Tão...

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Dez anos depois

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Dez anos depois

Georgie

Dez outonos se passaram desde a partida de Peter.
Gostaria de dizer que superei aquele garoto mas volta e meia, penso em como teria sido. Penso em quantas palavras poderiam ser ditas e quantos beijos mais poderíamos ter dado.

Escrevi exatas cem cartas para ele. Cartas em que contava como tinha sido o meu dia, a fim de puxar conversa. Desenhos dele e de coisas bonitas que encontrava em Romney Hall, versos de poesias e às vezes páginas de livros que eu gostava, das quais mamãe não pode nem sonhar em tomar conhecimento. Pois me enforcaria se descobrisse que estraguei algum livro dela.

Escrevi cem cartas que demonstravam ao menos um pouco do quanto eu gostava dele.
E de cem cartas, não obtive resposta em nenhuma delas.

Peter nunca me escreveu de volta.

Talvez tenha sido coisa da minha cabeça e esse amor juvenil foi algo que partiu somente de mim.
Eu realmente pensei que era correspondida. E é uma pena que para ele, fui apenas uma garota que lhe roubou um beijo.

Da qual ele não deve sequer lembrar o nome.

Resolvi seguir a minha vida, então parei de lhe enviar cartas no último ano. Meu debute já havia acontecido e acredito que o meu futuro marido não estaria disposto à disputar minha atenção com o meu namorado de faz de conta. Eu estava certa de que deveria esquecê-lo.

Porém, toda noite ao fitar o céu, me lembrava da minha promessa e sentia o meu peito apertar, imaginando que ele estaria do outro lado pensando em mim. O que era uma grande estupidez. Mas aquele fio de esperança nunca me abandonou.

Tomava na mão aquele cordão que tinha no pescoço e chamava por ele, como se por um milagre conseguisse me ouvir de onde estava.

Continuei frequentando a capela durante esse tempo, mesmo contra a vontade de papai, que era um inimigo declarado de Cornellius Helish, pai de Peter. Por algum motivo, não conseguia nem ao menos mencionar seu nome sem que lhe fervesse os miolos.

" Não dê ouvidos à nada que aquele verme disser." — Ele disse.

Isso me parecia confuso dado ao fato dele ser o principal padre da paróquia, mas se tratando de meu pai, sei que com certeza tem seus motivos, mesmo que eu não os entenda.

De toda forma, estava sempre presente durante as missas, vigílias e em qualquer evento que envolvesse a igreja. Ou que porventura, Peter pudesse estar presente.

E assim foi.

Haveria uma missa de posse, onde o novo pároco ia ser apresentado à comunidade, e como sempre, eu estaria lá, marcando presença.

Me vesti com um vestido azul claro que tinha alguns detalhes em dourado no decote e mangas levemente bufantes. Prendi os meus cabelos em um penteado semi preso com um laço de fita amarrando as mechas da frente, para trás. Coloquei meus brincos de pérola e me perfumei como de costume.

Chegando lá me encontrei com o meu namorado, do qual meus pais não tinham conhecimento e me assentei ao seu lado de uma forma que não levantasse suspeitas e nem questionamentos sobre nosso status como casal.

Ele normalmente era quieto e não costumava se abrir comigo. Por mais que fosse bastante bonito e considerado um excelente partido por ser filho de um importante fazendeiro, não despertava a paixão em mim.

Eu o beijava, mas seus lábios não me arrebatavam. Ele me tocava, mas minha pele não arrepiava, ele tomava certas liberdades comigo e à alguns meses atrás até chegamos a cometer o ato, mas não era algo de que eu me orgulhasse ou de que sentisse falta de fazer novamente. Ele insistia de todas as formas para me possuir por mais algumas vezes, e eu cedia por pura pressão.

Sempre da mesma forma, o montava até que ele chegasse próximo do limite e logo ele me empurrava para o lado a fim de aliviar-se no banheiro.
Pelo menos, era algo rápido e não me demandava muito tempo e nem energia.

Logo mais, a missa de posse havia começado e ouvi um cântico de entrada que deu início à procissão.
Adentraram na igreja os acólitos, coroinhas, leitores, o bispo e...

Meu coração parou.

O quê?

Senti um frio na barriga e o suor se formando nas palmas das minhas mãos.

Não... Não pode ser. Isso não é possível!

Meus olhos pairaram sobre aquele homem de semblante fechado. Ele usava uma batina negra que cobria todo o seu corpo, era larga mas uma faixa da mesma cor lhe marcava a cintura, e suas mãos estavam encobertas por luvas de couro legítimo.

Me demorei admirando- o. Por muito tempo imaginei como seria reencontrá-lo depois de crescido mas nem em mil anos imaginaria que ele fosse ser tão... Tão...

Meu peito disparou e me afundei no banco de madeira ao vê-lo de frente para mim naquele altar.

Não consegui raciocinar em mais nada e por um bom tempo esqueci que estava acompanhada. Só queria ir até lá e me lançar em seus braços, provar do seu gosto.

Ele olhava na direção da paróquia mas não pareceu me reconhecer. Até que em um dado momento, quando foi iniciada a leitura da Bíblia, Peter sacou um óculos de armação de metal com lentes arredondadas e colocou sobre seu rosto.

Ao mirar para a frente novamente, seu olhar se encontrou com o meu. Ele franziu o cenho como se não acreditasse no que estava vendo. Quando percebeu, seus ombros caíram instantaneamente e seus lábios entreabriram-se. Sua respiração estava entrecortada e suas bochechas coraram-se no mesmo momento.

Engoli em seco e nem por um instante consegui desviar a minha atenção daquele homem.Tudo o que sabia sobre autocontrole foi apagado da minha mente e todos os meus pensamentos voltaram à aquela noite em que nas pontas dos pés lhe toquei os lábios. Aqueles lábios convidativos que faziam com que mordesse os meus involuntariamente.

— Georgiana?

— Hum?

— A missa acabou, vamos?

Havia combinado de ir até a casa do meu namorado a fim de passarmos algum tempo juntos, mas nada do que ele estivesse para me oferecer era mais instigante ou mais importante do que eu estava prestes à fazer.

— Pode ir na minha frente Noah, eu tenho que fazer algo antes...

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Confissão proibida de Georgiana Crane (OS CRANE- PHILOISE). Onde histórias criam vida. Descubra agora