Capítulo 37
Isso de eu ir ver a minha série ontem acabou por se revelar uma desculpa. Fiquei até tarde a comer gelado e oreo a olhar para as fotos que tenho com o Harry no meu computador. Ou seja, todas as selfies que tirámos desde que nos conhecemos.
No metro, nas estações, em Hyde Park, em todo o lado.
Eu devia eliminá-las, mas algo me impede. Eu não as quero eliminar, nem por todo o dinheiro deste mundo.
Acho que quero ficar com elas aqui, porque tudo o que nós temos ainda está preso ali, naquelas fotografias. Lembro-me da história de cada uma delas. Gostava mesmo que estivéssemos noutra altura, ou noutro sítio onde ainda estivesse agarrada aos braços dele, onde ainda me sentisse amada.
Agora tudo o que fizemos e tudo o que tivemos não passam de uma estúpida memória.
Acho que haveria muita coisa que ficava feliz por esquecer.
Ontem deitei-me às cinco da manhã. Estive a acabar o meu quadro, a pensar nele, depois voltei ao quadro, depois às fotografias, a pensar nele e no que aconteceu...okay. Ontem acabei por ver apenas um episódio da série.
Hoje acordei ao meio dia e decidi ir passar o dia sozinha.
Fiz uma mega sandes para o almoço e saí.
Eu sei que devo ser a única anormal a pensar isto, mas acho que o tempo no inverno é super confortável e muito bom para ir dar um passeio.Estou na estação agora e lembro-me tirar o telemóvel para ouvir música. Ainda tenho a nossa foto como ecrã de bloqueio.
Basta isto para me derreter e fazer com que eu pare quando estou a entrar para o comboio.
Apercebo-me de onde estou e entro.
Sento-me num lugar vazio. O comboio está cheio de gente. Deve estar tudo a dirige-se para Heathrow para ir visitar a família.
Vejo uma velha a precisar de lugar, por isso cedo-lhe o meu.
Ela tem os olhos verdes. Verdes como os do Harry. Acho que estou a olhar para os olhos dela há algum tempo, por isso levanto-me de imediato quando o comboio decide parar...quando o comboio para é só a pior altura para estar de pé (especialmente não se estando amarrado), porque o metro para num lado e o meu corpo noutro. Ya, basicamente eu Caio neste momento.Mas alguém me agarra.
Eu olho para cima para ver quem é.
Um rapaz de olhos verdes (Harry...) e cabelo castanho liso agarrou-me.
Xx: estás bem?
Eu: sim, Obrigada.
Xx: pelo quê?
Eu: por me agarrares.
Xx: oh, não agradeças.
Eu sorrio-lhe, viro-me e agarro-me num poste.Please mind the gap between the train and the platform.
Não sai ninguém. Uau, vai mesmo toda a gente para o aeroporto.
O rapaz aproxima-se de mim.
Agora está demasiado próximo.
Xx: qual é o teu nome?
Eu: Beatrice.
Xx: giro.
Eu sorrio-lhe outra vez e avanço para outro poste. Ele é mais alto do que eu.Ele avança ao mesmo ritmo que eu e coloca o seu braço por cima da minha cabeça. Encosta-se mesmo contra mim.
Eu: não suportas uma tamp, pois não? - quero divertir-me um bocado com a reação dele. Na minha cabeça ainda tenho namorado.
Ele morde o lábio e revira os olhos.
Xx: sou o Peter, Beatrice.
Eu: não me lembro de te ter perguntado alguma coisa.
Peter: és daquelas que se fazem de difíceis, não és?
Eu: não. Olha, eu ia sair na próxima estação, por isso se me Deixasses passar, eu agradecia.
Ele agarra-me nas ancas e puxa-me contra ele.
Peter: não.
Eu piso-o e ele larga-me. Vou mesmo para ao pé da porta e saio.
Só espero que ele não me siga.Subi para Green Park.
