Capítulo 6

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Capítulo 6

Salvatore deixou o estúdio de dança com passos firmes, mas a mente turbulenta. A noite envolvia a cidade em um manto escuro pontilhado pelas luzes urbanas. O ar fresco não era suficiente para acalmar a tempestade dentro dele. O beijo em Thamy havia despertado sentimentos que ele julgava enterrados, e a luta interna entre o dever e o desejo o consumia.

Ao chegar em casa, uma imponente mansão cercada por altos muros e seguranças discretos, ele notou que as luzes da sala ainda estavam acesas. Entrou sem fazer ruído, mas os sons de risadas e copos brindando denunciaram a presença de seus irmãos. Vincenzo e Marco estavam esparramados nos sofás de couro, com garrafas de whisky sobre a mesa de centro.

— Olha só quem chegou — disse Francesco, o irmão do meio, com um sorriso astuto. — Estávamos nos perguntando onde você estava.

Salvatore fechou a porta com um leve estalo, lançando um olhar frio na direção deles, e caminhou até eles, até a mesa, para servir-se de um copo de uísque.

— Não devo satisfações a vocês — respondeu secamente, virando o líquido âmbar de uma vez. Marco, o caçula, ergueu as sobrancelhas, surpreso com a aspereza do irmão.

— Calma, Salvatore. Só estamos preocupados. Você anda diferente ultimamente. Algo está acontecendo, e talvez seja bom você se abrir conosco.

Salvatore sentiu a raiva borbulhar. A última coisa que queria era uma intervenção familiar. Ele tinha assuntos mais importantes para resolver, conflitos internos que nem ele conseguia compreender completamente.

— Vocês só precisam cuidar dos assuntos da organização — retrucou, elevando o tom de voz. — Minha vida pessoal não é da conta de ninguém.

Vincenzo trocou um olhar preocupado com Marco. A tensão no ar era palpável. Salvatore raramente perdia a paciência daquele jeito, especialmente com os irmãos.

— Somos família, Salvatore — insistiu Marco, levantando-se. — Se algo está te incomodando, queremos ajudar. Estamos preocupados com nosso Don.

— Preocupados? — Salvatore soltou uma risada sem humor. — Se querem fazer algo útil, certifiquem-se de que nossos negócios estejam em ordem.

Sem esperar por uma resposta, ele se virou e subiu as escadas com passos pesados, deixando os irmãos em silêncio na sala. No corredor do segundo andar, a luz suave dos abajures iluminava os quadros antigos pendurados nas paredes. Enquanto caminhava em direção ao seu quarto, a porta do quarto de sua mãe se abriu. Dona Isabella surgiu, vestindo um robe de seda, os cabelos grisalhos cuidadosamente presos.

— Salvatore? — ela chamou, surpresa ao vê-lo. — Está tudo bem, meu filho?

Ele fechou os olhos por um instante, tentando controlar a irritação que ainda o consumia.

— Estou bem, mãe. Só quero descansar.

Ela o observou atentamente, notando as sombras em seu rosto, a tensão em seus ombros.

— Você parece preocupado. Quer conversar?

Algo dentro dele quebrou. A pressão do dia, os conflitos internos, a culpa que carregava — tudo veio à tona. Sem conseguir conter a irritação, ele respondeu com mais dureza do que pretendia.

— Eu não preciso que ninguém se meta na minha vida! — As palavras ecoaram pelo corredor vazio.

Dona Isabella permaneceu em silêncio, seus olhos fixos nos dele, cheios de uma mistura de preocupação e desapontamento. O peso daquele olhar fez Salvatore perceber o quão grosseiro havia sido. Ele suspirou profundamente, passando a mão pelos cabelos escuros.

Salvatore Romero: Dançado com o perigoOnde histórias criam vida. Descubra agora