O ar frio atinge-me nas faces assim que saio pela entrada Este. Tinha-me esquecido - está a começar o Outono. Parece que este vai ser particularmente frio.- Agente Garnet Moon.
Olho para o homem moreno e baixo junto ao Virne elétrico parado na estrada. A sua cor verde cremada faz parecer o transporte um talo de espinafre.
- Será um prazer trabalhar consigo nesta missão.
Eu assinto e dirijo-me a ele. Quando me aproximo, abre-me a porta e eu entro. Assim que entra ele para o lugar de condutor, toca num botão que liga todo o carro e ajusta o retrovisor para que os nossos olhos se encontrem.
- Irei levá-la ao heliporto, onde apanhará o 67HR e voará até ao domínio 95. Fará o resto do percurso até à cidade 133 de autoboli como fazia a integrante de que está disfarçada. Dúvidas?
Gestuo que não com a cabeça.
- Bom.
Liga o Virne e arrancamos sem delongas.
É impossível não reparar no ambiente exterior durante a viagem: Tudo é triste, tudo parece cinzento ou metalizado. Sempre foi assim desde que me lembro, mas pergunto-me se sempre foi assim no passado.
As ruas são limpas mas escuras, alcatrão a revestir o pavimento e passeios de granito com manchas negras. Os edifícios são altos, a maioria gémeos e idênticos uns aos outros, as paredes com lodo e as telhas partidas ou gastas. Dizem que este novo mundo está totalmente remodelado e não sei quê, mas esquecem-se de que para alcançarem o controlo do planeta tiveram de perder primeiro três quartos deste.
Os candeeiros de rua parecem aqui estar há séculos (o que é provavelmente verdade) e os postes de eletricidade são finos, os fios condutores revestidos a pleny parecem um fio de cabelo, mas a tecnologia da substância é extremamente duradoura e resistente, fazendo os cabos praticamente inquebráveis. Atualmente, o pleny é usado para quase tudo, uma das maiores invenções do último século.
As nuvens do céu são salpicos de algodão numa tela azul. O sol está quente, mas o ar fresco. É um bonito dia.
Quem dera poder ver isto todos os dias.
E, no entanto, não é nada demais.
O motorista deixa-me como prometido no heliporto, que era formado por um pavilhão a céu aberto de cimento com formas de tinta amarela pintadas no chão, onde repousavam três helicópteros negros com insígnias e logótipos nas portas. Despeço-me do homem de poucas palavras e dirijo-me ao primeiro transporte, cujo um retângulo branco emoldurava o seu nome: "67HR". Recostado a ele, uma mulher intensamente loira fumava um cigarro, parecendo descontraída.
Assim que me aproximo, ela fala, sem sequer levantar os olhos para mim:
- Garnet, é? Miúda, não queria 'tar no teu lugar - resfolega.
Finalmente, e como não respondo, dá-se ao trabalho de me olhar pela primeira vez, parecendo avaliar-me de alto abaixo. Demora-se um pouco mais no meu cabelo, e depois nos meus olhos.
- Bela cor.
Decido que não gosto dela.
- É a piloto?
Semicerra os olhos e deixa a beata cair ao chão, calcando-a enquanto ainda me fixa.
- Bem, já vi que não és dada a conversa. Não te censuro.
Bate palmas e vira-se para entrar no helicóptero. Sigo atrás dela e acomodo-me. Não tarda nada, estamos a voar.
E, por consequinte, eu a enjoar.
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Segredos de Sangue
AçãoEstamos em 2126. O Mundo não foi dominado por robôs como se pensava no passado, nem as secas e inundações destruíram o planeta. O Fim do Mundo não aconteceu. Bem, pelo menos, não da forma que se pensava. Agora, o planeta inteiro é controlado por alg...