Adivinhem quem me seguiu?
Eu: deixa-me em paz, se não eu chamo a polícia.
Peter: pronto, okay. Eu fui rápido de mais. Desculpa.
Eu reviro os olhos.
Eu: pronto, okay, mas agora baza.
Peter: posso fazer-te companhia?
Eu: "agora baza", tipo...
Peter: vá lá.
Eu: olha, eu mal te conheço. Podias ser algum serial killer, não?
O Peter ri-se.
Peter: haverá sempre essa hipótese, não é?
Eu rio-me com ele.
Eu: conheces a história da Branca de Neve, não conheces?
Peter: não...
Eu: eu conto-ta... - e fomos os dois pelo parque. Quem é que eu quero enganar? Preciso de alguém, alguém que me ouça sem me julgar.(...)
Peter: Beatrice?
Eu: sim?
Peter: o que vieste fazer sozinha?
Eu: ahh...
Peter: sim?
Eu: eu queria desanoviar um bocado.
Peter: sabes que Londres é uma cidade perigosa, podem raptar-te.
Eu: olha lá, mas tu pensas que eu tenho quantos anos?!
Peter: 15?
Eu: 17!
Peter: hm.
Para um velho, ter 15 anos é um elogio, mas para mim não.
Eu: e tu?
Peter: eu tenho 22.
Eu: Uau.
Peter: o quê?
Eu: pareces mais novo.
Peter: oh, Obrigada.
Eu sorrio-lhe.Eu: olha, é melhor ires andando, então.
Peter: porquê?
Eu: desculpa, mas tenho uns assuntos para tratar.
Peter: tudo bem. Podes dar-me o teu número?
Eu: claro! - dou-lho, mas com o número 5 no final. - Liga quando quiseres. - Não o quero voltar a ver. 22?! A pedir o número a uma pita de 17? Isso para mim já é pedófilia.Apanho o metro para Oxford Street (claro que não é longe de onde eu estou, mas estou de férias e não vou trabalhar). Sinto que desde que cheguei esta rua tem sido o sítio onde passei mais tempo em Londres. Podia ir mais vezes para o lado de Westminster, mas não me apetece.
Passo pela estação que dá para Piccadilly, mas...desvio-me para Paddington.
Eu sei que sou parva, eu sei. Parece que faço de propósito para chorar por ele.Chego àquela avenida dos hotéis, onde está o grande jardim no meio.
Foi aqui. Foi naquela noite. Eu lembro-me de cada pormenor.
Lembro-me do embaraço do Harry quando me viu menos bem vestida do que ele.
Lembro-me do momento em que cruzamos as mãos... Do nosso jantar, da nossa noite.O que nos aconteceu?
Sento-me mesmo ali e começo a chorar.
**
Ouço um choro do outro lado também.
O choro de uma miúda.A rapariga que eu ajudei naquele dia em que ele me deixou pendurada. Fiquei mesmo triste com ele...
Eu tenho mesmo de parar de pensar no Harry. Tenho mesmo.Eu limpo as lágrimas.
Eu: o que se passa?
Xx: nada, vai-te embora. - tem o cabelo encaracolado.
Eu: de certeza que não queres...? - fui bruscamente interrompida.
Xx: NÃO! VAI-TE EMBORA!Porque é que eu vejo o Harry em toda a gente?!
Tem o cabelo encaracolado? É o Harry.
Tem os olhos verdes? É o Harry.
Tem cinco dedos em cada mão? É o Harry.
É rapaz? É o Harry.
É pessoa? É o Harry.Fds, a ideia deste passeio não era bem esta.
Vou para casa.**
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Fiksi PenggemarOlá, o meu nome é Beatrice. Nasci em Portugal, mas mudei-me recentemente para o Reino Unido e ainda bem. Aqui os meus pais estão felizes, eu sou feliz. Honestamente, aproveito esta oportunidade para me livrar do meu passado. Aquele que, infelizmemte...