𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟑

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JENNIE KIM;

Visto meu AffloVest azul, amarrando-o no meu corpo com a ajuda de Barb. O colete vibratório parece muito com um salva-vidas, exceto pelo controle remoto saindo dele. Por um segundo, eu finjo que é de fato um colete salva-vidas e olho pela janela, me imaginando em Cabo San Lucas, dentro de um barco com Nayeon e Rosé, o sol da tarde brilhando no horizonte.

Gaivotas gorjeando, a areia da praia à distância, os surfistas sem camisa — e então, contra a minha vontade, penso em Lisa. Num piscar de olhos, Cabo some de vista e as árvores secas do lado de fora do hospital voltam a aparecer.

— Então, a Lisa... Ela também tem fibrose cística? — pergunto, embora a resposta seja óbvia. Barb me ajuda a colocar a última alça no lugar. Puxo a parte do ombro para o lado de modo que o colete não fique roçando no osso da clavícula.

— Fibrose cística e mais um pouco. B. cepacia. Ela faz parte do novo tratamento experimental com Cevaflomalin. — Ela estica o braço para ligar a máquina e olha para mim.

Arregelo os olhos e encaro o meu frasco enorme de álcool em gel. Fiquei tão perto de Lisa e ela tem B. cepacia? Isso é praticamente uma sentença de morte para quem tem fibrose cística. Com sorte, ela vai viver mais alguns anos. Isso se ela seguir o tratamento à risca, como eu. 
O colete começa a vibrar. Bastante. Consigo sentir o muco dos meus pulmões se soltando aos poucos.

— Se você pegar uma bactéria dessas, adeus pulmões novos — Barb adverte, me encarando. — Fique longe dela.

Faço que sim com a cabeça. Eu com certeza pretendo fazer isso. Preciso desse tempo a mais. Além disso, Lisa é convencida demais para ser meu tipo.

— O tratamento.. — começo a dizer, erguendo minha mão para Barb pausar a conversa e cuspir o catarro. Ela assente e me entrega uma bacia rosa-clara. Eu cuspo e limpo a boca antes de retomar o assunto. — Quais são as chances dela?

Barb suspira, balançando a cabeça antes de olhar para mim.

— Ninguém sabe. A droga é muito nova. — Mas sua expressão diz tudo. Ficamos em silêncio, exceto pelo ruído da máquina enquanto o colete vibra. — Tudo pronto. Precisa de alguma coisa antes de eu ir embora?

Eu sorrio e faço um olhar suplicante.

— Um milk-shake?

Barb revira os olhos e coloca as mãos na cintura.

— Era só o que me faltava. Agora eu também faço serviço de quarto?

— Preciso aproveitar as vantagens desse lugar, Barb — digo, o que a faz rir.

Ela sai e eu me recosto na cama, meu corpo todo vibrando com o AffloVest. Meu pensamento viaja e eu vejo o reflexo da Lisa no vidro da UTI, parada bem atrás de mim, um sorriso debochado no rosto. 
B. cepacia. Complicado.

Mas andar pelo hospital sem máscara? Não me surpreende de ela ter contraído a bactéria, fazendo coisas desse tipo. Perdi as contas de quanta gente igual a ela já encontrei por aqui. O tipo despreocupado e valentão, tentando desesperadamente desafiar o diagnóstico antes que tudo acabe. Não é nem original. 

— Tá legal — Barb diz, me trazendo não um, mas dois milk-shakes, sendo a rainha que ela é. — Isso deve segurar um pouco a sua fome. 

Ela coloca os copos ao meu lado e eu sorrio ao observar seus olhos castanho-escuros tão familiares.

— Valeu, Barb. 

Ela assente e acaricia de leve a minha cabeça antes de sair.

— Boa noite, meu amor. Até amanhã.

A Cinco Passos de Você - JenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora