Hey, Sinclair. | Wenclair

01 - Satisfação

Wednesday Addams
Point Of View;

Eu havia chegado à Nevermore há algumas semanas, e tudo o que esse lugar tinha a oferecer era o que já esperava: paredes antigas, corredores silenciosos e rostos tão sem graça quanto monótonos. A única coisa que não planejei foi a inquietação que Enid Sinclair começou a provocar em mim. Tão insuportavelmente vibrante, com sua risada irritantemente contagiante e seu otimismo patético. Eu deveria detestá-la. E, de certa forma, eu detestava... mas também, por mais perturbador que fosse admitir, eu estava inexplicavelmente fascinada.

Havia algo em sua energia que me atraía, e isso me enfurecia. Como alguém tão colorida, tão viva, conseguiu despertar algo em mim? Não que eu fosse uma expert em emoções humanas, mas percebi o suficiente para entender que isso era... uma espécie de atração. Uma fraqueza que eu detestava. E como se isso já não fosse suficientemente irritante, havia Ajax Petropolus. O górgona, com seu humor e sua imbecilidade, estava sempre perto de Enid, exibindo um relacionamento nauseante de afeto público. Patético.

Oportunidades surgem para quem sabe esperar, eu pensava comigo mesma, enquanto passava meus dias observando de longe, sempre atenta. Não que eu fosse fazer algo. Não, isso seria... emocional. Mas o universo tem uma forma interessante de brincar com o destino. Na biblioteca, cercada por livros antigos e poeira acumulada, encontrei mais do que a paz habitual.

Ouvi passos rápidos e abafados. Curiosa — e, admito,  um tanto intrigada pelo movimento incomum —, escondi-me entre as estantes. Movimentos furtivos sempre trazem segredos. O som de beijos chegou aos meus ouvidos. Ridículo. Quem teria a audácia de violar o silêncio perfeito da biblioteca com algo tão banal quanto afeto físico?

Inclinando a cabeça ligeiramente, espreitei pela borda dos livros e o que vi foi, para minha surpresa, mais interessante do que eu esperava: Ajax, beijando outra garota. Não uma qualquer, mas uma estudante desconhecida que, claramente, não era Enid.

Por um breve momento, senti uma onda de indignação.

Como ele ousava trair Enid?

Mas logo, um sorriso imperceptível se formou dentro de mim. Isso era... perfeito. Minha mente já trabalhava em alta velocidade. Chamei Thing com um simples movimento. Ele entendeu na hora. Em poucos segundos, o celular estava em sua posse, e o flash da câmera estava desativado. Com um cálculo preciso, tirei a foto exata: Ajax e a garota que não tinha visto o rosto ainda, perfeitamente enquadrados, rostos nítidos, envoltos em uma traição clara.

Isso não era só um flagrante, era arte.

Com a imagem capturada, o próximo passo foi natural. Não que eu precisasse de ajuda, mas havia uma certa satisfação em colaborar com alguém que também desejava o fim daquele romance ridículo. Yoko, sempre demonstrou uma leve aversão por Ajax.

— Yoko, tenho um trabalho para você — disse sem rodeios, quando a encontrei em seu quarto. — Precisamos que essa foto chegue às pessoas certas.

Yoko sorriu, claramente satisfeita com a oportunidade. Em minutos, havíamos criado uma conta anônima no Instagram. Nada de informações pessoais, nada de rastros. Apenas uma única postagem, destinada a cumprir seu objetivo: destruir o que Ajax e Enid chamavam de relacionamento.

Publicamos a foto e, em pouco tempo, os rumores começaram a circular pela academia. O caos se espalhou como fogo em um campo seco, exatamente como eu havia planejado. Não era sobre prazer, não era sobre vingança. Era sobre amor.

No silêncio do meu quarto, olhei pela janela. O céu estava escuro, carregado de nuvens. Tudo estava no lugar. O caos estava à solta, e eu me sentia... satisfeita.