//Capítulo 4//
"Mas as pessoas desiludem-nos"
O meu dia teve a rotina normal. Quando digo isto, significa que nada mudou, e isso desapontou-me.
Era suposto o meu dia ter sido diferente dos outros, não igual. Era suposto ter o Calum a meu lado, e isso não aconteceu.
Quando o Calum não gozou comigo e até pediu desculpa, eu pensei que ele era diferente dos outros. Ao que parece, eu estava enganada.
O Calum é tal e qual todas as outras pessoas. Ele não é o primeiro a parecer que se importa comigo quando na realidade me acha estranha. Já muitas pessoas se afastaram de mim, apenas porque eu tenho uma fobia.
Eu não peço para deixar de ter fobia, isso é muito difícil de acontecer. Eu apenas gostava de ter outro tipo de fobia, um tipo que não me fizesse anormal. Pode ser fobia às aranhas ou a alturas, mas afefobia eu não quero ter.
O que me faz sentir pior é o facto de as pessoas saberem que o que eu tenho é uma fobia, uma coisa que eu não posso controlar, mas agem como se eu fosse diferente deles e a culpa fosse minha. As pessoas gozam comigo porque eu não aguento ser tocada, mas esquecessem-se de que, se eu tivesse fobia de aranhas, seria quase a mesma coisa. Também há quem fuja de mim. Sim, fugir, não vejo outra palavra que possa caracterizar o que eles fazem. Quando sabem que a minha fobia não é tão comum, afastam-se de mim, como se eu fosse uma aberração.
Por muito que eu continue a fingir que está tudo bem, não está. Doí ser rejeitado por uma coisa que tu não controlas. Há medida que o tempo passa vais-te habituando, quase como se as palavras e os atos das pessoas tivessem menos efeito em ti, mas isso não é verdade. As palavras ofensivas que já me foram dirigidas permanecem na minha mente e, embora já não me lembre delas tão regularmente, fazem-me sentir menos que os outros.
Para dizer a verdade, a vontade de desaparecer está no meu corpo desde que comecei a ir ao psiquiatra, mas não posso deixar a minha mãe sozinha. Por isso vou por outras soluções. Cheguei a pensar em fazer um pequeno corte vertical no pulso aos catorze anos, mas não achei que valia a pena, pois fazer o corte apenas me iria trazer más lembranças. Então comecei a desenhar.
E era exatamente isso que eu fazia enquanto esperava que a escola acalma-se, para eu ir embora. Mas, desta vez, não tinha o Calum a fazer-me companhia.
O dia foi normal. Tive as minhas aulas, cujas disciplinas até sou boa aluna, à hora de almoço comi pouco e ouvi música nos intervalos.
Quando não tens ninguém contigo, não falas, e quando não falas, tens tendência a observar.
Observar é algo que eu faço muito. Muitas das imagens que eu capturo ajudam-me a desenvolver a imaginação suficiente para puder desenhar. Mas também uso a observação para conhecer as pessoas.
Quando observo os alunos da minha escola, nenhum parece reparar que eu olho para eles, o que é normal. Eu aproveito o facto de eles não darem conta de mim para os "estudar".
Não é de espantar quando eu digo que estudei o Calum. Ele andou o dia todo sozinho. É provável que o tenha feito porque ainda não fez nenhuma amizade. Quando tinha tempo, ele escrevia qualquer coisa num caderno de capa preta, enquanto abanava a cabeça ao som da melodia que saía pelos seus phones. As suas sobrancelhas franziam-se e voltavam a uma posição mais relaxante sempre que ele escrevia algo. Mal escrevia, ele relia o que tinha escrito e, se gostasse, assentia com a cabeça, se achasse que não era bom o suficiente, apagava ou riscava o papel. O seu lábio inferior estava vermelho devido às vezes que ele o mordia, sem consciência do que estava a fazer. O lápis batucava no caderno sempre que ele parava para ouvir a música que saía dos phones.
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Dark Past || Hood [PARADA]
Teen FictionTodos temos um passado. Podemos deixar que esse passado nos afete ou ultrapassá-lo. Ela deixou o passado afetá-la, mas ele tenciona ajudá-la porque também ele sofreu com o passado. Copyright © 1-800-STFU (Carolina) All Rights Reserved