O jardim dos deuses, outrora repleto de vida e alegria pelas festividades promovidas por Dio para os humanos que realizaram grandes feitos em vida, agora era um grande depósito de corpos de deuses que se opuseram ao controle de Karmus. Skyggers, criaturas sombrias e famintas, alimentavam-se dos restos mortais, manchando as paredes outrora brancas com respingos de sangue. Os únicos sons que irrompiam o mastigamento dos skygers eram os gritos dos deuses torturados e os passos determinados de Kael, que avançava em direção ao trono.
O salão principal, devastado pela batalha que ali ocorreu, estava sendo lentamente reconstruído à imagem de seu novo senhor. Karmus, o deus da guerra, encontrava-se sentado no grande trono de pedra no centro do salão. Ao ver Kael aproximando-se sozinho, já imaginava qual notícia ele traria.
Karmus ergueu os olhos vermelhos, brilhando de fúria contida, e encarou Kael. "Então, falhou."
Kael parou diante do trono, inclinando a cabeça em uma mistura de respeito e medo. "Adrian conseguiu escapar," admitiu, sua voz firme apesar da tensão. "Ele teve ajuda e agora está fora do nosso alcance."
Karmus levantou-se abruptamente, sua presença dominando o ambiente como uma tempestade prestes a se desatar. "Caminhe comigo, Kael," ordenou, com um gesto para que o seguisse.
Enquanto andavam pelos corredores sombrios, as paredes ecoavam os lamentos dos deuses caídos. "Você lembra da última vez que falhou comigo, Kael? Quando Krig escapou de suas garras?" Karmus começou, sua voz baixa e carregada de ameaça. "Eu fui misericordioso naquela vez. Não por fraqueza, mas porque precisava de seus talentos. Misericórdia que não darei novamente."
Eles passaram por celas onde deuses acorrentados gemiam de dor, suas formas distorcidas pelas torturas incessantes. Karmus agarrou Kael pelo pescoço e o forçou a olhar dentro de uma cela onde um deus estava preso em correntes de fogo. "Veja o destino daqueles que me desobedecem," rosnou. "Acha que merece menos por sua incompetência? Eu deveria rasgar sua carne e alimentar meus cães com suas entranhas!"
Kael sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas manteve a cabeça erguida. "Vou encontrá-lo, Karmus. Não falharei novamente."
Karmus soltou Kael com um empurrão, sorrindo de maneira cruel e sem alegria. "É bom mesmo, pois tenho outros planos para você, se falhar novamente." Ele conduziu Kael até uma grande porta de pedra, adornada com runas escuras. Ao abrir a porta, o som de criaturas rosnando e lutando para sair inundou o corredor.
"O Vazio," disse Karmus, indicando o poço que levava às profundezas onde as criaturas mais terríveis do universo estavam aprisionadas. "Estas monstruosidades estão sob nosso controle por enquanto. Mas se falhar novamente, Kael, será você quem ficará aqui, garantindo que elas nunca escapem. E acredite, o Vazio tem fome."
Kael olhou para o poço, sentindo o terror crescer dentro de si. "Eu encontrarei Adrian," afirmou, sua voz firme.
Karmus deu um passo à frente, sua face a centímetros da de Kael. "Você vai encontrá-lo, Kael. Ou vou despedaçar você lentamente, e cada pedaço seu será devorado pelo Vazio. Agora vá.
Kael se afastou, determinado a redimir-se e evitar o destino terrível que Karmus lhe prometera.
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Adrian se encontrava em uma clareira a algumas horas de sua fazenda. As árvores ao redor pareciam abraçá-lo em uma solidão sufocante. Ainda em choque com tudo que havia acontecido, ele fitava as chamas crepitantes da fogueira, como se buscasse respostas nas labaredas dançantes.
Cada estalo do fogo trazia à memória o estalar da madeira de sua casa em chamas, o calor insuportável queimando não apenas seu lar, mas cada lembrança que ele possuía. A raiva e a culpa se entrelaçavam em sua mente, formando um nó apertado que parecia difícil de desatar.
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A mitologia de Karmus - A primeira chama
AdventureAdrian, um jovem habitante da pacata cidade de Larian, vive uma rotina dividida na fazenda da família. Quando pesadelos perturbadores começam a assombrá-lo e um mensageiro misterioso traz notícias de uma ameaça iminente, Adrian é lançado em uma jorn...