O carro seguia balançando pelas estradas de pedra enquanto as rodas desgastadas passavam por buracos e desníveis no caminho. Dentro dele, uma cena que parecia normal, mas já beirava o insuportável: Pony, suas duas irmãs, e sua mãe estavam espremidas no pequeno veículo. Na frente, a Sra. Gibben dirigia com a expressão tensa, a mandíbula cerrada como se cada segundo estivesse a um passo de explodir. Atrás, uma atmosfera ainda mais pesada se desenrolava.
Dresses Gold, a mais velha das irmãs, estava cantarolando uma música irritante, aquela que sempre fazia questão de repetir quando queria chamar atenção. Ela olhava para o espelho retrovisor, observando a reação de Pony, como se estivesse esperando uma explosão.
— *Lá-lá-lá... Ouro e seda, ouro e seda...* — cantarolava Dresses com a voz estridente, enquanto alisava o cabelo dourado.
Pony estava encostada no vidro da janela, o corpo mole de tanto tédio. Fechava os olhos, tentando ignorar, mas a voz de Dresses penetrava seus ouvidos como uma agulha afiada. O tempo todo, sua mente vagava, pensando em como seria o jantar, em como sua mãe parecia mais estressada que o normal, e como aquele passeio havia sido uma ideia ruim.
— *Ouro e seda... Vou ser a mais bela do reino...*
Foi então que a Sra. Gibben, sem aguentar mais, perdeu o controle.
— CALA ESSA BOCA, DRESSES!
O grito explodiu no carro, cortando o ar como um raio. O impacto foi imediato. Dresses se calou no mesmo segundo, seus olhos se arregalando enquanto ela se encolhia no banco, claramente surpresa com o surto da mãe. Pony não pôde evitar um pequeno sorriso de satisfação ao ver sua irmã finalmente silenciada.
O carro ficou mergulhado em um silêncio desconfortável. A Sra. Gibben respirava pesadamente, como se estivesse lutando para se acalmar. Pony desviou os olhos para a janela, tentando se perder na paisagem que passava. O silêncio não durou muito, entretanto, pois logo o carro deu uma freada brusca, balançando todos dentro dele. Haviam chegado.
Quando saíram do carro, Pony percebeu algo estranho. Eles não estavam em casa ainda. À sua frente, um grande edifício se erguia — sujo, com as janelas quebradas e um jardim que parecia abandonado há anos. O letreiro em cima da entrada lia: **Orfanato Cristal Sombrio**. Pony olhou confusa para a mãe, mas a Sra. Gibben simplesmente fez um sinal para que elas esperassem no carro e saiu em direção ao prédio.
Dresses olhou para Pony e riu, achando graça da confusão estampada no rosto dela.
— O que você acha que ela vai fazer? Adotar mais uma irmãzinha? — provocou, cutucando Pony com o cotovelo.
Pony ignorou, focando na figura da mãe, que desapareceu pelas portas enferrujadas do orfanato. O tempo parecia se arrastar. Depois de alguns minutos, a porta se abriu novamente, e a Sra. Gibben apareceu. Mas ela não estava sozinha. Ao seu lado, caminhava uma garota de cabelos loiros e mexas verdes aqua e olhar afiado. Ela tinha a mesma idade de Pony, talvez um pouco mais velha, e exibia uma expressão de superioridade como se fosse a dona do mundo. A garota entrou no carro sem sequer olhar para as outras.
— Essa é Starty — disse a Sra. Gibben, com um tom seco. — A partir de hoje, ela vai morar com a gente.
O jantar naquela noite foi um desastre.
Pony tentou se manter neutra, apesar da presença de Starty incomodar. A mesa estava posta com pratos simples: macarrão, pedaços de pão e uma tigela de salada que ninguém queria tocar. Dresses, como sempre, estava ocupada falando sobre seu último projeto de moda, e a mãe de Pony parecia distraída, focada em algo que ninguém podia entender.
