Capítulo 1 - The Letter

323 16 3
                                    

-- Sophie White --

No momento que a aeromoça anuncia a chegada em Londres, tento recapitular todo o meu itinerário e as minhas falas ensaiadas. Nem nervosismo chega a ser a palavra correta para me definir no momento. Os meus dedos tamborilam os joelhos, enquanto as minhas pernas balançam sucessiva e ininterruptamente, provavelmente embravecendo o senhor que está sentado ao meu lado.

Tento respirar fundo e manter pensamento positivo. Não custa tentar, todo mundo passa por algo assim pelo menos uma vez na vida, é o que a minha consciência grita desde o momento que eu embarquei. O medo de falhar é constante, não tem apartá-lo de mim. O que resta é enfrentar todas as situações com coragem, ou como o meu psicólogo idiota sempre dizia, matar um leão a cada dia.

Passei a maior parte da minha infância e adolescência me preparando para este instante, certamente não é agora que eu vou recuar. Gastei anos tentando entender o motivo pelo qual ele me abandonou. No fim, não encontrei nenhuma resposta plausível. Ele simplesmente não me quis. Bem, acontece nas melhores famílias.

Uma vida inteira com isso assombrando a minha mente custou anos de tratamento no Dr. Eller, mas com muito esforço, consegui converter a carga emocional que guardava por conta da ausência paterna em energias positivas. Eu creio que essa jornada sirva para dar um fim em uma lacuna que há em minha vida. Não guardo mais mágoa alguma do meu pai, só desejo vê-lo e esclarecer qualquer divergência que possa haver entre nós.

Simultaneamente, as palavras da carta continuam soltas pela minha mente. A morte da minha mãe me afetou muito, ela era o meu ponto de equilíbrio. São estas duas situações de afastamento impactantes que me trouxeram até o outro lado do atlântico em busca do meu suposto pai. O mesmo pai que me abandonou. Aquele que nunca se importou em saber notícia qualquer sobre a sua única filha. 

Faz uma semana que a minha mãe se foi. Minha mãe que era a minha única família. Nunca conversamos a fundo sobre o meu progenitor. A primeira e única vez que tentei falar sobre isso ela ficou nervosa e disse que eu não deveria me importar com isso, depois disso nunca mais mencionei nada sobre ele.

-- 1 mês atrás --

Acordo ao ouvir a campainha sendo tocada furiosamente. A contragosto levanto do calor da minha cama para enfrentar quem quer que esteja do outro lado da porta.

Jenna, amiga de minha mãe e uma das poucas pessoas próximas de mim que restaram, aparece do outro lado do olho mágico com a sua feição usual de impaciência.

- Oi mini L - disse ela. Quando eu era pequena ela me chama assim, pois me achava igual à minha mãe, Laura. Há anos que ela não me chamava assim. Mas agora é só um modo de lembrar da mamãe.

- Olá Jen - falei depositando dois beijinhos nas suas bochechas. - Entra, vou fazer um chá.

- Não precisa querida,só passei para te entregar isso. - ela me disse entregando um papel tirado da sua bolsa. - A sua mãe me pediu para lhe dar essa carta quando aquilo acontecesse.

Ela só deixou a carta e foi embora. Fiz um chá para mim e me sentei nas escadas para ler a carta.

" Querida Sophie,

Eu queria fazer uma carta bonita para você, mas eu quero evitar o drama e possíveis choros copiosos, então vou direto ao assunto.

Lembra quando era pequena e curiosa, e vivia me perguntando sobre seu pai? Eu fui muito rude com você, pois não queria que visse ele. Ele me machucou muito quando eu era jovem e não queria que você sofresse também. Eu sempre evitei que você tivesse contato com ele por puro medo e egoísmo meu.

Estaria mentindo se dissesse que gostaria que o conhecesse, mas isso não deixa de ser direito seu. Creio que já esteja na idade que seguir a própria vida, e devido a situação atual, mais do que nunca.

Não é um pedido final, ou algo do tipo. Desejo a sua felicidade acima de tudo. Escolha o que a faz feliz, e sempre siga o seu coração.

