Único

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Meus parceiros sempre tentavam me alertar: "Anjos não podem ficar com demônios". Eu sabia disso, claro. Sabíamos disso. Mas mesmo assim, decidimos ignorar as leis do maior e soberano Deus.
Era impossível negar o que sentíamos, e por algum tempo, acreditamos que nosso amor poderia superar qualquer regra divina.

Naquele dia em que estávamos tão felizes com sua mudança para a minha casa — nossa casa —, eu me senti mais próximo de algo que eu, como demônio, nunca imaginei alcançar: a felicidade verdadeira. Só precisei sair por algumas horas para resolver pendências, e durante esse tempo, ouvi seu chamado. Seu nome ecoava na minha cabeça. Mas relevei, achando que era apenas seu jeito carinhoso de querer que eu voltasse logo. Você sempre era tão manhoso, insistindo que eu podia deixar tudo para depois.

Quando Namjoon entrou abruptamente na minha sala, sem ao menos bater na porta, já soube que não era coisa boa. Ele nunca fazia isso. As palavras dele foram como um golpe: "Há anjos tentando levar Jimin de volta à força, para o lugar de onde ele suplicou para sair." Meu coração, que eu nem tenho mais, parou por um segundo. A ideia de você, forçado a retornar para aquele lugar, onde você chorou, lutou para escapar, me rasgava por dentro.

Rapidamente abri um portal, o mais rápido que pude, e quando cheguei na nossa casa, o cenário me paralisou. Lá estava você, ensanguentado, as roupas rasgadas, encolhido em um canto, parecendo uma criança com medo de um monstro. A dor que senti foi insuportável, mesmo para um ser como eu. Corri até você, gritando seu nome, esperando que, de alguma forma, você voltasse para mim. Mas tudo que você fazia era murmurar meu nome, encolhendo-se ainda mais, como se tentasse desaparecer.

Desespero tomou conta de mim. Tentei usar meus poderes para curar suas feridas, tentei te salvar. Arranquei do meu próprio sangue para te dar, na esperança de que ele pudesse restaurar sua força. Mas nada adiantava. Cada tentativa era como uma gota de esperança que se evaporava no ar. E então, a verdade me atingiu como um golpe fatal: seu destino já estava selado. Ou talvez fosse o meu. Eu não sabia mais.

Com lágrimas nos olhos, tirei você do meu colo e me ajoelhei.
Pela primeira vez, um demônio — um anjo caído, manchado pela escuridão — se ajoelhou diante de Deus.

Eu implorei. Implorei para que Ele, na Sua infinita misericórdia, não te deixasse partir. Não poderia perder você, não assim.

Mas, mesmo sendo o Todo-Poderoso, Ele não pôde te salvar. A sua história final já estava escrita antes mesmo de termos a chance de mudá-la.

E ali, enquanto você se afastava lentamente de mim, eu chorei. Pela primeira vez em eras, minhas lágrimas caíram — negras, como o abismo que existe dentro de mim. Lágrimas que nunca imaginei que teria. E se eu tivesse voltado quando ouvi seu chamado? Será que teria feito diferença?

Agora, resta apenas o vazio, e o eco do seu nome, com todo o amor da vida,
Seu demônio.

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Escrevi aleatoriamente, espero que tenham gostado!

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