimo."

O único para mimOnde histórias criam vida. Descubra agora