Eu vi ele recentemente em um noticiário, ele continua lindo. Ele mora em Londres com sua nova (nova nada, pois não fomos casados) esposa e seu enteado. O nome dele é Robert James Watson. Não sei se ele ainda lembra de mim, pois o que tivemos foi um caso passageiro. Mas nunca tive a chance de agradecer a ele por ter tido você. Espero que me entenda. Se você não quiser conhecer ele, não tem problema. Saiba que mesmo quando eu não estiver aí você tem com quem contar, seu tio e a Jen podem não conseguir dar o amor de uma mãe, mas eles te amam tanto quanto eu, e não tenha dúvida disso.

Com o maior amor do mundo,

Mamãe."

--1 semana atrás--

Eu já pesquisei tudo que eu precisava sobre o meu pai. Eu nunca iria saber quem era sem a ajuda da tia Jen. Ela e a minha mãe estudaram em Oxford assim como ele. E ela o reconheceu na hora que colocou os olhos na fotografia.

Só resta acertar os papéis da venda da casa, eu tive que ser muito forte para aguentar tudo isso. Não poderia mais morar lá, cada canto me lembrava dela. Usei uma pequena parte do dinheiro para ir até Londres. Mesmo que a tia Jen tenha insistido pra ela pagar para mim eu não aceitei. Eu tinha que aprender a resolver a minha vida sozinha.

Estou encaixotando as minhas coisas quando a campainha toca desesperadamente e eu me assusto deixando metade dos meus livros acaba caindo da cadeira na qual eu os deixei.

Abro a porta esperando ver (como sempre) a tia Jen, porém quem aparece na porta é o tio Steve. Ele é o irmão mais novo da mamãe. Ele sempre foi um irmão pra mim também, pois apesar de ser mais velho do que eu, agia como se fosse mais novo que eu.

- Bom dia Sophie- Ele disse depositando um beijo na testa.

- Bom dia - respondi.

- Tenho boas notícias! - Ele gritou da cozinha.- Sabe o meu amigo Ed? Aquele que tem um bigode estranho?.

Balancei a cabeça em negação.

- Bom, ele tem um vizinho, que tem uma namorada, que tem uma tia que mora em Londres.

- Ok. E onde eu entro nessa história? - Indaguei bocejando.

- Ela contou a sua história de ir procurar o pai e a tia dela se comoveu e vai emprestar o loft dela por quanto tempo você precisar! É um bairro meio perigoso, mas não tanto - Ele falou com os braços levantados como se tivesse feito a maior descoberta da humanidade.

- Eu não preciso de apartamento de um desconhecido tio Steve. Você sabe que em Londres tem várias amigas da tia Jen e da mamãe que moram em lugares bem mais confortáveis que um loft. E elas todas elas me ofereceram lugar para ficar sem nem mesmo perguntar o que eu estaria fazendo lá. Porque eu ia sentir um pouco de invasão de privacidade em ficar na tia da namorada do vizinho do seu amigo. - Falei.

- Eu entendo Sophie. Só queria ajudar. Quando a Lauren se foi, eu me senti meio responsável por você. Mesmo você já sendo maior de idade, eu queria cuidar de você. E ainda quero. E essa sua ida repentina para a Inglaterra me preocupa. Passou muito pouco tempo desde que ela faleceu, e eu acho que você deveria ficar mais um pouco aqui em Boston para se recuperar. Se quiser pode ir para a Califórnia comigo. Eu sempre vou estar te esperando minha Sophie. - Ele disse.

As suas palavras tornaram impossível de segurar as lágrimas. O tio Steve era a família que me restava. Eu não me importo com meu pai, não sei como ele é. Não sei o que ele gosta de comer, não sei qual o seu esporte favorito, não sei se ele tem algum animal de estimação, não sei de nada. Já sobre o tio Steve eu sei tudo. Ele foi a minha figura paterna. Mesmo depois que eu me mudei para Boston com a mamãe, ele conversava comigo todas as noites.


Searching For YouOnde histórias criam vida. Descubra agora