Starty, por outro lado, estava concentrada em uma única coisa: humilhar Pony.
— Então, Pony... — Starty começou, com um sorriso maligno nos lábios enquanto girava o garfo entre os dedos. — Como é ser uma ridícula?
Pony ergueu o olhar, confusa, enquanto mastigava um pedaço de pão. O comentário veio do nada.
— Como assim? — respondeu ela, tentando soar desinteressada, mas já sentindo a tensão crescer no estômago.
Starty deu uma risadinha sarcástica.
— Bem, eu pensei que fosse óbvio. Você é uma piada. Olha só para você. Sempre quieta, sempre na sombra das suas irmãs. Você nem sabe quem você é. Que patética.
O silêncio tomou conta da mesa. Dresses olhou de esguelha, divertindo-se com a cena. A Sra. Gibben não disse nada, o que surpreendeu Pony. Será que sua mãe estava realmente de acordo com aquilo? O estômago de Pony revirou, mas ela ficou quieta, não queria causar mais problemas.
O jantar terminou rapidamente depois disso, e as duas irmãs foram mandadas para um passeio juntas — uma tentativa fracassada de forçá-las a se aproximar.
Elas caminharam pelas ruas movimentadas da cidade, o silêncio entre elas tão pesado quanto chumbo. A noite estava fria, e as luzes amareladas dos postes iluminavam os cascos das éguas e pôneis que passavam apressados. Pony olhou para Starty, tentando encontrar algum resquício de humanidade naquela nova "irmã", mas tudo o que encontrou foi arrogância.
— Você realmente acha que pode se encaixar, não é? — Starty finalmente quebrou o silêncio, com o mesmo tom de desprezo que usara no jantar.
— Não sei do que você está falando — Pony murmurou, tentando ignorá-la.
— Claro que sabe — Starty se aproximou, sua voz agora baixa, quase um sussurro cruel. — Você é uma ridícula, Pony. Uma ridícula, idiota, vadia. Olha para você, tentando ser alguém que não é. Você nunca vai ser nada além de uma sombra. E sabe do que mais? Ninguém se importa com você.
As palavras de Starty eram afiadas como lâminas, cortando profundamente. Pony tentou responder, mas as palavras ficaram presas na garganta. Ela olhou ao redor, sentindo-se cada vez mais sufocada pela multidão de pôneis tristes e aborrecidos que passavam por elas. Antes que pudesse reagir, Starty deu um empurrão sutil em seu ombro e se afastou, desaparecendo na multidão.
Pony ficou parada ali, sozinha. O frio da noite parecia envolver seu corpo, e por um momento, tudo o que ela queria era gritar, correr atrás de Starty e fazer algo, qualquer coisa, para mostrar que não era tão fraca quanto parecia. Mas ela não fez. Ficou ali, sentindo o peso das palavras de Starty se acumularem em seus ombros.
Ela olhou ao redor, tentando encontrar um caminho de volta para casa, mas tudo parecia confuso. As ruas pareciam se esticar em todas as direções, cheias de pôneis sem rosto que passavam apressados, sem se importar. Pony se sentia invisível, exatamente como Starty dissera. As lágrimas começaram a se formar em seus olhos, mas ela as segurou com força.
Não. Ela não ia chorar.
Sozinha em meio à multidão, Pony começou a andar, sem saber exatamente para onde ir.
Pony olha para o lado e ve sua casa, quando ela vai se aproximar, secretamente uma unicórnio a segue,sem fazer Pont perceber,ela toca em seu ombro com o dedo timidamente...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Não tente
Mystery / ThrillerEm lugares de seres que a humanidade ainda não sabiam que faziam tal coisa,onde o impossível é rotina, *Pony* vive uma vida cheia de caos, confusões e, claro, muitas professoras problemáticas. Em sua 1000ª reencarnação, Pony, uma jovem pônei com um...