Amor Sublime

Capítulo 31: Tirando o Passado das caixas

A semana após a festa foi bem mais tranquila do que eu imaginava. Roger e eu estávamos em paz, tanto um com o outro quanto com a situação. Ele sabia que eu era apenas uma ajuda, e eu sabia que ir à sua casa no final de semana seria só mais um programa comum, sem qualquer envolvimento romântico entre nós.

Pelo menos era isso que eu queria que todos pensassem. A verdade era que, em hipótese alguma, eu perderia a oportunidade de reestruturar meu relacionamento com Roger.

Assim, mantive meus dias divididos em duas versões de mim mesmo. Perto dos amigos, deixava meus sentimentos reais por Roger emergirem. Mas, quando estava sozinho, guardava tudo agonizantemente no coração.

Não importava a aula, eu sentia falta das suas piadas, do seu jeito malandro
aquele jeito como nunca fui tratado. Cada carinho, cada toque que trocamos nos primeiros dias fazia tanta falta que eu trocaria todas as minhas memórias com Ren para ter aquilo de volta.

Até mesmo Nyx sabia que eu sentia falta dele. Foi durante a aula de educação física que ela me lançou uma de suas provocações:

— Sente falta da pegada do negão, né? — Aquele comentário cômico carregava uma dose alta de verdade.

— Sim, eu sinto — admiti, suspirando. — Mas infelizmente não posso ir lá e dizer isso.

Meu semblante tristonho era evidente para minha fiel escudeira. Nyx riu antes de responder:

— Claro que não pode ir lá dizer isso. Ele já sabe. Tá querendo ensinar o padre a rezar a missa, é?

— Não, não é isso. Eu sei que ele sabe que sinto falta dele, mas... queria que ele também sentisse falta de mim. Vacilei com ele, eu sei. Mas será mesmo que ele não sente um pingo de saudade de nós dois?

Quando olhei para Nyx, ela estava com uma expressão de tédio. Não sabia se algo que eu disse a desagradou ou se ela já estava entediada desde o início da conversa.

— Puta que pariu, Jin, você tá parecendo o Miguel com esse "Ain, será que ele sente saudade de nós?". Porra, japonês, para com isso. Vai ficar se lamentando porque não sabe se o outro sente sua falta? Toma jeito, viado!

— Nossa, eu só comentei... grossa. — Assim que terminei a frase, ouvi ao longe um grito bem infantil: — Isso é efeito da TPM! — Olhei na direção do som e vi o motivo da fúria de Nyx. Era Rafael, que tinha falado o que não devia. Se não estivéssemos ao ar livre, em uma quadra, eu tinha certeza de que ela jogaria uma bola de basquete na cabeça dele.

— Tá, ok, entendi. Não devo me remoer se ele sente ou não falta do nosso relacionamento. Mas o que você diria se eu dissesse que ele me convidou para ir na casa dele ajudar a desempacotar algumas coisas?

Nyx sempre foi pálida como um fantasma, o que eu achava estranho considerando quantas vezes a vi jogando basquete sob um sol escaldante. No entanto, quando comentei sobre a visita à casa de Roger, sua pele ficou tão vermelha de raiva que poderia ser comparada a uma pimenta.

— Deus, é pecado matar os amigos? Porque estou prestes a matar um. — Eu senti seu ar homicida me alcançar. Eu podia ser forte, mas estava longe de ser invulnerável. Então, antes que qualquer equipamento ou bola fosse arremessada em mim, me escondi atrás de uma pilastra grande.

Ela falou de forma profunda e furiosa, e eu sabia que se me aproximasse, seria meu fim. Mas não precisei me mover. Ela veio até mim, agarrando o colarinho da minha camisa com tanta força que parecia querer me enforcar.

— Seu puto, pedaço de merda que eu amo tanto, você passou a aula toda choramingando sobre como não sabe se o Roger sente o mesmo por você, e agora me diz que vai na casa dele? É isso mesmo?